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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Mitos e verdades sobre o câncer de bexiga

  No mês de conscientização da doença, especialista alerta para os sintomas e desmistifica as principais questões sobre esse tipo de tumor

 

Considerado o décimo tipo de câncer mais comum do mundo[1], o câncer de bexiga apresenta boas taxas de cura, mas seu diagnóstico precoce é um grande desafio, uma vez que, em fases iniciais, os sintomas se manifestam de forma branda e acabam sendo negligenciados pelos pacientes. 

Como o atraso na descoberta da doença e, consequentemente, no tratamento, pode aumentar a possibilidade de o tumor avançar e se tornar metastático (quando se espalha para outras partes do corpo)[2], o mês de julho é um marco para conscientizar a respeito do câncer de bexiga, expandindo o conhecimento da população com o objetivo de antecipar o diagnóstico. “Essa conscientização é fundamental para alertar as pessoas a respeito da importância de identificar a doença em estágio inicial para que o paciente comece o tratamento adequado o mais breve possível”, explica Paulo Lages, oncologista com foco em tumores geniturinários na Onco Vida, Instituto Especializado de Oncologia. 

O especialista ressalta que é fundamental ficar atento aos sintomas e procurar ajuda médica tão logo haja a percepção dos primeiros sinais. “É preciso observar a urina e ver se há presença de sangue, além de atentar-se à dor ou queimação na hora de urinar e a mudanças nos hábitos urinários, tanto em relação ao fluxo, como vontade de urinar mesmo com a bexiga vazia e aumento na frequência de idas ao banheiro”, esclarece. 

Abaixo, o médico revela alguns mitos e verdades a respeito da doença:

 

  1. Sangue na urina é o principal sintoma

VERDADE. O sangue na urina é o principal sintoma do câncer de bexiga, presente em 90% dos casos[3]. Porém, não é o único. Outras manifestações da doença podem incluir dor ao urinar, incontinência urinária, vontade de urinar frequente, cansaço, dor abdominal; dor lombar e perda de peso.[4][5] “Quando a urina fica com a coloração diferente, alaranjada, vermelha brilhante ou rosa, é mais fácil de notar. No entanto, nos estágios iniciais o sangue pode ser imperceptível, sendo constatado apenas em exames solicitados pelo médico”, relata Lages.

Além disso, sangue na urina também pode ser sinal de outras enfermidades menos graves, por isso são necessárias outras análises laboratoriais para chegar no diagnóstico.4

 

  1. Câncer de bexiga só acomete os homens

MITO. Apesar da incidência maior em pessoas do sexo masculino - de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA)[6], a previsão é que o câncer de bexiga tenha atingido cerca de 10.640 brasileiros em 2020, sendo 7590 pacientes homens -- as mulheres também podem apresentar o tumor. “Ainda que os homens continuem entre os pacientes mais prevalentes, a incidência da doença em mulheres vem aumentando nos últimos anos muito provavelmente por causa de mudanças no estilo de vida como tabagismo e ganho de peso”, enfatiza o oncologista.

 

  1. Tabagismo é a principal causa

VERDADE. Popularmente associado ao câncer de pulmão, o tabagismo também é o principal fator de risco para o câncer de bexiga[7], estando presente em 50-70% dos casos.[8] Os fumantes têm até quatros vezes mais chances de apresentar a doença em comparação aos indivíduos que não fumam.6 “Sabemos que o cigarro pode liberar um número muito grande de compostos cancerígenos no organismo e esses podem atacar as células do revestimento da bexiga, originando os tumores. Mesmo quem apenas inala a fumaça, ou seja, é fumante passivo, corre risco de desenvolver a doença”, afirma. Outra causa importante é a exposição a agentes químicos, como ocorre com as pessoas que trabalham nas indústrias têxtil e siderúrgica, entre outras.7 

 

  1. Todos os cânceres de bexiga são iguais

MITO. Muitas pessoas desconhecem que o câncer de bexiga é causado por diversas mutações genéticas que variam de pessoa para pessoa. Cerca de um em cada cinco pacientes com metástase tem uma alteração no gene do FGFR (Fibroblast Growth Factor Receptor)[9],[10], por exemplo. Trata-se de uma família de receptores que, quando sofrem alterações genéticas, levam a um pior prognóstico, acelerando o crescimento e a sobrevivência do tumor8,9. “Por isso o médico deve pedir um teste, cujo resultado indicará exatamente em qual gene é a alteração, o que, consequentemente, fará o paciente ser encaminhado para o tratamento mais apropriado”, explica o Dr. Paulo Lages. As principais opções de tratamento para o câncer de bexiga são cirurgia, terapia intravesical (quando os medicamentos são administrados diretamente na bexiga por meio de um cateter), quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapia alvo[11]. Atualmente, as ‘terapias-alvo’ são cada vez mais personalizadas e atacam precisamente as células mutadas, como é o caso de erdafitinibe, para pacientes que não responderam ou tiveram recaída após tratamento prévio com quimioterapia e apresentam a alteração no gene do FGFR. O especialista reforça que, ao escolher o tratamento, o médico vai se basear nas características do tumor e nas particularidades de cada paciente para determinar a opção mais adequada. 

 

  1. Câncer de bexiga tem cura.

VERDADE. Como a maioria dos cânceres, o câncer de bexiga tem cura, principalmente se for detectado no início. “O diagnóstico precoce é muito importante para aumentar as chances de cura, por isso deve-se procurar ajuda especializada desde os primeiros sintomas. A partir do relato do paciente, o médico investiga a presença da doença por meio de exames e, dependendo da agressividade, é possível fazer a remoção do tumor via cirurgia, aumentando muito as chances de cura”, conclui.

 

Entendendo a doença

 

Assim como a maioria dos cânceres, a doença se desenvolve em fases e de maneira progressiva. Quando o tumor fica limitado ao tecido de revestimento da bexiga, é chamado de superficial. No entanto, as células tumorais podem penetrar as camadas mais profundas da parede da bexiga, invadindo a parede muscular e, eventualmente, espalhando-se até os órgãos próximos, gânglios linfáticos ou órgão mais distantes, momento que a doença se torna metastática1,2 

As opções de tratamento vão depender da extensão e do grau de evolução da doença. Existem três tipos de cirurgia que podem ser realizadas: ressecção transuretral (quando o médico remove o tumor por via uretral), cistotectomia parcial (retirada de uma parte da bexiga) ou cistotectomia radical (remoção completa da bexiga, com a construção de um novo órgão para armazenamento da urina posteriormente)2.

Além da cirurgia, a radioterapia pode ser adotada nos tumores mais agressivos como tentativa de preservação da bexiga, e também pode ser necessária a aplicação de quimioterapia, que pode ser administrada na forma intravenosa ou ainda intravesical, quando é aplicada diretamente na bexiga através de um tubo introduzido pela uretra. 2Já na categoria de terapias-alvo, existem também medicamentos orais, que aumentam a comodidade posológica para esses pacientes, evitando a necessidade de deslocamentos frequentes para os centros de tratamento.

 

 

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[1] Oncoguia. Disponível em: Link. 

[2] Ministério da Saúde. INCA, Instituto Nacional do Câncer (Brasil). Link Acessado em 05/07/22. 

[3] Portal da Urologia. Sociedade Brasileira de Urologia. Acessado em: 04/07/2022. Disponível em Link

[4]NHS. [Internet; cited 2019 April 5]. Available from: here

[5]Fight bladder cancer. [Internet; cited 2019 April 5]. Available from: here

[6] Instituto Nacional do Câncer. Acessado em 22/06/2020. Disponível em : Link;

[7] Murta- Nascimento C, Schmitz-Drager BJ, Zeegers MP, Steineck G, Kogevinas M. Epidemiology of urinary bladder cancer: from tumor development to patient s death. Wordl J. Urol. 2007; 25 (3) : 285-95. doi : 10.1007 / s00345-007-0168-5.

[8] Ministério da Saúde. INCA, Instituto Nacional do Câncer (Brasil). Tipos de Câncer. Disponível em Link 

[9] Helsten et al. The FGFR Landscape in Cancer: Analysis of 4,853 Tumors by Next-Generation Sequencing. Clin Cancer Res. 2015 ; 22 (1) : 259-267. 

[10] Tomlinson et al. FGFR 3 protein expression and its relationship to mutation status and prognostic variables in bladder cancer. J Pathol. 2007;213 (1) : 91-98. 

[11] Oncoguia. Disponível em: Link.

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