A linha entre a realidade e a ficção está cada vez
mais tênue. Caminhando a passos velozes, os avanços da inteligência artificial
trazem consigo benefícios enormes para uma maior otimização, segurança de dados
e, até mesmo, divertimento por meio de sistemas cada vez mais interativos. Mas,
quando utilizadas para fins desvirtuosos, podem trazer perigos graves em um
efeito cascata para toda a sociedade.
Em um recente anúncio feito pela Amazon,
atualizações da Alexa permitiriam que este robô imite vozes de qualquer pessoa,
por meio de algoritmos capazes de identificar as entonações e registros únicos
de cada pessoa, após ouvir gravações curtas de áudio. Em um primeiro momento,
se torna curioso e atrativo ter uma inteligência que consiga replicar vozes de
entes queridos que já nos deixaram, amigos com quem temos afinidade ou, ainda,
famosos e políticos que idolatramos. Mas, em uma análise mais profunda, existem
perigos enormes em se apropriar de tais características em quaisquer sistemas
acessíveis à população.
Toda tecnologia traz consigo os dois lados da
moeda. Se tratando especificamente da inteligência artificial, cerca de US$
93,5 bilhões foram investidos para fins privados em 2021 – estimulando uma
imensa geração de emprego neste segmento e em áreas correlacionadas e, assim, o
desenvolvimento de produtos e serviços robustos que tragam facilidades para o
dia a dia da população. Dados e perspectivas inegavelmente positivos, mas,
também, mascarados por riscos que muitos deixam de considerar.
Em uma era polarizada de constantes conflitos de
opiniões divergentes, contar com uma ferramenta que simule vozes de qualquer
pessoa, é a oportunidade perfeita para manipulações de interesses pessoais e
profissionais. Como exemplo mais sutil, um adolescente pode utilizar este recurso
para reproduzir a voz de seus pais ou responsáveis para adquirir algo de seu
interesse. Ou, pensando em cenários mais graves, um defensor político nato pode
criar falas e discursos polêmicos de candidatos contrários a seu partido para
danificar sua imagem, gerar entraves e, ainda, a possibilidade de
desentendimentos sérios.
A disseminação destas fake news,
definitivamente, teriam um poder avassalador que, dificilmente, conseguiriam
ser contidas. Afinal, em meio a um mar extenso de conectividade através de
inúmeras redes sociais e canais de comunicação, se torna cada vez mais complexo
distinguir as informações verídicas daquelas manipuladas.
São poucos os que hoje, buscam compreender a fonte
de cada notícia lida, a confiabilidade de quem a escreveu e, muito menos,
conferir aquele dado em mais de um canal como forma de assegurar sua
veracidade. Opiniões incompletas, superficiais e equivocadas vêm se tornando
cada vez mais presentes, deixando para trás um senso crítico fundamental para a
distinção desses opostos e, como critério de exclusão das tentativas de
distorções.
Qualquer sobrevalorização para informações
compartilhadas em redes sociais, influenciadores ou conhecidos, ao invés de
fontes verídicas e profissionais qualificados, apenas abrirá portas para cada
vez mais conflitos e desentendimentos baseados em dados manipulados e
divulgados para fins egocêntricos. Em ferramentas capazes de simular vozes de
qualquer ser humano, estes cenários podem se tornar ainda mais frequentes –
especialmente, em vista de eventos políticos extremamente importantes, como a
chegada das eleições.
Ainda não temos perspectivas do lançamento do
recurso da Amazon para o público, mas, pouco nos distancia desta realidade.
Para que possamos desfrutar ao máximo das vantagens desta tecnologia, é
essencial aprimorarmos um senso crítico mais refinado, analisando com maior
cuidado toda informação recebida e evitando disseminá-la antes de sua
confirmação. Afinal, a única arma que temos contra tais tentativas distorções é
a nossa capacidade de reflexão acerca do que ouvimos.
Alexandre Pierro - engenheiro mecânico,
físico nuclear e sócio-fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO 56002 na
América Latina.
PALAS
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