Recentemente, um aluno autista de 11 anos foi retirado da sala e colocado no corredor de uma escola pública de Jaguariúna (SP) para fazer uma prova, para não atrapalhar a turma
Trabalhar o Autismo na escola é uma
questão delicada e têm gerado inúmeros debates. Afinal, não existe consenso
sobre o melhor caminho para a inclusão. Enquanto para uns o ensino regular deve
ser adaptado ao aluno portador de TEA (Transtorno de Espectro Autista), para
outros a criação de instituições especializadas é a melhor alternativa para que
esse estudante possa se desenvolver.
Alunos com TEA enfrentam dificuldades
cognitivas e socioculturais, o que geralmente causam estranhamento no ambiente
escolar. Considerando a falta de conhecimento sobre Autismo por parte de
professores e gestores escolares, bem como falhas na estrutura das escolas, nem
sempre a educação atinge o seu máximo potencial.
Para o Defensor
Público Federal André Naves, especialista em
inclusão social, é fundamental para as crianças autistas - assim como para
todas as crianças em fase de desenvolvimento -, que o processo educacional dê
bons resultados tanto na parte acadêmica quanto na formação humana, social e
comportamental.
"A criança que não consegue dar
conta das demandas dos planos de aula fica prejudicada para desenvolver seu
potencial e também em relação aos colegas. E essa dificuldade vai se acumulando
ao longo da vida acadêmica. A falta desse olhar para a necessidade desses
alunos faz com que eles, muitas vezes, repitam de ano e/ou até deixem a escola.
Isso impacta diretamente no seu futuro educacional e profissional", alerta
André Naves.
Exemplos de discriminação
pelo país
O Defensor Público lembra de um caso
recente ocorrido em Jaguariúna (SP), em que um menino autista de 11 anos foi
retirado da turma e colocado no corredor de uma escola pública municipal,
sozinho e isolado, para fazer uma prova, completamente excluído da classe. A
decisão de colocar o aluno no corredor foi do vice-diretor da escola, sob o
argumento de que o estudante estaria atrapalhando a turma. A mãe da criança
flagrou a situação,
gravou um vídeo, publicou nas redes sociais e registrou um Boletim de
Ocorrência na delegacia. A Secretaria de Educação de Jaguariúna abriu sindicância interna para apurar o caso e determinou o afastamento
temporário do vice-diretor durante a investigação.
"A questão é que coordenadores e
docentes, muitas vezes, não têm entendimento sobre o TEA e também não estão
atentos para as adaptações necessárias, em sala de aula, de que esses alunos
precisam. Nesse caso, quando a criança com autismo não responde da mesma forma
que seus colegas, é comum que ela seja punida e não acolhida conforme a sua
forma de se expressar", explica Naves.
Para o Defensor Público, quanto mais
aprofundado for o conhecimento sobre alunos com TEA, suas necessidades,
dificuldades, personalidades e preferências, mais fácil será a adaptação ao
currículo escolar visando o melhor para o seu desenvolvimento. "Além
disso, também é importante que o professor sensibilize a turma para que todos
aprendam a conviver, aceitar e respeitar as diferenças", ressalta.
Barreiras para
PcDs nas escolas
André Naves lembra que não são só os
alunos autistas que enfrentam barreiras nas escolas. Estudantes com diversos
outros tipos de deficiência, sejam físicas ou mentais, também lidam diariamente
com situações que afetam o seu aprendizado.
No Brasil, segundo o IBGE, cerca de 24%
da população têm algum tipo de deficiência. No entanto, apenas 0,5% dos alunos
que estão no Ensino Superior têm deficiência ou possuem algum transtorno do
neurodesenvolvimento, conforme o Censo de Educação Superior do INEP. Isso dá
uma ideia do tamanho da dificuldade que pessoas com deficiência enfrentam na
formação escolar.
"Uma criança que não tem o apoio
dos gestores e professores, nem encontra uma estrutura física escolar adequada
às suas necessidades, não prossegue, muitas vezes, em sua formação educacional
e, assim, não consegue se desenvolver intelectual e profissionalmente",
explica Naves.
Leis garantem
educação e inclusão
O Defensor Público lembra que o direito
à Educação de alunos autistas está previsto no Art. 205 da Constituição
Federal, que determina como responsabilidade do Estado o "atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino".
A participação do aluno do TEA no ensino
regular também é garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que diz:
"O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes regulares de ensino regular"
(art. 58, parágrafo § 2º).
Paralelamente, em 2020, o Governo
Federal lançou a Política Nacional de Educação Especial, que teve por objetivo
orientar e estimular os sistemas de ensino a criarem iniciativas inovadoras e
coletivas, visando a fortalecer a Educação.
"Independentemente de o ensino
acontecer em escolas regulares ou especializadas, dialogar sobre aceitação,
acolhimento, respeito e condições do aluno autista é fundamental. Uma conversa
franca, acredito, é o primeiro passo para minimizar os estigmas e gerar clareza
sobre o tema, na busca de soluções possíveis para a inclusão. Mais do que
estabelecer regras e parâmetros ao se tratar de autismo na escola, quando se
fala em inclusão, o que costuma ser mais efetivo é a criação de uma sólida rede
de apoio envolvendo psicólogos, acompanhantes, professores, pais e a
instituição de ensino", finaliza André Naves.
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