Há um ditado que afirma que “ser mãe é padecer no paraíso”, remetendo às contraditórias emoções que seriam desencadeadas pelas vivências cotidianas da maternidade. Muito se falou e se fala sobre os mitos e fantasias ligados a essa experiência, e atualmente percebe-se um certo enfoque sobre algumas queixas frequentes entre mães, mais especificamente o cansaço. Chega-se ao ponto de cunhar o termo “mommy burnout”, algo como “esgotamento da mamãe”.
A queixa de cansaço certamente não é exclusividade
da parcela maternal da população; no livro A sociedade do cansaço, o filósofo
sul-coreano Byung-Chul Han argumenta que a lógica de produção e exigência
constantes estaria levando as pessoas aos adoecimentos contemporâneos, ligados
a hiperatividade e esgotamento. Em relação ao burnout parental, a prevalência
pode chegar a 20%, segundo artigo publicado este ano. Curiosamente, um estudo
verificou que mães de um único filho podem apresentar mais sintomas de esgotamento
que mães que possuem dois filhos ou mais, a depender da sua percepção de
autoeficácia, muito ligada também ao padrão de cobranças externas.
Fato é que, depois que os filhos nascem, estar
cansada adquire outros significados. Em texto de 2019, Monica Pessanha recorda
que a noite perdida por opção em uma festa passa a ser a noite perdida em
função do choro de uma criança necessitada; a sensação de autonomia ou falta
dela que ocorrerá no processo irá influenciar indubitavelmente nossa relação
com o cansaço. Afinal, o que pode ser mais exaustivo do que sempre colocar as
necessidades de outra pessoa acima das suas?
Com as mudanças nos padrões de relacionamento
interpessoal, a sociedade vem refletindo sobre os estigmas colocados sobre a
mulher e a maternidade. Nesse processo, participam de maneira incontestável os
profissionais da saúde mental, tanto nas terapias individuais quanto nas
discussões coletivas, oferecendo escuta, suporte, oportunidade de mudança de
comportamento e alívio.
Paula Dione - Psiquiatra
na Holiste Psiquiatria
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