Se olharmos os últimos dados
do Banco Central que apontam um crescimento das concessões de desconto de
duplicatas, logo veremos que o título desse artigo faz sentido. Elas atingiram
um patamar de R$ 30,601 bilhões em dezembro do ano passado, o que reflete um
valor 121,4% maior do que o registrado no mesmo período de 2016, quando
chegaram a (R$ 13,816 bilhões). O mesmo aconteceu com a antecipação do crédito
nas faturas de cartão, um aumento de 455%.
O que esses dados têm a nos
dizer? Não é de hoje que os recebíveis (duplicatas, cheques, de cartões)
tornaram-se fundamentais para o financiamento do capital de giro das empresas,
sendo fundamentais e, praticamente, a única opção disponível para a maioria das
empresas, já que com a queda da Selic, as alternativas de investimentos foram
reduzidas e limitadas para o investidor.
Se por um lado o mercado
está passando por um momento de transição, por outro, os seus recebíveis valem
ouro e precisam ser cuidados como uma joia rara. Como em tudo que se refere a
crédito, credibilidade é essencial, ainda que ressoe como um trocadilho infame.
Os bancos, por sua vez, monitoram os seus recebíveis para garantir que não há
alguma fraude no processo.
Neste sentido, tenha cuidado
com as trocas frequentes de títulos. No mercado financeiro, procuramos empresas
cujos títulos “tenham liquidez”, ou seja, que uma vez emitidos, sejam pagos
pelo sacado e não substituídos por outros recebíveis. Reforçando, num mundo em
que o recebível é o melhor – senão a única alternativa para financiar o seu
negócio -, definitivamente você não vai querer colocar sua confiabilidade em
dúvida.
Outro ponto interessante é
que, nem todo título é igual, mas algumas empresas os tratam como se fosse. Por
exemplo, a companhia tem duas duplicatas contra uma poderosa indústria
multinacional e, outra, com uma atacadista nacional de pequeno porte. Logo, são
empresas de risco bem diferentes, cujo apetite de crédito dos financiadores é
igualmente distinto. Então, porque descontar os dois pelo mesmo preço em algum
banco ou FIDC - Fundo de Investimento em Direitos Creditórios?
Se cada ativo seu tem um
risco diferente, este recebível também deve ser descontado por uma taxa
diferente. Infelizmente, todos tendem a ser descontados pela mesma taxa e
balizados pelo risco de pior qualidade. Cedentes e sacados podem e deveriam
negociar bem suas condições de pagamento. Afinal, o sacado com caixa aplica mal
sua liquidez, enquanto que o cedente paga caro pelo capital de giro que toma no
mercado.
Tratando-se de fluxo, é
fundamental que o retorno do investimento seja rápido. Sendo assim, uma maneira
de obter rendimentos instantâneos sobre dinheiro de caixa é negociar melhores condições
de pagamentos e, assim, obter lucro sobre ele, como acontece no adiantamento de
recebíveis feito com o SCF - Supply Chain Financing que, por sua vez,
conecta empresa às outras do mercado, permitindo que haja negociação direta,
sem intermediários.
Camilo Telles é CEO da Antecipa - startup de tecnologia, que
opera um marketplace de antecipação de recebíveis entre compradores e
fornecedores com o foco no caixa do sacado camilo.telles@gmail.com e
Fernando Blanco, consultor e fundador do IDCC - Instituto para o
Desenvolvimento da Cultura do Crédito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário