A
intoxicação ou o envenenamento é a quinta maior causa de internação por motivos
acidentais entre crianças com idade de zero a 14 anos. Segundo o Ministério da
Saúde, em 2019, 3.876 meninos e meninas dessa faixa etária foram hospitalizados
por esse motivo.
Segundo
a Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola
Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de
Psiquiatria), crianças pequenas são intoxicadas, em geral, por produtos que
temos na nossa própria casa. Pode ser medicamentos, produtos de limpeza,
cosméticos, inseticidas, tintas, solventes, entre outros.
“Colocar
coisas na boca e experimentar seu gosto é o modo como crianças pequenas
exploram o ambiente. Isso ocorre em um rápido momento de distração dos adultos.
Em média, 30% dos óbitos acontecem nos meses de janeiro, julho e dezembro,
quando o risco de acidentes domésticos aumenta, incluindo a intoxicação
exógena”, alerta a psiquiatra.
De
acordo com ela, a maioria das intoxicações em crianças pode ser tratada, se for
dado atendimento imediato. “Se achar que seu filho ingeriu algo tóxico, fique
atento aos seguintes sinais e sintomas: manchas estranhas na roupa da criança,
queimaduras nos lábios ou na boca, salivação excessiva ou hálito com odor
forte, náuseas ou vômitos de início súbito e sem explicação, dor abdominal sem
febre, dificuldade para respirar, alterações súbitas de comportamento (sono,
irritabilidade ou excitação). Em casos mais sérios, pode haver até convulsões
ou perda de consciência”, explica Danielle Admoni.
Saiba
como agir nas situações abaixo:
Substâncias
ingeridas
Tire
a substância de perto da criança. Se ainda tiver um pouco na boca, faça com que
ela cuspa. Guarde esse material, embalagens, rótulos, bulas ou qualquer outra
coisa que possa ajudar na identificação da substância. Cheque os seguintes
sinais: dor de garganta importante, salivação excessiva, dificuldade
respiratória, convulsões, tontura ou sonolência excessiva. Na dúvida, nunca provoque
vômito. “Se a substância for muito ácida ou muito básica, provocar o vômito
pode causar piora e nova queimadura das mucosas”.
O
ideal, segundo a psiquiatra, é levar a criança ao pronto-socorro mais próximo,
chamar o SAMU (192) ou o Disque-Intoxicação (0800-722-6001). A ligação é
gratuita e o atendimento é oferecido em quase todo o território
nacional. “Ao ligar, tenha em mãos os seguintes dados: o nome da criança,
idade e peso, e eventuais doenças ou medicações que esteja em uso; o nome da
substância ingerida, e as informações contidas no rótulo; a hora que ingeriu e
a quantidade engolida estimada”, orienta Danielle.
No
pronto-socorro, o tratamento se baseia em quatro itens principais: diminuir a
exposição do organismo ao tóxico, promover a eliminação do tóxico já absorvido,
uso de antídotos e, por fim, medidas gerais e de suporte. “Muitas vezes, é
necessário realizar exames e permanecer em observação por 6 a 12 horas”.
Contato
com a pele
Se
a criança derrubar alguma substância perigosa no corpo, tire toda a roupa e
lave-a com água fria, até retirar ao máximo todo o produto. Se houver
queimadura e esta for leve (aspecto avermelhado) e não surgir bolhas, use
compressas frias periodicamente para aliviar a dor. Pode colocar vaselina
líquida para hidratar e, se necessário, ministrar analgésico. Jamais aplique
qualquer tipo de pomada na queimadura.
Contato
com os olhos
Lave
bem os olhos, com água corrente. Para crianças pequenas, pode ser necessário um
outro adulto para segurá-la. Lave abundantemente e ligue para o Centro de
Intoxicações para receber orientações. Não pingue colírios ou qualquer outra
substância no olho.
Prevenção
‘’Cerca
de 90% dos acidentes domésticos poderiam ter sido evitados com medidas de
prevenção. Por isso, é fundamental orientar as famílias sobre o assunto’’, diz
Danielle Admoni. Além de manter medicamentos e produtos tóxicos trancados e
fora do alcance das crianças, ela cita outras orientações:
-
Não tome medicamentos na frente de crianças, pois elas gostam de imitar os adultos
-
Não chame medicamentos de “balinha”, ou ‘’docinho’’ só para que ela aceite
tomar
-
Cheque o rótulo e a dosagem prescritos, principalmente na madrugada, e com uma
luz acesa
-
Nunca mude a embalagem de um produto, colocando substâncias tóxicas em garrafas
de refrigerante ou latas de alimentos
-
Dê preferência a embalagens de medicamentos que tenham tampas de segurança
-
Não permaneça com o motor do carro ligado em uma garagem fechada. Ao sentir
cheiro de gás, desligue imediatamente e chame a companhia de gás
-
Não ofereça embalagens ou frascos contendo medicamentos para uma criança
brincar. Afinal, remédio não é brinquedo
-
Deixe o telefone do SAMU e do Centro de Intoxicações sempre em local de fácil
acesso, inclusive para babás ou outros cuidadores da criança.
“Redobre
a atenção em visitas a amigos e parentes que não tenham crianças.
Provavelmente, o local não terá os mesmos cuidados que sua casa”, finaliza
Danielle Admoni.