Economia e qualidade de vida estão entre os anseios de quem opta
pelo veículo
Escolher a bicicleta como meio de transporte diário não é mais uma novidade. De
acordo com levantamento
do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o número de
ciclistas que utiliza diariamente uma das duas vias calmas da cidade dobrou em
três anos, passando de 528 para 1.226. Somente de 2015 para 2016, o crescimento
foi de 19,38%. A Perkons ouviu
especialistas no assunto para compreender as razões pelas quais a bicicleta se
revela, cada vez mais, uma preferência para trajetos diários.
A via calma é compartilhada por carros, motos e bicicletas, sendo
caracterizada, em sua maioria, por dar prioridade aos pedestres e estabelecer
limites de velocidade de 40 km/h aos veículos. Ela conta com uma faixa
preferencial para ciclistas, que é demarcada com uma pintura no chão, e pode
ser dividida com outros veículos no momento em que esses precisam fazer uma
conversão, o que exige respeito e bom senso de todos os usuários.
Para o especialista em mobilidade sustentável e diretor da
Green Mobility, Lincoln Paiva, o aumento do número de ciclistas nas
cidades está diretamente relacionado à infraestrutura oferecida, o que inclui a
implantação de vias compartilhadas e a promoção da segurança viária de maneira
geral. “Primeiro é preciso fazer ciclovias; quando as pessoas se sentem mais
seguras, elas começam a pedalar”, afirma. Com o intuito de mapear a estrutura
cicloviária do país, o Mobilize Brasil concluiu que São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília são, hoje, as capitais com maior extensão de vias adequadas ao
trânsito de bicicletas.
Motivado pelo
desejo de emagrecer e incentivado pelas melhorias promovidas para os ciclistas
em Curitiba (que ocupa a quinta colocação no ranking apresentado pelo
Mobilize), Waldeir Santos decidiu, há
cinco anos, desentocar a velha bicicleta. Desde então, é ela que substitui o
carro nos deslocamentos diários e protagoniza, até mesmo, pequenas
viagens. “Imediatamente veio a sensação de liberdade. Comecei a interagir com o
meio onde vivia, cumprimentar as pessoas, ouvir os pássaros e conhecer os tipos
de árvores”, comenta.
Com um trajeto diário de
8km de casa até o trabalho, ele descobriu uma rotina cercada de benefícios. “Vi
que levava apenas alguns minutos a mais do que de carro e com muitas vantagens,
sendo as principais economia e diminuição do estresse do trânsito. Além disso,
a bicicleta me ajudou a emagrecer 40 quilos”, destaca Santos.
Habituado a pedalar também
em outras cidades, estados e países, ele visualiza a infraestrutura para
bicicletas da capital paranaense como algo possível de ser aprimorado. “Se comparada
a algumas cidades europeias onde já pedalei, como Madri e Barcelona, ela tem
muito a melhorar. Mas sinto que a principal diferença dessas cidades ainda é o
respeito com os ciclistas”, pondera. Em meio a essa disparidade, o ciclista não
deixa de valorizar iniciativas como a da via calma. “Pena que muitos ciclistas
deixam de usá-las para pedalar nas canaletas dos ônibus”, opina Santos.
Além do hábito de pedalar
nas canaletas (vias exclusivas para ônibus), outras condutas inapropriadas
acabam por colocar a vida dos ciclistas em risco nas cidades. Conforme o Atlas
da Acidentalidade com Bicicletas no Trânsito Urbano de Curitiba em 2014, organizado
por iniciativa do blog Ir e Vir de Bike, foram registrados 782 acidentes com
ciclistas somente atendidos pelo Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em
Emergência (Siate), do Corpo de Bombeiro do Paraná. Dessa análise e de boletins
de ocorrência, surgiu um banco
de dados com o perfil completo dos acidentados, mas o levantamento é apenas
um recorte de um cenário preocupante.
Assim como nas cidades,
ciclistas também engrossam as estatísticas de acidentes nas rodovias
Os casos de ciclistas acidentados se estendem às rodovias. Conforme dados
disponibilizado pela Polícia Rodoviária Federal, em todo o país, durante 2016,
houve registro de 1.999 ocorrências com ciclistas – como condutores e
passageiros -, declínio de apenas 1% se comparado a 2015, quando o número
atingiu 2.029.
Apenas no Paraná, de
janeiro a novembro de 2016, foram registrados
210 acidentes com ciclistas, com 185 pessoas feridas e 23 óbitos. De acordo com
a PRF-PR, a principal causa desses acidentes é a irresponsabilidade dos
motoristas, embora o Código de
Trânsito Brasileiro (CTB) estabeleça ser dever desses cuidarem dos ciclistas. O artigo 29
diz que respeitadas as normas de circulação e conduta, em ordem decrescente, os
veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores,
os motorizados pelos não motorizados e, juntos, todos devem zelar pela
segurança dos pedestres.
Paiva também associa a morte de ciclistas em rodovias à inadequação dessas
vias. “Na Europa e em Portland, nos EUA, existem ciclorodovias, rodovias
destinadas a ciclistas que querem pedalar grandes distâncias, treinar ou fazer
viagens. No Brasil, esportistas, ciclistas amadores e aqueles que
simplesmente dependem da bicicleta para se deslocarem em rodovias, se misturam
e correm riscos. Nas cidades não encontram infraestrutura e, nas rodovias,
velocidades incompatíveis com o ciclismo”, analisa.
O especialista acrescenta ainda que não se pode colocar a culpa no ciclista,
que é o elo mais frágil nessa cadeia, e que é preciso encarar acidentes e
mortes no trânsito de maneira intransigente. “Qualquer morte no trânsito é
inadmissível. As cidades precisam trabalhar com Vision Zero, nenhuma
morte humana pode ser justificada”, complementa.
Cuidados necessários para garantir a segurança nos
percursos de bicicleta
Comece devagar e aos poucos:
Não adianta querer cruzar a cidade nos primeiros dias em que sair de bicicleta.
Com mais experiência, é possível partir para trajetos maiores.
Planeje: Provavelmente,
os lugares para os quais você irá serão sempre os mesmos. Portanto, vale
pesquisar qual a melhor opção para uma bicicleta. Opte por caminhos mais
tranquilos ou que tenham poucas subidas.
Fique sempre visível: Roupas
claras sempre ajudam e, à noite, atenção redobrada. Use luzes e refletores para
que você seja visto pelos outros.
Encontre a bicicleta certa: Há
uma série de opções no mercado; vale fazer uma boa pesquisa e conversar com
ciclistas mais experientes antes de fazer a aquisição.
Paralamas são importantes para
dias chuvosos: O acessório evita que a água rebata em
você. Leve também uma muda de roupas secas na mochila.
Seja gentil no trânsito;
violência não ajuda em nada: É importante sair do ciclo
vicioso de reagir com violência às outras pessoas. É fundamental manter sempre
o respeito mútuo.
Respeite as leis de
trânsito: A calçada é para uso exclusivo dos pedestres.
Portanto, só a utilize desmontado da bicicleta, situação que o torna pedestre
aos olhos da lei. Quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, ou
quando não for possível a utilização destes, pedale nos bordos da pista, sempre
no mesmo sentido de circulação da via.
Waldeir
trocou o carro pela bicicleta há 5 anos e emagreceu 40 quilos
Foto:
Arquivo pessoal