Não bastasse a dengue, zica,
chikungunya, vemos um novo surto impactar a população. A febre amarela silvestre
retorna após 37 anos sem registros tão altos de mortes. O Ministério da Saúde
vê o caos nos hospitais e executa medidas de urgência para controle e a
intensificação da vacinação. Daí me pergunto: como uma doença controlada há
décadas aparece de forma tão abrupta? Respondo: incompetência e falta de
gestão.
Em uma entrevista à
imprensa, o pesquisador sanitarista Cláudio Maierovitch afirma que um plano de
contingência já estava pronto desde o início do ano passado. Mas, mesmo com o
diagnóstico, as chamadas medidas preventivas da febre amarela foram adotadas
tardiamente. A falta de uma visão sistêmica do Ministério da Saúde para os
problemas que não estão na lista de prioridades fica evidente neste caso e em
tantos outros. Além do mais, mortes inexplicadas de macacos nas regiões
afetadas já haviam sido registradas desde 2014.
O Ministério desdobra os
planos e destina recursos para os Estados e municípios, que já estão
trabalhando no limite e acabam por priorizar os atendimentos de emergência. Ou
seja, o esforço é para apagar e controlar o incêndio e não para o prevenir. Por
que só agimos depois que os problemas se agravam?
A falta de
profissionalização é, no meu entender, um dos principais problemas da gestão
pública no Brasil. Ora, Ministérios e Secretarias de Saúdes Estaduais e
Municipais lidam diretamente com a população e, sem não bastasse, com as suas
vidas. Não seria o caso de realizar um processo de recrutamento e seleção de
profissionais da saúde para ocupar os cargos de Ministro e Secretários, ao
invés da indicação partidária ou convite do presidente? A condição sine qua
non não deveria ser um profissional competente da área, preferencialmente
sem filiação partidária e sem atuação política pregressa? Ser político não
qualifica um bom gestor. Vale lembrar que o ministro da saúde, Ricardo
Barros, não é médico. E a politização não é só dos ministérios, mas de toda a
cadeia de valor da gestão pública. A forma como estamos conduzindo nossos
processos afeta a credibilidade do País mundo afora. Será que depois de
vivenciar o que aconteceu nos últimos dez anos, o Presidente Temer ainda não
percebeu que esta política anacrônica, paroquial e leiloeira já não funciona
mais?
Outro fato importante.
Pesquisadores analisam as causas do surto de febre amarela, que tem maior
incidência em Minas Gerais. Nada está confirmado, mas o crime ambiental
cometido em 2015 com o rompimento da barragem de Mariana é uma das teses. O
incidente trouxe impactos irreparáveis na biodiversidade. Seria uma resposta da
mãe natureza pelos erros cometidos? Se os Ministérios do Meio Ambiente e da
Saúde trabalhassem de forma sistêmica e colaborativa, não deveriam ter
investigado, proativamente, os possíveis desdobramentos? A indignação é
propositiva, pois, no final, como em todos os últimos eventos, somos nós que
pagamos a conta e, nesse caso, com vidas. Ou isso pouco importa?
Jairo Martins - presidente executivo da FNQ