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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Estamos pagando a conta, e com vidas



Não bastasse a dengue, zica, chikungunya, vemos um novo surto impactar a população. A febre amarela silvestre retorna após 37 anos sem registros tão altos de mortes. O Ministério da Saúde vê o caos nos hospitais e executa medidas de urgência para controle e a intensificação da vacinação. Daí me pergunto: como uma doença controlada há décadas aparece de forma tão abrupta? Respondo: incompetência e falta de gestão.

Em uma entrevista à imprensa, o pesquisador sanitarista Cláudio Maierovitch afirma que um plano de contingência já estava pronto desde o início do ano passado. Mas, mesmo com o diagnóstico, as chamadas medidas preventivas da febre amarela foram adotadas tardiamente. A falta de uma visão sistêmica do Ministério da Saúde para os problemas que não estão na lista de prioridades fica evidente neste caso e em tantos outros. Além do mais, mortes inexplicadas de macacos nas regiões afetadas já haviam sido registradas desde 2014.

O Ministério desdobra os planos e destina recursos para os Estados e municípios, que já estão trabalhando no limite e acabam por priorizar os atendimentos de emergência. Ou seja, o esforço é para apagar e controlar o incêndio e não para o prevenir. Por que só agimos depois que os problemas se agravam?  

A falta de profissionalização é, no meu entender, um dos principais problemas da gestão pública no Brasil. Ora, Ministérios e Secretarias de Saúdes Estaduais e Municipais lidam diretamente com a população e, sem não bastasse, com as suas vidas. Não seria o caso de realizar um processo de recrutamento e seleção de profissionais da saúde para ocupar os cargos de Ministro e Secretários, ao invés da indicação partidária ou convite do presidente? A condição sine qua non não deveria ser um profissional competente da área, preferencialmente sem filiação partidária e sem atuação política pregressa? Ser político não qualifica um bom gestor.  Vale lembrar que o ministro da saúde, Ricardo Barros, não é médico. E a politização não é só dos ministérios, mas de toda a cadeia de valor da gestão pública. A forma como estamos conduzindo nossos processos afeta a credibilidade do País mundo afora. Será que depois de vivenciar o que aconteceu nos últimos dez anos, o Presidente Temer ainda não percebeu que esta política anacrônica, paroquial e leiloeira já não funciona mais?

Outro fato importante. Pesquisadores analisam as causas do surto de febre amarela, que tem maior incidência em Minas Gerais. Nada está confirmado, mas o crime ambiental cometido em 2015 com o rompimento da barragem de Mariana é uma das teses. O incidente trouxe impactos irreparáveis na biodiversidade. Seria uma resposta da mãe natureza pelos erros cometidos? Se os Ministérios do Meio Ambiente e da Saúde trabalhassem de forma sistêmica e colaborativa, não deveriam ter investigado, proativamente, os possíveis desdobramentos? A indignação é propositiva, pois, no final, como em todos os últimos eventos, somos nós que pagamos a conta e, nesse caso, com vidas. Ou isso pouco importa?



Jairo Martins - presidente executivo da FNQ 





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