Comportamento dos sistemas solares no
verão pode variar entre estados, influenciado por fatores como umidade,
ventilação natural e intensidade das ondas de calor previstas para a estação
Com a chegada do verão, cresce a expectativa por
maior geração de energia fotovoltaica, que é a eletricidade gerada a partir da
luz do sol, em razão dos dias mais longos e da radiação solar intensa. Porém, o
calor típico da estação pode atuar no sentido contrário, diminuindo a
eficiência das células e afetando o desempenho dos sistemas. A observação é da
professora de Engenharia Elétrica Michele Rodrigues, da FEI, centro
universitário referência em engenharias no Brasil com mais de 80 anos.
Nos meses mais quentes do ano, é comum que a radiação solar aumente entre 5% e 20% em diversas regiões brasileiras, segundo dados do Atlas Brasileiro de Energia Solar, do Inpe. Esse cenário indica um ambiente favorável à geração fotovoltaica, mas também traz um ponto de atenção: as células solares têm queda de eficiência conforme a temperatura ultrapassa seu ponto ideal de operação, que normalmente gira em torno de 25°C. Segundo levantamentos do CRESESB, municípios da Região Metropolitana de São Paulo alcançam picos de 5,3 a 5,6 kWh/m²·dia em janeiro e fevereiro.
Michele Rodrigues explica que esse comportamento é parte da própria física do dispositivo. “As células fotovoltaicas trabalham melhor com muita luz e pouco calor. Quando a temperatura do módulo sobe, aumenta a resistência interna do material semicondutor, o que reduz a tensão gerada. Como consequência, mesmo recebendo mais radiação, o painel pode entregar menos energia do que o esperado”, afirma.
No verão, esse efeito tende a ser ainda mais acentuado no Nordeste e no Centro-Oeste, que registram os maiores índices de irradiância do país, enquanto no Sudeste o aumento da radiação também eleva o potencial de geração, mas com perdas térmicas relevantes devido às altas temperaturas; já no Sul, onde o calor é menos intenso e a irradiância varia mais ao longo da estação, a performance tende a ser mais estável.
Temperaturas entre 70°C e 85°C, comuns em telhados
com pouca ventilação durante o verão, não apenas reduzem a eficiência dos painéis,
como também aceleram o desgaste dos materiais, indica a professora. Nessas
condições, podem surgir microtrincas — fissuras quase imperceptíveis nas
células fotovoltaicas que prejudicam a passagem da corrente elétrica — e hot
spots, pontos de aquecimento localizado onde o módulo concentra calor excessivo
e perde desempenho de forma brusca, podendo até comprometer sua durabilidade.
Conforme
a professora, esses efeitos são mais frequentes em instalações com estrutura
inadequada, baixa ventilação ou sujeitas a sombreamento irregular, condições
que intensificam o estresse térmico ao longo dos meses mais quentes. Apesar
disso, os sistemas são projetados para operar com segurança; o risco aumenta,
principalmente, em instalações improvisadas ou sem ventilação adequada.
Dicas para aumentar a eficiência energética no verão
A professora da FEI lista cuidados simples que ajudam
a reduzir perdas térmicas e manter a produção estável durante os meses mais
quentes:
- Garanta ventilação atrás dos módulos
Deixe entre 10 e 15 cm entre o painel e o telhado para facilitar o fluxo de ar.
- Prefira estruturas elevadas e perfis em alumínio
O material dissipa calor com mais eficiência.
- Aumente levemente a inclinação dos painéis
Melhora circulação de ar e reduz acúmulo de sujeira.
- Instale inversores em locais sombreados e ventilados
Evita o derating térmico, quando o equipamento reduz potência para não superaquecer.
- Faça limpeza periódica
Poeira, maresia e poluição podem reduzir a geração entre 4% e 12%, chegando a 20% em áreas litorâneas.
Para
quem vai viajar: monitore o sistema pelo aplicativo
Acompanhe alarmes, firmware e nível de baterias em
sistemas híbridos ou off-grid.
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