Não sei se é a minha bolha nas redes sociais, mas muitos dos meus contatos estão postando e escrevendo sobre este tal de ESG. Muitas empresas estão indo atrás deste termo e meus alunos e alunas começam a se confundir com as várias siglas e conceitos. Será que isso tem a ver com a sustentabilidade? É um outro tema que conversa com o Desenvolvimento Sustentável? Já temos que ir atrás de um outro curso ou indicador?
Bom, primeiro vamos explicar que ESG é a sigla para
Environmental, Social & Governance, o que traduzido daria ASG: Ambiental,
Social e Governança. Interessante que, se você coloca este termo nos buscadores
resulta em um monte de empresas da área financeira, fundos e bancos colocando a
importância das questões ambientais e sociais como riscos aos negócios. Este
termo apareceu na publicação “Who Cares Wins”, de 2004, do Pacto Global da ONU
junto com o Banco Mundial.
No último Fórum Econômico Mundial, no começo do
ano, as questões ambientais e a emergência climática eram os principais tópicos
de riscos apresentados a longo prazo. E, logo depois, aconteceu a pandemia, que
subtraiu valores da maior parte das empresas e governos devido à falta de
cuidado com a gestão dos animais silvestres e à governança global. Klaus
Schwab, fundador em 1971, do evento que tem o objetivo de discutir práticas de
gestão global, colocou que as empresas precisam gerar valor para os acionistas
e também para os outros stakeholders ou públicos de
relacionamento. Vimos isso bastante em tempos de pandemia, empresas de bebidas
fazendo álcool em gel, empresas de roupas fazendo máscaras e muitas empresas e
pessoas físicas no país fazendo doações para as reais necessidades da
população. A pergunta é se isso continuará na retomada da crise pós pandemia.
Sobre gerar valor para os vários stakeholders,
Porter e Kramer, em um artigo de uma década atrás, colocaram a necessidade de
criar valor compartilhado para além dos acionistas e clientes/consumidores,
também para os fornecedores, comunidades, colaboradores, meio ambiente, entre
outros. Ou seja, a empresa não é uma ilha isolada que fica somente produzindo e
vendendo para bater a meta prometida aos acionistas. Neste processo haverá
muitos outros movimentos que impactarão negativamente ou positivamente o
entorno e as pessoas que estão em contato. E aí sim estamos falando dos stakeholders,
que podem oferecer riscos de um acidente no trabalho, de uma poluição no ar ou
rio, de um fornecedor que tem práticas não aderentes aos Direitos Humanos, ou
um funcionário que dá comissão para um político.
Estes riscos ambientais e sociais precisam ser
medidos, avaliados, controlados e melhorados, para isso existem as políticas,
os procedimentos, as regras, os códigos de condutas, certificações e o compliance
nas empresas. Para apoiar e operacionalizar tudo isso temos as áreas de
sustentabilidade, de qualidade, de saúde e segurança, de meio ambiente, de
auditoria, de ética e compliance, entre os vários nomes para estas áreas.
E tudo isso precisa ser “orquestrado” pelo C-level
(a liderança empresarial) na governança desta empresa. A forma que a empresa
seguirá as “regras e leis” que ela colocou será fundamental para a gestão
inclusiva e sustentável.
Mas tudo isso vale a pena também financeiramente?
Sim! É isso que fundos como o ISE da B3 que tem mostrado nestes 15 anos com uma
rentabilidade maior do que os fundos tradicionais. E mais do que isso, já tirou
desta carteira de empresas com ESG várias delas que, no meio do caminho,
tiveram problemas ambientais, sociais e éticos, mesmo que fossem muito representativas
no âmbito total do fundo. A empresa XP criou uma área específica para este tipo
de investimento e os bancos tradicionais possuem fundos éticos, sociais e
ambientais desde o começo desta década. O maior fundo de pensão do mundo, o
Fundo de Investimento em Pensão do Governo do Japão também anunciou, no meio da
pandemia, que está priorizando investimentos ESG e está utilizando indicadores
e análises de riscos relacionadas às mudanças climáticas e as oportunidades que
este desafio possam criar.
No começo do ano, a maior gestora de recursos do
mundo, a BlackRock também apresentou a importância que estava dando para as
questões de ESG. E agora no final de outubro a empresa junto com a XP lançaram
o BlackRock Global Impact, que é um fundo formado por empresas globais com
produtos e serviços pautados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) da ONU. Ou seja, trabalhando com empresas que, efetivamente, estão
buscando as melhorias necessárias no planeta e para as pessoas.
Mas afinal, ESG é a mesma coisa então que
sustentabilidade?
Sim, a ideia é a mesma. E muitos usam a mesma base
de indicadores da área de sustentabilidade que estamos discutindo, há mais de
três décadas. Para corroborar ainda mais com esta semelhança entre os termos, o
diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, coloca que o
ESG é um olhar do setor financeiro sobre as questões de sustentabilidade, as
quais discutimos ao longo deste artigo.
Entretanto, muito cuidado para quem quer
implementar o ESG, pois não basta criar um produto ou uma linha de produtos
mais verdes, sustentáveis ou somente apoiar um projeto social. Estamos falando
aqui de gestão, governança, controles e avaliações. E inserir as questões
ambientais e sociais no cerne da estratégia dos negócios e em todos os
processos.
Quando o mercado financeiro tornar este termo um mainstream,
ou seja, um padrão para todas as empresas e negócios, e não somente algumas
carteiras e fundos, o desenvolvimento sustentável ganhará ainda mais força.
Marcus Nakagawa - professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Idealizador da plataforma Dias Mais Sustentáveis. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos; Administração por Competências; e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).
@ProfNaka