No Brasil, 150 mil pessoas estão submetidas a
tratamento de diálise segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia ( SBN) e
cerca de 30% dos pacientes com diabetes desenvolvem doença renal crônica.
Nefrologista explica o aumento alarmante no número de pacientes diabéticos que
necessitam de diálise e fornece orientações sobre cuidados e prevenção
O diabetes é uma
das doenças crônicas mais prevalentes e um grave problema de saúde pública em
todo o mundo. Estima-se que mais de 537 milhões de adultos vivem com essa
condição. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking dos países com maior
incidência de diabetes mellitus, sendo o líder entre as nações da América do
Sul e Central, com 17 milhões de portadores da doença. Uma entre as diversas
doenças secundárias ao diabetes é a doença renal crônica, que silenciosamente
vai provocando lesões nos rins. Dependendo do nível de acometimento, pode
ocorrer a falência total dos órgãos, ou seja, a perda de 85% da capacidade de
funcionamento. Quando a doença atinge essa fase, também chamada de fase 5, a
vida do paciente é mantida pela terapia chamada diálise, quando uma máquina faz
a substituição dos rins, filtrando o sangue e eliminando líquidos em excesso,
até que se possa realizar um transplante.
Paciente em diálise
Atualmente, no Brasil, 155 mil pessoas estão passando por tratamento de diálise, um aumento de mais de 100% nos últimos 10 anos. E uma em cada dez pessoas, com idades entre 20 e 79 anos, sofre de diabetes, segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF 2021).
As projeções indicam que até 2030, esse número alcançará 643 milhões, e em 2045, a estimativa é de 784 milhões de casos. Torna-se cada vez mais crucial adotar estratégias e políticas de intervenção eficazes para conter o aumento no número de casos dessa doença.
A médica nefrologista, Lecticia Jorge, gerente médica da Fresenius Medical Care, explica que existem dois tipos de diabetes, a do tipo 1 e a do tipo 2. “A mellitus tipo 1 normalmente surge na infância, e é caracterizada por um defeito nas células do pâncreas, que produzem o hormônio chamado insulina. Ele é responsável por levar a glicose para dentro das células. Com a falta da insulina no sangue, os níveis de glicose ficam altos. Porém, a maior parte dos pacientes diabéticos apresentam o tipo 2, que usualmente se manifesta após os 40 anos, e é caracterizado por uma resistência à insulina, o que acaba por também gerar aumento dos níveis de glicose no sangue”, esclarece.
A gerente médica da Fresenius Medical Care, ressalta que o diabetes pode prejudicar os rins, levando a uma condição conhecida como Doença Renal Crônica (DRC). “Em uma primeira fase os rins são afetados pelo aumento da glicose do sangue que gera uma hiperfiltração e aumento das pressões dentro do rim. Essa manifestação aos poucos vai comprometendo a barreira de filtração dos rins e os vasos renais, que passam a deixar passar por exemplos proteínas que agravam a lesão e progressivamente os rins vão perdendo funcionalidade e passam da fase de hiperfiltração para redução da filtração, que vai levando a complicações como hipertensão arterial e insuficiência renal”, ressaltou a especialista.
Segundo a médica, a diálise passa a ser necessária quando essas lesões afetam 85% da capacidade de funcionamento dos rins, ou seja, pacientes nesta condição precisam realizar a terapia de diálise – que é quando uma máquina passa a fazer a filtragem do sangue - no mínimo três vezes por semana.
O diabético também é mais propenso à desidratação, a infecções e ao desenvolvimento de cetoacidose - estado grave no qual o corpo produz ácidos sanguíneos em excesso, o que o deixa mais predisposto à insuficiência renal aguda.
“Mas é importante lembrar também que a maior parte das pessoas com diabetes não desenvolvem a insuficiência renal crônica, 70% delas. E 30% desenvolvem. Mas os diabéticos precisam ter um acompanhamento médico, porque não se sabe quem vai chegar à fase terminal, o risco existe para todos os diabéticos”, lembra a médica.
Entre os sintomas mais comuns do diabetes estão o aumento e a frequência do volume urinário, sede exagerada e visão turva. Mas qualquer tipo de diabetes mellitus pode evoluir silenciosamente, sem sintomas, nas suas fases iniciais, sendo ainda mais comum que isso ocorra no diabetes tipo 2.
É preciso atenção
especial na alimentação. “Alimentos com alto índice glicêmico, ou seja, que
geram picos de glicose no sangue, como farinhas brancas, batata e açúcar
refinado são responsáveis por jogar rapidamente na circulação sanguínea grandes
quantidades de glicose. Com isso, geram a necessidade de uma liberação rápida
de muita insulina para colocar esse excesso de glicose para dentro das células
e, muitas vezes, essa quantidade grande de insulina será convertida em gordura.
Importante notar que, após esse pico de insulina e a entrada da glicose para
célula, essa queda pode gerar fome e vontade de comer mais carboidratos de
índice glicêmico alto”, afirma Lecticia.
A glicemia, que é o nível de açúcar no sangue, quando mal controlada, aumenta o risco de morte até mesmo nos pacientes que já estão em diálise. Desse modo, renal crônico ou não, é fundamental que o paciente faça o controle do diabetes com alimentação adequada, ingestão de medicamentos e prática de atividades físicas.
“O controle rigoroso do diabetes é essencial para prevenir danos aos rins e outras complicações. Medir regularmente os níveis de glicose no sangue, manter uma dieta saudável e ativa, e seguir o plano de tratamento são passos cruciais”, ressaltou a nefrologista.
O que as pessoas com diabetes podem fazer para prevenir a insuficiência renal?
· Controlar níveis
de açúcar no sangue
· Cuidar da
pressão, evitar sal e fazer exercícios físicos são medidas preventivas também
essenciais
· Fazer exames
para medir a proteína albumina na urina e o nível de creatinina no sangue pelo
menos uma vez por ano
· Evitar ingerir
bebida alcoólica
· Evitar fumar também é muito importante
Para quem já tem a insuficiência renal crônica, é recomendável controlar os níveis glicêmicos por exames de sangue de glicemia e hemoglobina glicada, ou por medidas de dextro – que consiste numa medição feita em casa, a partir de uma gota de sangue colhida na ponta dos dedos. Assim, permite o ajuste correto da medicação para controle do diabetes.
A maioria dos
indivíduos em tratamento dialítico necessita usar insulina em doses fracionadas
para o controle do diabetes. Muitas vezes é necessário utilizar dois tipos de
insulina, uma de ação rápida e outra de ação lenta. “Alguns dos medicamentos
orais, chamados hipoglicemiantes orais, não podem ser usados por pessoas que
fazem diálise. Sempre tem que perguntar para o médico quais medicamentos podem
ser usados”, reforça a médica.
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