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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Do desafio climático à oportunidade econômica: o surgimento do mercado de carbono

 

A recente aprovação das regras para o mercado global de créditos de carbono na COP29 representa um avanço significativo para enfrentar as mudanças climáticas, especialmente ao definir padrões e trazer clareza ao processo de compensação de emissões. No entanto, o sucesso deste mercado depende de desafios técnicos e estruturais que precisam ser enfrentados com rigor. As novas diretrizes visam garantir que os créditos emitidos representem reduções reais e verificáveis, afastando o risco de “greenwashing” e fortalecendo a confiança no mercado. Mas isso exigirá que todos os países participantes invistam em auditoria e rastreamento robustos, utilizando tecnologias como blockchain para monitorar a origem e a aplicação dos créditos. Esse sistema, se implementado com transparência, aumentará a credibilidade e atrairá investidores globais, algo essencial para dar escala ao mercado. 

Para o Brasil, que possui um ecossistema vasto e recursos naturais únicos, o mercado de carbono é especialmente promissor. Atualmente, o mercado brasileiro representa menos 5% do mercado global. Com a recente aprovação do projeto de mercado de carbono pelo Senado, o país está posicionado para assumir um papel de liderança, monetizando suas práticas sustentáveis e transformando a preservação ambiental em ativo econômico. Esse movimento pode promover uma transformação nas economias regionais, especialmente em áreas rurais e de preservação que têm potencial para desenvolver projetos de baixo carbono. No entanto, o sucesso do Brasil nesse novo mercado exigirá investimentos significativos em infraestrutura de fiscalização, para assegurar que cada crédito de carbono tenha integridade e rastreabilidade, garantindo que o país seja visto como um fornecedor confiável. 

Além disso, tanto no mercado global, federal ou até mesmo para os mercados municipais, é essencial a definição de metas claras de redução efetiva de emissões de CO2 e a obrigatoriedade da compensação de carbono para empresas e setores, que não investirem em processos e tecnologias de baixo carbono. Essa obrigatoriedade deve ser progressiva e contar com a participação de todos. 

A regulamentação deve considerar a participação de pequenos e médios produtores, comunidades tradicionais e povos indígenas, que atualmente estão fora do mercado de carbono devido aos altos custos de implementação e complexidade regulatória. É essencial que as novas regras considerem mecanismos de incentivo e financiamento para viabilizar a entrada de players menores. 

Por fim, a inclusão de países em desenvolvimento é um fator crítico. Para que o mercado global de carbono tenha impacto ambiental e econômico, é necessário que esses países tenham acesso facilitado a recursos financeiros e tecnológicos, possibilitando a implementação de projetos sustentáveis que, de outra forma, poderiam ser inviáveis. A falta de financiamento adequado pode transformar o mercado em uma barreira econômica em vez de uma oportunidade, perpetuando desigualdades. Portanto, é essencial que o mercado de carbono global priorize uma abordagem inclusiva, que fortaleça as economias de baixo carbono e crie espaços para todos os participantes. 

Se implementado com seriedade e clareza, o mercado global de créditos de carbono pode ser um divisor de águas na luta contra as mudanças climáticas, redefinindo os rumos da economia sustentável. Esse é um momento crucial para assegurar que os compromissos climáticos globais se transformem em ações reais e efetivas, com o carbono se consolidando como um ativo central na construção de um futuro mais verde e resiliente. 



Fernando Beltrame - mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.



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