A recente aprovação das regras para o mercado global de créditos
de carbono na COP29 representa um avanço significativo para enfrentar as
mudanças climáticas, especialmente ao definir padrões e trazer clareza ao
processo de compensação de emissões. No entanto, o sucesso deste mercado
depende de desafios técnicos e estruturais que precisam ser enfrentados com
rigor. As novas diretrizes visam garantir que os créditos emitidos representem
reduções reais e verificáveis, afastando o risco de “greenwashing” e
fortalecendo a confiança no mercado. Mas isso exigirá que todos os países
participantes invistam em auditoria e rastreamento robustos, utilizando
tecnologias como blockchain para monitorar a origem e a aplicação dos créditos.
Esse sistema, se implementado com transparência, aumentará a credibilidade e
atrairá investidores globais, algo essencial para dar escala ao mercado.
Para o Brasil, que possui um ecossistema vasto e recursos naturais
únicos, o mercado de carbono é especialmente promissor. Atualmente, o mercado
brasileiro representa menos 5% do mercado global. Com a recente aprovação do
projeto de mercado de carbono pelo Senado, o país está posicionado para assumir
um papel de liderança, monetizando suas práticas sustentáveis e transformando a
preservação ambiental em ativo econômico. Esse movimento pode promover uma
transformação nas economias regionais, especialmente em áreas rurais e de
preservação que têm potencial para desenvolver projetos de baixo carbono. No
entanto, o sucesso do Brasil nesse novo mercado exigirá investimentos
significativos em infraestrutura de fiscalização, para assegurar que cada
crédito de carbono tenha integridade e rastreabilidade, garantindo que o país
seja visto como um fornecedor confiável.
Além disso, tanto no mercado global, federal ou até mesmo para os
mercados municipais, é essencial a definição de metas claras de redução efetiva
de emissões de CO2 e a obrigatoriedade da compensação de carbono para empresas
e setores, que não investirem em processos e tecnologias de baixo carbono. Essa
obrigatoriedade deve ser progressiva e contar com a participação de todos.
A regulamentação deve considerar a participação de pequenos e médios
produtores, comunidades tradicionais e povos indígenas, que atualmente estão
fora do mercado de carbono devido aos altos custos de implementação e
complexidade regulatória. É essencial que as novas regras considerem mecanismos
de incentivo e financiamento para viabilizar a entrada de players menores.
Por fim, a inclusão de países em desenvolvimento é um fator
crítico. Para que o mercado global de carbono tenha impacto ambiental e
econômico, é necessário que esses países tenham acesso facilitado a recursos
financeiros e tecnológicos, possibilitando a implementação de projetos
sustentáveis que, de outra forma, poderiam ser inviáveis. A falta de
financiamento adequado pode transformar o mercado em uma barreira econômica em
vez de uma oportunidade, perpetuando desigualdades. Portanto, é essencial que o
mercado de carbono global priorize uma abordagem inclusiva, que fortaleça as
economias de baixo carbono e crie espaços para todos os participantes.
Se implementado com seriedade e clareza, o mercado global de
créditos de carbono pode ser um divisor de águas na luta contra as mudanças
climáticas, redefinindo os rumos da economia sustentável. Esse é um momento
crucial para assegurar que os compromissos climáticos globais se transformem em
ações reais e efetivas, com o carbono se consolidando como um ativo central na
construção de um futuro mais verde e resiliente.
Fernando Beltrame - mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.
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