Trend, conhecida como “nose cover”, pode revelar desejo se
proteger das consequências da exposição
Pixabay
Apesar da geração Z ter nascido já conectada, muitos estão deixando feed de redes sociais sem fotos ou, quando estão em alguma, tapam o rosto
As redes sociais de muitos adolescentes estão sem postagens
e com fotos com rostos escondidos. Também, quando pais insistem em fazer fotos
em família, colocam as mãos, tapando a face, geralmente na frente do nariz.
Essa é uma nova Trend, conhecida como “nose cover” que, além de modinha da
internet, pode revelar um desejo de querer se proteger das consequências da
exposição em redes sociais. A psicóloga Bárbara Couto, Mestre em Psicologia
Clínica e Saúde pela Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da
Espanha, explica que esse comportamento está relacionado com uma consciência
maior dos adolescentes sobre os riscos do ambiente digital, como o
cyberbullying, julgamentos, comparações e medo de virar memes.
“Os chamados nativos digitais vivem essa ambiguidade entre o
desejo de se conectar e o medo de ser exposto. Muitos adolescentes se cobrem
numa tentativa de ter a sensação de privacidade. O medo do bullying é a questão
central desse comportamento, principalmente no ambiente on-line, onde é mais
propenso a ter esses julgamentos, que são muito rápidos e também muitos cruéis”,
fala Bárbara Couto.
Fase da construção da imagem
Os adolescentes estão na fase da construção de suas
identidades e a autoimagem tem um peso enorme. Além disso, ainda não se
desenvolveram emocionalmente e dão muita importância ao que se pensa e fala
sobre eles. “Quando um adolescente se nega a estar em uma foto, os pais
precisam respeitar esse desejo. Não ultrapassar esse limite é uma forma de
reconhecer a autonomia e as necessidades emocionais dele. Com isso, os filhos
entendem que podem confiar nos pais e que as decisões deles são levadas em
consideração. Isso é muito importante para o desenvolvimento emocional deles”,
esclarece a psicóloga.
Comparação com influenciadores digitais
E nessa construção das suas imagens, os adolescentes
precisam de referência, ter em quem se espelhar. Ao mesmo tempo, são muito
vulneráveis às críticas. O problema é quando os adolescentes têm como
referência as celebridades, que mostram nas redes sociais imagens da rotina e
de corpos perfeitos, além de padrões de vida inatingíveis. “Isso também
pode influenciar no comportamento de não querer se expor nas redes sociais.
Nessa fase, a pessoa busca aceitação e pertencimento. A comparação com a vida
das celebridades pode gerar uma sensação muito grande de inadequação e
imperfeição. Então, os adolescentes escondem o rosto porque não se enquadram
nesses padrões de perfeição. O medo de não se encaixarem e não se validarem
socialmente reforça esse comportamento de cobrir o rosto”, relata Bárbara.
Esse é um período de muitas mudanças física, emocional e
social, quando é normal ter mais insegurança. Mas, quando esse sentimento passa
a interferir na vida cotidiana de forma mais constante, como não querer mais
aparecer em ambiente público e online, se isolar e evitar extremamente
situações de exposição, pode ser sinal de que o adolescente está com algum
transtorno emocional. “A sensação de inadequação é comum, mas não pode impedir
o adolescente de viver a vida de uma maneira saudável. Quando muda
drasticamente a forma como ele se coloca no mundo, apresentando um sofrimento
muito significativo, insegurança e medo grandes, pode estar ligado a
transtornos de ansiedade ou depressão. Nesses casos, os profissionais de
saúde mental são muito importantes, porque a terapia é onde o adolescente pode
desenvolver ferramentas para lidar com essa pressão e ter uma percepção mais
saudável de si mesmo”, explica a psicóloga.
Como ajudar o adolescente a se aceitar
Para aprender a lidar com essa fase de insegurança e
inadequação, os adolescentes precisam se sentir seguros, acolhidos, ouvidos e respeitados.
Os pais, adultos da relação, devem estar dispostos a dialogar de forma aberta e
sem julgamento. Sabendo da interferência das redes sociais nesses sentimentos,
os pais podem orientar o adolescente a ter uma relação mais saudável com as
redes sociais, diminuindo o tempo de uso e seguindo pessoas com realidades mais
próximas a dele.
Além disso, os pais devem conversar sobre as pressões das
redes sociais, mostrando a diferença entre o que é postado e o que é vida real.
“Mas sempre validando os sentimentos desse adolescente, que precisa saber que
as emoções dele têm uma razão de existir. Ele precisa ter certeza de que está
sendo compreendido e de que não está sozinho para lidar com essa situação. É
preciso orientar e não punir ou forçar a exposição que ele não quer,” finaliza
Bárbara Couto.
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