Educadores explicam como apoiar crianças e adolescentes e transformar o momento em oportunidade de aprendizagem
Fim de ano é tempo de festas, férias e descanso, mas também daquele momento em
que muitos pais abrem o boletim escolar com o coração acelerado. E quando as
notas do estudante não saem como planejado, a “recuperação” costuma vir
acompanhada de ansiedade e tensão para muitas famílias, com a alegria dando
lugar à preocupação.
Apesar do susto inicial, especialistas em
educação afirmam que o período não precisa virar um drama familiar, e pode até
se transformar em uma boa oportunidade de aprendizado e organização para o
próximo ano, desde que seja conduzido com acolhimento, diálogo e foco no
aprendizado, e não apenas nas notas.
A maior pressão, muitas vezes, começa
em casa
Embora muitos pais imaginem que a cobrança
vem principalmente da escola, são as expectativas familiares que frequentemente
pesam mais sobre crianças e adolescentes. Comentários como “você não pode
decepcionar”, comparações com irmãos que “sempre tiram boas notas” ou a crença
de que “aluno esforçado não fica de recuperação” criam um ambiente de tensão
que pode afetar diretamente o desempenho.
“Para muitos jovens, essa pressão se
manifesta em ansiedade, dificuldade de concentração, irritabilidade e até
sintomas físicos, como dor de cabeça, dor de barriga, insônia e queda de
imunidade, sinais do corpo respondendo ao estresse”, diz afirma Ana Claudia
Favano, especialista em Psicologia Positiva e gestora da Escola Internacional de Alphaville - EIA, de Barueri (SP).
Ela afirma que o mais importante nesses casos é reduzir o peso emocional dentro
de casa. “Quando a família oferece segurança, escuta e compreensão, o jovem
sente menos medo de errar e mais disposição para participar ativamente do
processo de recuperação”, completa.
Nota não é tudo
Embora o sistema educacional tradicional se apoie sobretudo em provas, médias e boletins, esses indicadores, apesar de importantes, não esgotam a compreensão sobre o percurso de aprendizagem de um estudante. A nota tem um papel relevante: ela posiciona, orienta próximos passos e evidencia conquistas, mas representa apenas uma parte do processo.
Na opinião de Fatima Lopes, diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo (SP), um desempenho abaixo do esperado pode ter diferentes origens: desde uma dificuldade pontual em determinado conteúdo até questões de organização, períodos de maior ansiedade, ou mudanças na rotina familiar.
“Não existe aprendizagem profunda sem envolvimento emocional e experiências significativas. Por isso, avaliamos para orientar, fortalecer e apoiar, não para rotular. O boletim é um instrumento valioso, mas ganha sentido real quando analisado em conjunto com o processo vivido pelo aluno: seus avanços, suas estratégias, suas dificuldades e suas potências. Esses elementos são essenciais para entendermos o estudante como um todo e garantirmos percursos de aprendizagem consistentes”, diz.
“A avaliação é um retrato, não um rótulo”,
acrescenta Fátima Lopes. “Quando a família amplia o olhar e considera tanto a
nota quanto o processo que levou até ela, consegue apoiar melhor o estudante,
promovendo segurança, autonomia e crescimento.”
O que não fazer com seu filho de recuperação
Diante da recuperação, é comum que alguns
pais tenham reações impulsivas que acabam prejudicando ainda mais o estudante.
Piadas, apelidos, ironias e comparações com colegas ou irmãos reforçam a
vergonha e podem criar uma barreira emocional entre a criança e os estudos.
Ameaças como tirar o celular, mudar o aluno de escola no ano seguinte, cancelar
as férias ou cortar atividades também não ajudam, ao contrário, geram medo e
desmotivação. Além disso, frases generalistas como “você nunca aprende” ou “eu
sabia que isso ia acontecer” criam rótulos que impactam a autoestima e
dificultam a superação das dificuldades.
“Desde o início do ano letivo, a família deve
criar um plano de estudos e estar atenta à evolução do aprendizado do filho,
auxiliando-o a estabelecer metas realistas e alcançáveis. Além disso, manter
uma parceria com a escola e celebrar o sucesso e avanço de cada processo é
fundamental para que a internalização do aprendizado seja significativa”,
afirma Audrey Taguti, diretora pedagógica e geral do Brazilian
International School – BIS, de São Paulo (SP). “Cada indivíduo é uma
personalidade única e não deve ser comparado com outra pessoa. Projetar no
aluno características que ele não possui também não é saudável. Valorizar as
habilidades de cada um pode ser a chave do sucesso para que o aluno acredite
que é capaz”, acrescenta.
Ensinamentos para evitar uma
recuperação no ano que vem
A recuperação não precisa e não deve se
repetir. Ela serve justamente como termômetro para ajustar comportamentos e
estratégias para o ciclo seguinte. Isso inclui identificar lacunas de conteúdo,
organizar uma rotina de estudo ao longo do ano, acompanhar mais de perto as
tarefas e avaliações, e manter diálogo constante com professores para entender
dificuldades assim que surgem.
“A principal mensagem é que o processo
importa mais que o resultado final: quando o aluno aprende a se organizar, a
pedir ajuda e a lidar com as próprias dificuldades, as notas passam a ser
consequência”, diz Lívia Martins, diretora pedagógica dos colégios Progresso Bilíngue, com unidades no
interior e litoral de SP. Para isso, os pais devem incentivar os filhos a criar
hábitos como revisar conteúdos semanalmente, registrar dúvidas em um caderno,
dividir matérias em blocos menores e aprender técnicas de estudo (resumos,
mapas mentais, exercícios), acompanhando o processo junto do estudante.
Audrey Taguti - acumula 41 anos de experiência e trabalho em Educação. É formada em Magistério e Pedagogia, possui pós-graduações em Psicopedagogia e Bilinguismo e é especialista em Alfabetização. É diretora pedagógica do Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP desde a fundação do colégio, em 2000.
Fatima Lopes - pós-graduada em Gestão Escolar, especialista em Bilinguismo e apaixonada pela área da Educação. De sua primeira formação, em Enfermagem, ela mantém o dom de cuidar das pessoas: gosta de se relacionar com alunos, pais e colegas, promovendo um ambiente de aprendizado colaborativo e acolhedor. Diz ter como missão contribuir para a formação integral dos estudantes, formando cidadãos mais conscientes e preparados para o futuro. É fundadora e diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo.
Lívia Martins - pedagoga formada pela Unicamp, com MBA em Gestão Escolar pela USP-Esalq e especializações nas áreas de Tecnologia Educacional (USP-ICMC) e Neurociência e Psicologia Positiva (PUC-PR), Lívia tem mais de 10 anos de experiência em sala de aula como professora. Em 2015, iniciou sua trajetória na gestão, atuando em diferentes papéis. É diretora pedagógica das unidades Progresso Bilíngue.
International Schools Partnership - ISP
Para mais informações, acesse o site.

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