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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Como transformar as férias em um período de desenvolvimento para crianças com TEA

 Terapeuta ocupacional orienta pais sobre brincadeiras, organização da rotina e estímulo à autonomia fora do ambiente escolar

 

O período de férias escolares costuma ser aguardado com expectativa pelas crianças, mas pode representar um desafio extra para famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A quebra da rotina, a ausência da escola e o aumento do tempo em casa podem impactar o comportamento, a regulação emocional e o engajamento nas atividades do dia a dia.

Segundo Bruna Betto, terapeuta ocupacional da Casa Trilá, unidade especializada no neurodesenvolvimento de crianças e adolescentes que integra o grupo ViV Saúde Mental e Emocional, a chave para viver esse período de forma mais leve está na combinação entre previsibilidade, escolhas adequadas e respeito às individualidades de cada criança.

“As férias não precisam ser um momento de sobrecarga. Com algumas estratégias simples, é possível transformar esse tempo em oportunidades de desenvolvimento, vínculo e diversão”, explica.


Entender o brincar é o primeiro passo

Um dos pontos centrais, segundo a especialista, é compreender como a criança brinca. O brincar é uma forma natural de explorar o mundo, comunicar-se e desenvolver habilidades cognitivas, sociais, motoras e sensoriais. Em crianças neurodivergentes, ele pode acontecer de maneiras diferentes.

Bruna explica que existem diferentes níveis de brincar, que ajudam os adultos a oferecer experiências mais adequadas:

  • Brincar exploratório (corporal): envolve explorar sons, texturas, movimentos e estímulos sensoriais, sem foco na função do brinquedo.
  • Brincar funcional (com objetos): quando a criança passa a usar o brinquedo conforme sua função básica, como empilhar ou encaixar peças.
  • Brincar pré-simbólico: imitações simples do cotidiano, como cuidar de bonecos ou “fazer comidinha”.
  • Brincar simbólico ou faz de conta: criação de histórias, personagens e enredos mais elaborados.
  • Jogos de regras: brincadeiras com troca de turnos, interação social e regras simples, como jogos de tabuleiro ou esconde-esconde.

“Esses níveis não são rígidos e podem coexistir. O mais importante é observar onde a criança está e oferecer estímulos possíveis, sem forçar etapas”, orienta a terapeuta.


Ajustar o suporte faz toda a diferença

As estratégias também variam conforme o nível de suporte da criança. Para crianças com nível 1, dicas verbais e a demonstração prévia das atividades costumam ser suficientes, sempre estimulando a autonomia e a troca durante o brincar.

Já para crianças com nível 2 de suporte, recursos como rotinas visuais e temporizadores ajudam a aumentar a previsibilidade e a sustentar o tempo de permanência nas atividades. “Narrar o que está acontecendo enquanto a criança brinca favorece a compreensão e o engajamento”, destaca Bruna.

No caso de crianças com nível 3, a recomendação é priorizar brinquedos de fácil manipulação e variar as ações com os objetos para ampliar o repertório. Segundo a especialista, apoios visuais, reforçadores e temporizadores são aliados importantes, assim como o uso gradual de suportes físicos, vocais e gestuais.


Organização, previsibilidade e autonomia

Outra dica prática é o rodízio de brinquedos, evitando deixar todos disponíveis ao mesmo tempo. Separá-los em categorias, como sensoriais, criativos, de movimento ou jogos estruturados, ajuda a manter o interesse e estimula a criança a solicitar o que deseja brincar. Sempre que possível, vale incluir a criança no momento de guardar os brinquedos, mesmo que de forma parcial.

Para Bruna, a previsibilidade também é um ponto fundamental para reduzir a ansiedade da criança nesse contexto. Aqui, vale antecipar mudanças por meio de rotinas visuais, temporizadores ou histórias sociais para preparar a criança para situações comuns das férias, como viagens, passeios ou alterações no dia a dia.

“As férias são uma excelente oportunidade para estimular a autonomia”, afirma a especialista. Atividades simples, como escolher a roupa, ajudar a arrumar a mesa ou participar do preparo de receitas fáceis, contribuem para o desenvolvimento e fortalecem a autoconfiança.

Férias como tempo de vínculo

Por fim, a terapeuta reforça que o período pode – e deve – ser um tempo de conexão em família. Brincadeiras com música e dança, atividades ao ar livre, experiências culinárias e propostas criativas com pintura, massinha e desenhos ajudam a criar memórias afetivas e a fortalecer os vínculos.

“Mais do que preencher o tempo, o objetivo é oferecer experiências significativas, respeitando o ritmo da criança e tornando as férias um momento possível e prazeroso para toda a família”, conclui.

 

Sobre a Casa Trilá

A Casa Trilá é um espaço especializado em neurodesenvolvimento que une ciência, acolhimento e educação para apoiar crianças e adolescentes neurodivergentes em sua trajetória de crescimento. Com equipe multidisciplinar, planos individualizados e metodologia baseada em evidências (ABA), a Casa Trilá atua como elo entre famílias, escolas e operadoras de saúde, promovendo o desenvolvimento contínuo das habilidades cognitivas e sociais de seus aprendizes.

 

ViV Saúde Mental e Emocional

 

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