Terapeuta ocupacional orienta pais sobre brincadeiras, organização da rotina e estímulo à autonomia fora do ambiente escolar
O
período de férias escolares costuma ser aguardado com expectativa pelas
crianças, mas pode representar um desafio extra para famílias de crianças com
Transtorno do Espectro Autista (TEA). A quebra da rotina, a ausência da escola
e o aumento do tempo em casa podem impactar o comportamento, a regulação
emocional e o engajamento nas atividades do dia a dia.
Segundo
Bruna Betto, terapeuta ocupacional da Casa Trilá, unidade especializada no
neurodesenvolvimento de crianças e adolescentes que integra o grupo ViV Saúde
Mental e Emocional, a chave para viver esse período de forma mais leve está na
combinação entre previsibilidade, escolhas adequadas e respeito às
individualidades de cada criança.
“As
férias não precisam ser um momento de sobrecarga. Com algumas estratégias
simples, é possível transformar esse tempo em oportunidades de desenvolvimento,
vínculo e diversão”, explica.
Entender o brincar é o primeiro passo
Um
dos pontos centrais, segundo a especialista, é compreender como a criança
brinca. O brincar é uma forma natural de explorar o mundo, comunicar-se e
desenvolver habilidades cognitivas, sociais, motoras e sensoriais. Em crianças
neurodivergentes, ele pode acontecer de maneiras diferentes.
Bruna
explica que existem diferentes níveis de brincar, que ajudam os adultos a
oferecer experiências mais adequadas:
- Brincar exploratório (corporal):
envolve explorar sons, texturas, movimentos e estímulos sensoriais, sem
foco na função do brinquedo.
- Brincar funcional (com objetos):
quando a criança passa a usar o brinquedo conforme sua função básica, como
empilhar ou encaixar peças.
- Brincar pré-simbólico:
imitações simples do cotidiano, como cuidar de bonecos ou “fazer
comidinha”.
- Brincar simbólico ou faz de conta:
criação de histórias, personagens e enredos mais elaborados.
- Jogos de regras:
brincadeiras com troca de turnos, interação social e regras simples, como
jogos de tabuleiro ou esconde-esconde.
“Esses
níveis não são rígidos e podem coexistir. O mais importante é observar onde a
criança está e oferecer estímulos possíveis, sem forçar etapas”, orienta a
terapeuta.
Ajustar o suporte faz toda a diferença
As
estratégias também variam conforme o nível de suporte da criança. Para crianças
com nível 1, dicas verbais e a demonstração prévia das atividades costumam ser
suficientes, sempre estimulando a autonomia e a troca durante o brincar.
Já
para crianças com nível 2 de suporte, recursos como rotinas visuais e
temporizadores ajudam a aumentar a previsibilidade e a sustentar o tempo de
permanência nas atividades. “Narrar o que está acontecendo enquanto a criança
brinca favorece a compreensão e o engajamento”, destaca Bruna.
No
caso de crianças com nível 3, a recomendação é priorizar brinquedos de fácil
manipulação e variar as ações com os objetos para ampliar o repertório. Segundo
a especialista, apoios visuais, reforçadores e temporizadores são aliados
importantes, assim como o uso gradual de suportes físicos, vocais e gestuais.
Organização, previsibilidade e autonomia
Outra
dica prática é o rodízio de brinquedos, evitando deixar todos disponíveis ao
mesmo tempo. Separá-los em categorias, como sensoriais, criativos, de movimento
ou jogos estruturados, ajuda a manter o interesse e estimula a criança a
solicitar o que deseja brincar. Sempre que possível, vale incluir a criança no
momento de guardar os brinquedos, mesmo que de forma parcial.
Para
Bruna, a previsibilidade também é um ponto fundamental para reduzir a ansiedade
da criança nesse contexto. Aqui, vale antecipar mudanças por meio de rotinas
visuais, temporizadores ou histórias sociais para preparar a criança para
situações comuns das férias, como viagens, passeios ou alterações no dia a dia.
“As
férias são uma excelente oportunidade para estimular a autonomia”, afirma a
especialista. Atividades simples, como escolher a roupa, ajudar a arrumar a
mesa ou participar do preparo de receitas fáceis, contribuem para o
desenvolvimento e fortalecem a autoconfiança.
Férias como tempo de vínculo
Por
fim, a terapeuta reforça que o período pode – e deve – ser um tempo de conexão
em família. Brincadeiras com música e dança, atividades ao ar livre,
experiências culinárias e propostas criativas com pintura, massinha e desenhos
ajudam a criar memórias afetivas e a fortalecer os vínculos.
“Mais
do que preencher o tempo, o objetivo é oferecer experiências significativas,
respeitando o ritmo da criança e tornando as férias um momento possível e
prazeroso para toda a família”, conclui.
Sobre a Casa Trilá
A
Casa Trilá é um espaço especializado em neurodesenvolvimento que une ciência,
acolhimento e educação para apoiar crianças e adolescentes neurodivergentes em
sua trajetória de crescimento. Com equipe multidisciplinar, planos
individualizados e metodologia baseada em evidências (ABA), a Casa Trilá atua
como elo entre famílias, escolas e operadoras de saúde, promovendo o
desenvolvimento contínuo das habilidades cognitivas e sociais de seus
aprendizes.
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