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O Brasil vive uma escalada preocupante de calor extremo. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)1, o número de dias com ondas de calor saltou de 7 para 52 ao longo de 30 anos, evidenciando que o fenômeno deixou de ser isolado para se tornar rotina. No cenário global, um relatório do World Weather Attribution2 aponta que, em apenas 12 meses, cerca de 4 bilhões de pessoas, quase metade da população mundial, enfrentaram ao menos 30 dias adicionais de calor extremo devido às mudanças climáticas induzidas pelo homem.
Diante desse cenário, Luis Fernando Penna, clínico-geral e coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, reforça que o impacto das temperaturas elevadas na saúde ainda é subestimado. “Muitas pessoas acreditam que o calor causa apenas mal-estar, mas estamos falando de riscos reais que incluem desde quedas de pressão até falência térmica. Em dias de temperaturas extremas, o corpo trabalha no limite”, afirma.
Penna explica que, para dissipar o calor, o organismo aumenta a sudorese, acelera os batimentos cardíacos e dilata os vasos sanguíneos. Esses mecanismos, porém, têm limite e, quando falham, instala-se a falência térmica, uma emergência médica caracterizada por confusão mental, fala arrastada, pele quente e seca, e temperatura corporal acima de 40°C. “Se esses sinais aparecem, é fundamental procurar atendimento imediato”, alerta o médico.
O calor extremo também agrava doenças crônicas como hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e doença renal crônica. O uso de determinados medicamentos pode aumentar ainda mais a vulnerabilidade, já que diuréticos favorecem desidratação e queda de pressão; anti-hipertensivos somam seus efeitos à vasodilatação natural do calor; antidepressivos, anticolinérgicos e antipsicóticos podem reduzir a sudorese ou alterar a regulação térmica. “Para quem já tem uma condição de base, o calor impõe uma sobrecarga perigosa ao organismo”, explica o especialista.
Os efeitos, porém, não se restringem ao corpo. Altas temperaturas interferem no sono, prejudicam o humor, aumentam a irritabilidade e reduzem a produtividade, já que a privação de descanso adequada afeta a atenção, memória e tomada de decisão.
Nesse contexto, Penna explica que a hidratação apropriada, incluindo reposição de eletrólitos, é essencial, mas não suficiente. Segundo ele, a recomendação é evitar exposição ao sol entre 10h e 16h, usar roupas leves e claras, priorizar ambientes ventilados ou climatizados e evitar exercícios intensos durante períodos de calor extremo. “Trabalhadores expostos ao sol, como profissionais da construção civil, coleta de lixo e entregadores, devem fazer pausas frequentes nos horários mais quentes”, ressalta.
Entre os grupos mais vulneráveis estão: idosos, que têm menor percepção de sede e regulação térmica menos eficiente; crianças, que desidratam mais rapidamente; gestantes; pessoas com doenças crônicas; e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. Hábitos comuns como dormir pouco, manter ambientes fechados sem ventilação, ignorar sinais de sede ou tontura e aumentar o consumo de álcool ampliam ainda mais os riscos.
Para
Penna, a prevenção continua sendo a principal ferramenta diante de altas
temperaturas. “Não existe adaptação completa para ondas de calor extremas e
repetidas. Acima de 35°C com alta umidade, o corpo humano simplesmente não
consegue funcionar como deveria. Reconhecer sinais precoces e adotar medidas
preventivas é essencial para evitar situações de risco”, conclui.
Erros mais frequentes ao tentar se refrescar
- Usar roupas escuras e tecidos pesados, que retêm calor e dificultam
a ventilação;
- Tomar banhos gelados, que provocam efeito rebote e fazem o corpo
aumentar a produção de calor;
- Exagerar no uso do ar-condicionado, criando ambientes
excessivamente frios e favorecendo choques térmicos;
- Aumentar o consumo de álcool acreditando que ajuda a relaxar,
quando na verdade ele acelera a desidratação;
- Permanecer em ambientes fechados e sem circulação de ar, onde o
calor se acumula e pode ser mais intenso do que ao ar livre;
- Deixar de priorizar a hidratação adequada ao longo do dia,
confiando apenas em soluções imediatistas como ventiladores ou duchas.
Hospital Sírio-Libanês
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