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sábado, 1 de novembro de 2025

Como lidar com o ressentimento? Psicóloga compartilha cinco sugestões para transformar a dor em crescimento

Como lidar com o ressentimento? Psicóloga compartilha cinco
sugestões para transformar a dor em crescimento
Pexels/MART PRODUCTION
Reconhecer o que se sente, compreender o sentido da dor e redirecionar a energia são caminhos possíveis para quem busca se libertar do peso do ressentimento sem negar o que aconteceu, explica a psicanalista e doutora em Psicologia pela PUC-SP, Blenda Oliveira.

 

O ressentimento é um sentimento comum, mas difícil de admitir. Ele nasce quando uma dor, uma injustiça ou uma frustração não encontram resolução e passam a ocupar espaço dentro de nós, alimentando-se da repetição mental do que aconteceu. “O ressentimento é uma forma de aprisionamento psíquico”, afirma Blenda Oliveira. “A pessoa fica presa a uma cena do passado, como se não conseguisse sair de lá. Enquanto isso, a vida segue, mas ela permanece girando em torno do mesmo eixo de dor.” 

Segundo a especialista, lidar com o ressentimento não é um exercício de esquecimento, mas de elaboração. É um processo que exige consciência, coragem e disponibilidade emocional para olhar para dentro e dar outro destino ao que machuca. “O objetivo não é apagar o que aconteceu, mas transformar a experiência em algo que faça sentido, que não continue produzindo sofrimento”, diz Blenda. 

A seguir, a psicanalista aponta cinco caminhos possíveis para começar esse processo de transformação.

 

1 - Reconhecer o ressentimento 

Antes de qualquer coisa, é preciso admitir o sentimento e perguntar-se: qual o sentido desse ressentimento agora? “Não se trata mais de discutir se você tem ou não razão”, explica Blenda Oliveira. “A questão é entender qual o lugar que isso ocupa hoje na sua vida. O ressentimento, muitas vezes, revela algo não resolvido dentro de nós, e reconhecê-lo é o primeiro passo para se libertar.”

 

2 - Dar sentido à dor 

Todo sofrimento traz uma mensagem. É importante se perguntar: o que essa experiência mostrou sobre mim? Que necessidade ou expectativa foi frustrada ou ferida? “Ao fazer essas perguntas, abrimos espaço para aprender sobre nossos limites, sobre como amamos e o que esperamos dos outros”, observa Blenda. “A dor, quando compreendida, pode se tornar uma professora.”
 

3 - Diferenciar perdão de reconciliação 

Muitas vezes, confundimos o ato de perdoar com o de se reconciliar. Mas são processos distintos. “Perdoar não é negar o erro nem voltar a se relacionar com quem nos feriu”, destaca Blenda Oliveira. “Perdoar é se libertar do sofrimento. É tomar para si a gestão da própria energia psíquica, retirando do outro ou da situação o poder de continuar gerando dor.”
 

4 - Aceitar a imperfeição dos outros e a própria 

Segundo Blenda, o ressentido quer “justiça perfeita” e “reparação exata” — duas coisas impossíveis. “Aceitar que o outro erra, e que eu também erro, é abrir espaço para uma humanidade mais real, menos idealizada. O ressentimento se alimenta da fantasia de que o outro poderia ter agido de forma diferente, quando na verdade todos estamos sujeitos às nossas próprias limitações.”
 

5 - Investir a energia em novas direções 

Por fim, o movimento é o antídoto do ressentimento. “Todo ressentimento é uma energia parada”, lembra Blenda Oliveira. “A transformação acontece quando essa energia encontra um novo destino na arte, na espiritualidade, no trabalho, nas amizades, na terapia ou mesmo no silêncio. É o movimento que dissolve o ressentimento, não o esquecimento.” 

Transformar o ressentimento é, portanto, um gesto de maturidade emocional. É deixar de esperar que o passado se desfaça e começar a cuidar do presente. Como conclui Blenda Oliveira, “perdoar é uma forma de recuperar a própria potência, de voltar a ser sujeito da própria história, sem que a dor continue ditando o rumo da vida.”

 

Blenda Oliveira - Ela é doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). É autora do livro Fazendo as pazes com a ansiedade, publicado pela Editora Nacional, que foi indicado ao Prêmio Jabuti em 2023. A especialista também palestra sobre saúde mental e autoconhecimento e vem se dedicando ao tema do envelhecimento e solidão.
  

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