Em uma breve conversa com nossos pais ou avós, notamos que a estabilidade em seus empregos, com a possibilidade de efetivação a cargos cada vez mais relevantes, era um dos maiores sonhos de todo profissional. Por muitos anos, essa premissa social era fortemente permeada no mercado, em um modelo pautado pelas horas de trabalho em troca de uma remuneração adequada para tal serviço. Mas hoje, após muitas mudanças e questionamentos colocados à mesa, especialmente pelas novas gerações, esse sistema já não se mostra sustentável, abrindo portas para soluções mais saudáveis às classes, que se não forem logo adaptadas pelas empresas, poderão levar à falência muitos negócios ao redor do mundo.
Por muitos anos, a lógica profissional aplicada no
mercado era determinada pela ascensão de cargos em uma linha racional,
recompensando os empregados por seus trabalhos prestados com remunerações
crescentes conforme seu crescimento na companhia. Um processo seguro,
determinado e estável, que deixou de ser predominante em vista das novas
demandas e exigências do mercado.
A percepção de receber uma quantia justa frente a
seus esforços se tornou alvo de questionamento perante as novas gerações, em
vista de novos fatores que ganharam relevância e maior importância, como
critérios de seletividade nos processos seletivos. Muito mais do que ter um
emprego registrado com um plano de carreira, as novas relações de trabalho
estão se baseando, cada vez mais, no propósito dos serviços ofertados pelas
empresas — e, acima de tudo, o quanto essas características estão alinhadas aos
ideais e projetos buscados por cada profissional.
Antes da pandemia, a tolerância sobre tais aspectos
mais tradicionais era elevada, sem espaço para dúvidas sobre seus benefícios.
Mas hoje, após intensas mudanças nas relações de trabalho intensificadas ao
longo do isolamento social, este modelo dificilmente continuará existindo por
muito tempo — dando espaço para propostas mais flexíveis que já podem ser
vistas ao redor do mundo. Dentre tantos exemplos, o home office é um dos mais
nítidos e significativos, viabilizando uma opção remota de trabalho que, há
poucos anos, era inimaginável por muitos empresários.
Com a proposta de muitas empresas para a volta ao
presencial, inclusive, diversos profissionais já se declararam completamente
contra tal mudança, afirmando até mesmo a busca por oportunidades que tragam
essa possibilidade do trabalho à distância, junto com outras vantagens que
proporcionem uma melhor qualidade de vida. Segundo uma pesquisa realizada pela
página Festa da Firma, 85% dos profissionais gostariam que seus empregadores
provessem mais iniciativas voltadas para a melhoria da saúde mental, uma vez
que 67% declaram que sofreram sérios prejuízos nesse quesito em seus ambientes
de trabalho.
Como solução para este cenário, muitos países
europeus estão ofertando contratos de trabalho temporários para evitar jornadas
extensas e desgastantes, enquanto, no Brasil, esse modelo ainda é encarado com
maus-olhados por muitas organizações. Em complemento a essas variações
trabalhistas, a oferta de benefícios flexíveis também deverá ser explorada mais
a fundo.
Ao invés de serem disponibilizados via uma gama de
opções predefinidas, muitas companhias já os dispõem por meio de uma quantia
financeira em um cartão de crédito, dando ao empregado o poder de escolha para
definir como e quando deseja gastar este valor. Para as empresas, essa opção se
torna muito mais benéfica economicamente, uma vez que será dispensada de altas
tributações que costumam incidir quando concedidos via depósito na conta dos
profissionais.
É difícil determinar com precisão até quando o
modelo de trabalho visto hoje continuará sendo exercido. Mas, algo é certo:
conforme novas gerações forem dominando o mercado, a tolerância sobre jornadas
mais tradicionais será cada vez menor — perdendo força para contratações mais
dinâmicas e alinhadas a propósitos sociais, como a crescente onda do ESG em
inúmeras empresas. Nesse cenário, o empreendedorismo poderá ganhar cada vez
mais destaque, como alternativa de carreira perante estes profissionais mais
questionadores.
O tempo em troca de dinheiro, certamente, não será
o modelo predominante na grande maioria dos países. Em seu lugar, novos
projetos sob demanda poderão emergir, com empregados cada vez mais
especializados em seus segmentos de interesse e com políticas sociais bem mais
definidas. Neste momento de questionamento intenso, cabe às empresas se
atentarem a essas novas demandas e se adequarem, de forma que não se percam e
fiquem estagnadas perante seus concorrentes.
Fernando
Poziomczyk - sócio da Wide, consultoria boutique de
recrutamento e seleção.
Wide
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