Gradativamente, o medo de falar sobre suicídio vai ficando para trás. Isso porque ao realizar as campanhas, a sociedade tem tido maior acesso às informações, se conscientizando, podendo assim romper com as barreiras e tabus que giram sobre o assunto. Se de um lado se tem maior acesso as informações e da prevenção, de outro, um aumento no número de casos registrados em todo o mundo.
De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), em 2019 foram 700 mil pessoas que tiraram a própria
vida devido a transtornos mentais. Entre jovens de 15 e 29 anos, o número de
mortes por suicídio supera aquelas provocadas por HIV, malária e câncer de
mama.
“Nós temos um problema global
em torno do suicídio. O ato contra a própria vida na verdade é o ápice de um
adoecimento, referenciada principalmente pela depressão, como um dos principais
fatores de risco”, explica a psicóloga clínica hospitalar, Meire Rose Cassini,
gestora do serviço de psicologia do Hospital Felício Rocho. No Brasil, isso
significa um problema ainda mais relevante. Há estimativas que apontam: cerca
de 4% dos adolescentes no país apresentam sinais de depressão.
“Por muito tempo, a depressão
era tratada dentro de casa como “frescura” ou “falta de vergonha na cara”. O
indivíduo não tinha suporte nem mesmo da família, e isso resultou em muitas
mortes, porque agravava um problema que já estava bastante agravado”, recorda a
psicóloga. “Hoje uma consciência maior da sociedade em torno da depressão e
outros transtornos mentais que podem culminar no suicídio”, acrescenta.
Para Meire Rose Cassini,
psicóloga especialista na área, palestrante e pesquisadora na temática de
prevenção e promoção de cuidados em saúde, esse esclarecimento é o grande
mérito do Setembro Amarelo, agenda que acontece desde 2015 no Brasil, voltada
exatamente para conscientização dos cuidados em saúde mental e a prevenção ao
suicídio. “Estamos falando de prevenção, e, no caso do suicídio, isto quer
dizer debruçar sobre seus fatores de risco. Há pessoas que sofrem de depressão
e sequer sabem. Vão lidando com emoções negativas como se fosse fruto de mais
um dia ruim. Mas há um momento em que se vêem mergulhados num mundo sombrio. O
que o paciente e a família precisam saber e entender é que há solução para essa
dor, e que não passa pelo autoextermínio, mas exige cuidado profissional a cada
caso”, defende.
A psicóloga ainda acrescenta
que, o suicídio é um fenômeno complexo, multicausal, no qual estão inseridos os
aspectos psicológicos, sociais, econômicos, biológicos, entre outros, que devem
também serem pontos de atenção, mas sem dúvida, se pode afirmar é que existe um
forte sofrimento, sobrecarregado dos sentimentos desesperança, desamparo, de
desespero relacionado ao indivíduo com intenção de suicidar-se.
Números elevados
No Brasil e no restante das Américas, em particular, o Setembro Amarelo mostra-se
ainda mais importante. Há uma queda nos índices de suicídio no restante do
mundo que mostra com que os casos em todo o mundo diminuíram em 36%. Contudo,
nos continentes americanos o crescimento foi de 17% entre 2000 e 2019.
“Estamos na contramão do
resto do mundo. Por isso, precisamos promover a conscientização de forma ainda
mais incisiva, e combater os índices atuais. O Setembro Amarelo carrega em si
um otimismo por natureza, porque quanto mais pessoas aprendendo sobre a doença,
maiores as chances de acolher quem está sofrendo com o problema. É isso que
pode ajudar a diminuir o número de casos. Precisamos quebrar os tabus e romper
com os preconceitos sobre cuidar da saúde mental e, intensificar o compromisso
com mudanças de atitudes, comportamento e de ações que promovam a prevenção e
os cuidados e saber que cuidar da saúde mental é cuidar da vida”, conclui.
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