O caso do médico anestesista que estuprou uma mulher grávida, no momento do parto, no Rio de Janeiro, é mais um episódio que escancara uma já conhecida fragilidade social que fortalece a cultura do estupro no Brasil. Uma cultura distorcida que parece não estar preocupada em ensinar, desde os mais jovens, a não estuprar, a não cometer abusos ou toxicidades contra quem quer que seja. Mas apenas propaga rasos ensinamentos de como não sofrer o estupro. Rasos, pois cada vez mais, os noticiários se enchem de histórias tristes como essa.
Muitos estão em uma busca desesperada de tentar
rotular o criminoso com um diagnóstico: psicopata? Doente mental? Psicótico?
Estuprador em série? Mas, o que muitos não se dão conta é que, não é possível,
fechar um diagnóstico subjetivo desta natureza, apenas com estes elementos.
É preciso um trabalho profissional, investigativo
do ponto de vista da saúde mental, de forma mais minuciosa para concluir se
existe algum tipo de enquadramento psíquico. No entanto, essa não deveria ser a
principal preocupação, pois qualquer definição psíquica agora, só vai servir
para minimizar uma pena judicial. O que importa, no entanto, é o ato criminoso,
o estupro em si e as consequências devastadoras deixadas como marcas irreversíveis
em todas as vítimas desse caso que chocou todo o país.
Infelizmente, a nossa realidade é cruel.
Estatísticas mostram a crescente dos relatos de estupros, de todas as
naturezas. Seja dentro das casas das vítimas, ou mesmo nas ruas, em eventos, em
locais de trabalho ou mesmo, como foi esse fato, em instituições de saúde. O
que demonstra a importância de políticas de proteção mais robustas,
padronização de regimes éticos e de seguranças internas eficazes dentro de
todos os ambientes, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de
crueldade e perversidade que, certamente, provocam, nas vítimas, mudanças
severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores
e com o mundo a sua volta, possibilitando ainda, o transporte do trauma para
toda sua trajetória de vida.
Dentro deste contexto, se faz urgente o
fortalecimento dos cuidados e da escuta ativa direcionados as vítimas deste
crime, muitas vezes silencioso, que anula o sorriso e rouba a vivacidade de
quem é atacado, ferindo e provocando sensação de culpa, inferioridade, fobias,
além de dores físicas e na alma. Essas vivências traumáticas podem ser
irreparáveis. Já que, os reflexos do abuso sexual e do estupro, afetam
diretamente o psicológico através dos traumas sofridos.
Enfim, o caso do anestesista estuprador possuí uma
dinâmica de perversões ilimitadas, que se manifesta como um horror contínuo
para as vítimas que foram ceifadas de forma cruel e sórdida pelo perverso e
desumano abusador. Sem sombra de dúvidas, muitas variáveis e complexidades
envolvidas acusam o dano psíquico estabelecido nas mulheres vitimadas por esse
indivíduo, que deveria defender a vida e, no entanto, atentou contra ela. Que
ele pague por sua violência e que a sociedade seja mais severa na tratativa de
crimes desta natureza, estabelecendo maior segurança e políticas de proteção
para os cidadãos de bem. Além disso, que seja propiciado a essas mulheres o
acompanhamento e amparo psicológico, médico e social adequado, na tentativa de
resgatar a autoestima e a confiança em dias melhores.
Dra. Andréa Ladislau - Psicanalista
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