Especialistas explicam que a concorrência com o mercado estrangeiro é um dos principais fatores para a perda de profissionais no país
Considerada uma das “profissões do futuro” por
analistas do mercado, a área de tecnologia está em ascensão. Porém, estima-se
que até 2030 a falta de profissionais chegue a 1 milhão no Brasil, de acordo
com estudos da McKinsey. As razões vão desde o aumento da demanda, passando por
desafios na formação até a competição com o mercado estrangeiro, que absorve
parte dos talentos do país.
“Esses motivos estão relacionados entre si e precisamos
ter um olhar macro na busca de soluções, considerando o ponto de vista de
estudantes e colaboradores, das empresas, das universidades e do poder
público”, defende Felipe Matos, cofundador e CEO da Sirius Educação, escola
brasileira especializada na formação e capacitação na área de tecnologia.
Especialistas explicam como acontece essa falta de profissionais e quais
caminhos podem ajudar a superá-la.
1 - Demanda aumentada
O mercado de trabalho de tecnologia está em
ascensão na medida que a internet e ferramentas digitais se popularizam. Os
desafios trazidos pela pandemia também aceleraram a digitalização das empresas.
No estado de São Paulo, o crescimento de 671% das vagas no setor foi registrado
em 2020 pela plataforma Catho. Já a procura por serviços terceirizados de TI
registrou um aumento de 142% em 2021, segundo um levantamento da empresa de
suporte FindUP.
“O mercado, que já disputava por profissionais
qualificados de TI, passou a precisar deles em maior número. Com a chegada da
pandemia e a necessidade de mais procedimentos remotos e digitalização das
empresas, a demanda deu um salto”, explica Manoel Valle, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Serviço de
Apoio Administrativo (Abrapsa), entidade sem fins lucrativos que reúne
empresas com o interesse comum de promover a terceirização de processos de
negócios no Brasil.
2 - Formação abaixo da demanda
Outro motivo determinante para este déficit é a
formação aquém da demanda. Em comparação a outras profissões, os estudantes
brasileiros ainda optam mais por carreiras em outras áreas. No Brasil, há 11
estudantes de administração e direito para cada estudante de tecnologia,
segundo estudo realizado pela McKinsey, enquanto que nos Estados Unidos e
China, a proporção (em torno de 3 a 5) muda expressivamente. “Estamos vendo um
crescimento na transição de carreira para o ramo e mais profissionais
interessados no setor. A tendência é que esse número continue aumentando, mas
ainda há muito trabalho a ser feito para o gap ser superado”, analisa Matos.
3 - Profissionais mais
exigentes
Em um cenário de vagas de sobra, os profissionais
disputados tornam-se mais exigentes ao escolherem onde trabalhar. Essas
condições vão além da remuneração. Os candidatos estão em busca de qualidade de
vida, de empresas com a cultura alinhada ao seu estilo de vida e com
perspectivas de crescimento. “Esses trabalhadores e trabalhadoras, relacionados
ao fenômeno que chamamos de Futuro do Trabalho, têm novas preocupações. O
bem-estar, melhores condições de trabalho, jornadas menores e a busca por
significado em sua ocupação são prioridades”, esclarece Arnóbio Morelix,
cofundador e CIO da Sirius Educação.
4 - Mercado estrangeiro
O êxodo de talentos para o exterior é outro fator
que agrava esta carência. Profissionais de Tecnologia da Informação que dominam
outro idioma, em especial o inglês, estão migrando para empresas estrangeiras e
se inserindo no mercado de trabalho global. “Há muitos desafios para as
empresas brasileiras conseguirem reter esses funcionários, principalmente com o
aumento da empregabilidade remota após a pandemia e diante da concorrência com
a remuneração em uma moeda estrangeira e mais valorizada”, comenta Manoel
Valle.
5 - Papel das empresas
Para desenvolver projetos de digitalização e
inovação nas empresas, contar com colaboradores que dominam tecnologia é
primordial. Para superar este problema, que afeta diretamente as companhias, um
dos caminhos é a recapacitação, ou seja, identificar no quadro atual de
empregados quais possuem interesse em adquirir novas habilidades e investir na
formação. Outra estratégia importante é estreitar laços com parceiros, como
aceleradoras, startups e universidades, para atrair jovens que já estão
seguindo esse caminho.
“Faltam profissionais e cada vez mais pessoas sabem
disso. Com o tempo, é provável que esse gap diminua consideravelmente, com
estudantes que estão começando agora se formando futuramente. O problema é que
as empresas não podem esperar por esse movimento. A área está desfalcada neste
momento e algumas soluções imediatas são necessárias”, completa Morelix.
Sirius Educação estudantes no campo de trabalho,
formando suas competências também baseadas na demanda do contratante.
Associação Brasileira de Provedores de Serviço de
Apoio Administrativo – ABRAPSA
abrapsa.org.br.
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