Data representa um grande desafio para milhões de fumantes
O Dia Mundial sem Tabaco é assinalado em 31 de
maio. Para a maioria dos fumantes, a data representa um grande desafio. Marcada
por uma série de ações que visam a conscientização da população para os males
do tabagismo, a ocasião pode ser encarada também como o “Dia D” para cuidar da
saúde, da aparência ou até mesmo para abandonar o
cigarro.
O tabagismo afeta a saúde geral de várias formas.
Seus efeitos podem se refletir no organismo, inclusive na boca. Além de ser
responsável por uma série de doenças crônicas, como distúrbios cardiovasculares
e reprodutivos, doenças respiratórias, neoplasias malignas em vários órgãos,
doenças da pele, gastrointestinais e anormalidades na tireoide, o tabagismo
afeta também a saúde bucal.
O tabagismo e as lesões bucais
Reconhecido pelo Instituto Nacional de Câncer
(INCA) como uma doença crônica causada pela dependência da nicotina presente
nos produtos à base de tabaco, o hábito de fumar pode contribuir para o
surgimento e progressão de lesões bucais, como o câncer de boca e a doença
periodontal (DP).
O INCA estima que ocorrerão 4.330 novos casos de
câncer de cavidade oral em cada ano do triênio 2020-2022, no Estado de São
Paulo, sendo 3.260 em homens e 1.040 em mulheres. Na capital, o número total de
novos casos estimados é de 690, sendo 450 homens e 240 mulheres. São Paulo é o
estado com o maior número de mortes relacionadas ao câncer de boca. Em
2020, 1.492 pessoas morreram vítimas da doença no Estado, sendo 1.172 homens e
320 mulheres.
O câncer de boca, segundo o cirurgião-dentista Dr.
Fabio Alves, é um tumor maligno que atinge o lábio, estruturas como a língua,
as gengivas, o céu da boca e parte da garganta. Dentre os causadores da doença,
o tabagismo aparece como o principal fator etiológico (pode estar relacionado a
70% das novas ocorrências). Quando diagnosticado precocemente, o câncer de boca
apresenta maior chance de tratamento e cura.
Já a doença periodontal, também conhecida como
gengivite ou periodontite, caracteriza-se pela inflamação e destruição dos
tecidos de proteção (gengiva) e suporte (osso, cemento e ligamento periodontal)
dos dentes. Essa doença tem uma evolução mais acelerada principalmente em
pacientes diabéticos, imunossuprimidos e fumantes. “Além dos fumantes abrigarem
maior número de microrganismos potencialmente causadores de periodontite, o
fumo modifica vários mecanismos da resposta imune do hospedeiro, como função
dos neutrófilos, atividade dos fibroblastos, produção de anticorpos e de
mediadores inflamatórios”, explica.
Sorriso amarelo - clareamentos e implantes
dentários resolvem?
O hábito de fumar desperta algumas preocupações
relacionadas também à estética e à autoestima. Os incômodos costumam ser
driblados com recursos simples, como balas (para melhorar o hálito), e com
medidas mais sofisticadas, como o clareamento dental (procedimento para remoção
das manchas) ou até mesmo implantes dentários (usados na substituição dos dentes
perdidos).
No entanto, o especialista chama a atenção para
alguns detalhes sobre o clareamento, pois essas medidas podem ser temporárias.
As principais substâncias encontradas no tabaco e relacionadas às alterações da
pigmentação normal da boca, seja ela dente ou tecidos moles, são a nicotina e o
alcatrão. O alcatrão presente no cigarro escurece os dentes e causa mau hálito.
Esta substância dissolve-se na saliva e penetra facilmente nas fossetas e
fissuras do esmalte.
Já a nicotina, além de pigmentar o dente, estimula
a produção de melanina nas mucosas, causando manchas nos dentes e mucosas da
boca. A dica, segundo o Dr. Fabio, é realizar a profilaxia por meio de
consultas regulares ao cirurgião-dentista para fazer a limpeza e remoção das
manchas. “Caso o paciente opte pelo clareamento, é importante lembrar que o
procedimento de limpeza será temporário. Se a pessoa continuar fumando, haverá
pigmentação novamente”, diz.
Já nos casos de implantes dentários, ele explica
que os índices de sucesso variam de 91,8% a 95,6%, sendo que as lesões
peri-implante são as principais causas de perda de implantes. Os índices de
falência foram maiores em implantes localizados na maxila, em pacientes com
doenças metabólicas, pacientes fumantes e com pobre higiene bucal.
De acordo ainda com o cirurgião-dentista, os
efeitos do fumo na osteointegração de implantes não são totalmente
esclarecidos, contudo, os pacientes que fumam têm mais problemas na gengiva e
consequentemente têm mais chances de perder os dentes. “Essa perda não se dá
por cárie, a perda se dá por problemas gengivais, isso porque perde-se o
suporte de tecido do dente que é a gengiva (periodonto) e o mesmo se dará no
caso dos implantes, pois, sem suporte da gengiva, haverá uma durabilidade menor
do procedimento”, esclarece.
Fumante passivo
Atualmente, conhecem-se vários efeitos deletérios
do fumo passivo. Embora o efeito do mesmo no desenvolvimento da doença
periodontal ainda não esteja bem estabelecido, o Dr. Fabio lembra que o fumante
passivo está exposto a um ambiente (casa, trabalho ou qualquer local público)
com fumaça do cigarro e, consequentemente, também está suscetível aos
malefícios do tabaco. “Pessoas expostas cronicamente à fumaça do cigarro podem
desenvolver asma, bronquite, doenças cardiovasculares e câncer no pulmão”,
diz.
Os riscos do cigarro eletrônico
A venda de cigarros eletrônicos é proibida no
Brasil, no entanto, a versão moderna ganha cada vez mais adeptos, o que gera
mais preocupações, pois eles também têm suas peculiaridades e seus
riscos.
Segundo o cirurgião-dentista, são poucos os estudos
que abordam os diferentes formatos, mas já se sabe, por exemplo, que uma hora
de cigarro eletrônico equivale a 10 cigarros convencionais fumados. A
comparação é importante, pois as versões eletrônicas chamam a atenção por
emitir menos fumaça e pela discrição, já a ameaça está na alta concentração de
nicotina, provocando o vício de forma mais intensa.
Como orientação final, o Dr. Fabio lembra que todos
nós devemos consultar um cirurgião-dentista regularmente para avaliação da
boca. “Manchas ou placas brancas/vermelhas, feridas que não cicatrizam podem
ser sinais do câncer de boca e o diagnóstico precoce é fundamental para um
tratamento eficaz e cura destas doenças”, finaliza.
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP
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