No Dia Mundial Sem Tabaco, maior hospital exclusivamente pediátrico do país, chama atenção para complicações que substâncias nocivas presentes no dispositivo podem causar
Mais
prático, com um formato mais moderno e oferecendo uma infinidade de sabores e
aromas, que evita o incômodo do cigarro tradicional, especialmente em relação
ao odor, os vaporizadores passaram a ser socialmente aceitáveis em diferentes
ambientes e também tem ganhando cada vez mais espaço entre os jovens. O
relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças
Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado em abril deste ano,
apresentou um levantamento sobre o uso de cigarros eletrônicos no país. Pelo
menos um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no
Brasil, ou seja, 19,7%.
Apesar
do comércio do dispositivo ser proibido no Brasil desde 2009, adolescentes e
jovens têm acesso fácil ao cigarro
eletrônico por meio da comercialização na internet, no comércio
informal ou na aquisição no exterior. Com um cheiro mais agradável e menos
produção de fumaça, os vaporizadores – como também são chamados – passam a percepção
de serem menos prejudiciais à saúde e não viciam. Os adolescentes podem começar
a usar o cigarro eletrônico por curiosidade ou acreditando que ele pode ajudar
a deixar o tabagismo.
De
acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o mecanismo de
funcionamento do cigarro eletrônico permite simular o ato de fumar um cigarro
convencional, mas ao contrário desse, no qual a folha do tabaco é queimada, no
cigarro eletrônico uma solução líquida é vaporizada para ser inalada. O
líquido, que contém nicotina e outros produtos químicos, é aquecido com o uso
de bateria. Pediatra e pneumologista do Hospital Pequeno Príncipe, Débora Chong
explica que o aquecimento das substâncias produz compostos agressivos.
O
vapor de nicotina gerado atinge as vias respiratórias da mesma forma que a
fumaça do cigarro convencional, alcança os alvéolos e é absorvido
sistemicamente sendo igualmente nocivo e viciante, levando à toxicidade crônica
já conhecida. Já se comprovou que mesmo nos casos onde opta-se por não acrescer
a nicotina, o vapor condensado inalado estimula a produção de substâncias
químicas inflamatórias, afetando macrófagos alveolares. “Os problemas vão desde
crises respiratórias a quadros de insuficiência respiratória aguda que precisam
de internação em UTI”, conta a médica.
A
especialista também desmitifica a ideia de que os cigarros eletrônicos podem
ajudar as pessoas a pararem de fumar, lembrando que o uso do dispositivo na
adolescência pode ser a porta de entrada para o tabagismo e colocando em xeque
avanços no combate à dependência química da nicotina. Segundo ela, estudos
mostram que o adolescente que começa a usar cigarro eletrônico tem maior chance
de migrar para o cigarro convencional.
Mesmo
dispositivos eletrônicos sem nicotina são viciantes, já que o vício de fumar
não tem apenas origem química, mas principalmente psíquica. A pediatra alerta
que é preciso estar atento aos adolescentes, por ser uma faixa etária muito
suscetível. A curiosidade por experimentar novas sensações e a necessidade de
afirmação no meio onde vivem são fatores que colaboram para que não ocorra
redução dos índices de tabagismo nesse grupo. “Um adolescente já tem seu pulmão
formado, mas é uma lástima ter um pulmão tão jovem lesionado. Além disso,
quanto mais cedo a pessoa começa, mais tempo ela vai fumar e, consequentemente,
terá mais tempo de exposição às substâncias nocivas e de lesão”, considera.
Narguilé
Outro
dado inédito da pesquisa Covitel foi de uso de narguilé entre a população
brasileira. O relatório mostrou que a taxa de experimentação de narguilé entre
os jovens de 18 a 24 anos é de 17%. A médica do Pequeno Príncipe lembra que
estudos já comprovaram que uma hora usando narguilé equivale a fumar 80 a 100
cigarros convencionais. Além disso, ela ressalta também outro risco do uso de
narguilé durante a pandemia da COVID-19. “A possibilidade de contrair doenças
que podem ser transmitidas por meio de gotículas de saliva já existia, por
causa do compartilhamento, mas em relação ao coronavírus o risco é ainda
maior”, finaliza.
Sem
Tabaco
O
Dia Mundial sem Tabaco – lembrado em 31 de maio – foi criado em 1987 pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes
evitáveis relacionadas ao tabagismo. Todos os anos, nessa data, a OMS e seus
parceiros celebram o Dia Mundial sem Tabaco (WNTD). A campanha anual é uma
oportunidade para aumentar a conscientização sobre os malefícios do tabaco e
desencorajar o uso da substância em qualquer forma.
Hospital
Pequeno Príncipe
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