Muito ambicioso. Nos últimos
anos, com Copa, Olimpíadas e tudo mais, o total de turistas recebidos por ano
no Brasil no período tem oscilado em torno de 6,6 milhões, com leve aumento em
2018, e dos quais, 61% da América do Sul.
Mas sempre é preciso lembrar
que esse número é apenas um pouco maior do que a Argentina recebe e muito
inferior aos 84,5 milhões da França, aos 68,2 da Espanha, ou os 77,5 dos
Estados Unidos, os maiores destinos do mundo. O México recebe 32,1 milhões,
beneficiado pela proximidade com Estados Unidos mas a Rússia recebeu 31,3
milhões. A Malásia, para falarmos de outra geografia, recebe 25,7 milhões de
turistas.
A explicação clássica é que
estamos fora do eixo geográfico dos fluxos turísticos mais intensos que
envolvem o hemisfério norte do mundo. Melhor seria dizer que estávamos fora do
eixo global.
O fluxo turístico mundial
nos próximos terá profundas mudanças com o deslocamento econômico global
envolvendo a Ásia e outras economias emergentes.
Só de chineses serão 150
milhões por ano visitando pontos de interesse global. E a classe média e rica
da Índia já conta com mais de 350 milhões de pessoas que, gradativamente,
também começarão a viajar mais.
Num primeiro momento
claramente visitarão os destinos turísticos mais tradicionais mas, de forma
gradativa, irão diversificar seus destinos em busca do novo, do inusitado, do
único e do que possa despertar diferentes interesses.
Relevante considerar que
existe uma clara correlação entre amadurecimento de uma população em termos de
hábitos e consumo e o deslocamento de seus dispêndios da aquisição de bens para
a aquisição de mais serviços, entre eles, educação, lazer, saúde,
entretenimento e viagens. É uma constatação econômica advinda da análise do PIB
de diferentes países, desenvolvidos e emergentes.
E quando falamos de turismo
temos que considerar todas as suas modalidades que envolvem, entre outras, o
religioso, de esportes, de medicina, de negócios, de eventos, de saúde, lazer,
entretenimento, sustentabilidade, aventura, cultural e muitos outros.
É frustrante, para dizer o
mínimo, que um país com as dimensões e atrativos que o Brasil tem, apontado
como o de maior potencial em recursos naturais no mundo, segundo o estudo The
Travel & Tourism Competitiveness, e sendo uma das dez maiores economias
globais, esteja apenas no 27º lugar no ranking de destinos turísticos no mundo.
Como em muitas outras
situações, não é uma questão de falta de recursos, mas de aplicação de recursos
e foco.
Tem tudo a ver com
competência, planejamento e excelência na execução.
Já foram feitos inúmeros
projetos, pesquisas, campanhas e consultorias e continuamos patinando nos
mesmos patamares. Enquanto isso somos cada vez mais a viajar e gastar mais no
exterior, na contramão do que deveria acontecer.
A começar pelo fato de que o
Ministério do Turismo tem sido nos últimos vários anos moeda de troca nas
composições políticas e não administrado com a ambição de uma transformação
radical nessa área. Nada deveria justificar que não estivesse integrado em todo
o esforço econômico de geração de receitas para o país, e como tal, ligado
também ao Ministério da Economia.
É verdade que nossa
infraestrutura ainda é deficitária, que os portos e aeroportos deixam muito a
desejar, que o número de hotéis ligados às grandes redes internacionais seja em
número insuficiente, que o turismo receptivo seja pouco desenvolvido e que
muito haja ainda por melhorar em todas essas e muitas outras frentes. Daí a
importância da visão, do projeto e do planejamento.
Temos um conjunto de
elementos naturais impressionante, dos mais privilegiados do Mundo quando, cada
vez mais, a Natureza e a Sustentabilidade são valorizados.
Temos música, cultura, arte,
tradições, esporte, medicina, moda e vida social intensa nas grandes cidades e
espalhados pelo país com atrações permanentes que inspiram o mundo. E até
cambio favorável para muitos serviços.
O que nos falta é orquestrar
tudo isso para alavancar o fluxo turístico de forma consistente para além da
liberação de visto para viajantes de alguns países. Ajuda mas é muito pouco.
É preciso pensar grande e de
forma ambiciosa com a visão de buscarmos alcançar 30 milhões de turistas até
2030. Rússia e México poderiam ser a referência quantitativa.
Mas como tudo que é
relevante no mundo atual, não deveria ser um esforço isolado de quem quer que
seja.
Deveria integrar numa
inusitada coalizão o próprio governo federal, governos estaduais, cidades,
agências e operadoras de viagens, companhias aéreas e de navios, além de
empresas e bandeiras de cartões de crédito, seguradoras, locadoras e muitos
mais.
Os custos atuais de
pesquisas, campanhas e ações de comunicação e promocionais, com o uso mais
racional das mídias digitais, podem tornar possível uma ambiciosa e segmentada
transformação na área de turismo deixando o país de ser exportador de divisas
para criar uma balança comercial positiva e relevante.
Simplesmente projetando os
patamares atuais de dispêndio em torno de US$ 3 mil por viagem e estada de 15
dias médios, poderia significar um aumento dos atuais US$ 20 bilhões para US$
90 bilhões de receitas.
Os 30 milhões de turistas em
2030 podem não ser apenas um sonho. Mais do que uma questão de ambição, é uma questão
de visão e capacidade de realização.
Marcos Gouvêa de Souza – Fundador e diretor-geral do Grupo GS&, um dos maiores conhecedores e especialistas em
varejo do país. Mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas,
SP, foi professor da própria FGV e da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM). Tem graduação, pós-graduação e mestrado na Escola de Administração de
Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, e graduação na Escola
Superior de Propaganda e Marketing.
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