Cobrança
exacerbada x liberdade sem limites
Seja nas redes sociais, no noticiário, nos
programas de televisão, ou mesmo no grupo de mensagens do condomínio, a vida em
sociedade e as opiniões se mostram cada vez mais extremas. Parece não existir
mais equilíbrio ou bom senso nas relações, apenas certo ou errado, sim ou não,
direita ou esquerda, preto ou branco.
Como orientadora educacional, tenho contato
praticamente diário com os pais de alunos de todas as idades, desde
pré-escolares até adolescentes que se preparam para o vestibular. De uma
maneira geral, percebo dois perfis bastante distintos, salvando-se as exceções.
De um lado, pais exageradamente permissivos e do lado oposto, os radicalmente
exigentes. Ambos podem estar prejudicando o desenvolvimento de seus filhos,
ainda que a intenção seja contrária. Para citar dois exemplos:
Certa vez, entrevistei uma mãe e o seu filho de
nove anos, que tinha dificuldades em matemática. Durante a entrevista, percebi
uma dinâmica bastante curiosa entre eles. A mãe fez questão de deixar claro,
desde o início, que o filho só faria o curso se estivesse de acordo, pois não
queria “sobrecarregá-lo”.
Todas as perguntas voltadas à ela eram respondidas
somente após um olhar apreensivo em direção ao filho, buscando a sua aprovação.
O dia e horário das aulas foram escolhidos por ele. Antes do término da
entrevista, ele se levantou, porque estava entediado. A mãe, instintivamente,
levantou-se atrás do filho, sendo que a entrevista não havia terminado.
Esse aluno desistiu do curso, dois meses após
começá-lo. Quando a mãe veio me informar da decisão, eu questionei se ela
acreditava que uma criança de nove anos teria maturidade suficiente para tomar
decisões que afetariam a sua educação e o seu futuro. Ela encolheu os ombros e
disse: “se é o desejo dele, o que eu vou fazer?”.
O que fazer, nesse caso, é assumir a posição de
mãe, pai ou responsável. Até nos tornarmos adultos, confiamos na experiência e
discernimento de pessoas com mais vivência e capacidade para tomar as decisões
que poderão moldar o nosso futuro. Do contrário, ficamos sem rumo.
No lado oposto da balança, igualmente tive
experiências desconcertantes. Um menino de oito anos começou a fazer os cursos
de português e matemática. Ao contrário do outro aluno, esse permaneceu por
muito mais tempo. A sua postura também foi muito diferente a do outro exemplo
mencionado: no início, muito empolgado, feliz por finalmente conseguir entender
os conteúdos escolares e melhorar as notas. O seu desempenho escolar melhorou
muito. Tudo parecia ir muito bem, mas, com o passar do tempo, notei que o aluno
parecia ir ao curso contra sua vontade.
Chegava de mau-humor, respondia, chegava a ser
rude. Por outro lado, não faltava às aulas e entregava todas as lições de
maneira impecável, sem erros. Chamei a mãe para conversar uma, duas, três
vezes, sempre que percebia uma mudança de comportamento do aluno. Por fim, ela
me confessou que o nível de exigência dela em relação às tarefas do aluno eram
altíssimas: conferia toda a lição e não admitia nenhum erro, chegando a dar
castigos físicos no filho se ele não fizesse os deveres no nível que ela
considerava ideal.
É óbvio que não demorou para esse aluno associar algo
que no início era positivo e contribuía para o seu desenvolvimento a algo
negativo, que trazia sofrimento. Ambas experiências me fizeram pensar em como
posturas extremas poderão ter influenciado de maneira negativa a relação de
ambos com o aprendizado.
Como educadora, acredito que existem muitas formas
de compreender o mesmo assunto e que o segredo está em respeitar o ritmo de
cada um. Qualquer criança pode aprender se for encorajada na medida certa. Ao
mesmo tempo, estabelecer regras e limites é primordial, pois, sem isso, a
criança fica desnorteada. Por isso, é importante ter uma rotina de estudos
saudável, positiva, fornecendo os recursos necessários, mas sem cobrar
perfeição.
Se você deseja ajudar o seu filho a desenvolver o
seu máximo potencial, pode começar por algumas regras básicas:
- Conheça
o seu filho. Passe tempo com ele, entenda suas fraquezas e fortalezas;
- Elogie cada conquista;
- Não
enfatize os erros, mas não menospreze a importância de aprender com eles e
ressalte que sempre é possível melhorar;
- Não
procure uma fórmula mágica. Cada criança é única e o método que funciona
para um pode não funcionar para o outro, busque um método que funcione
dentro da sua realidade;
- Nunca duvide do potencial de seu filho e diga isso a ele. Isso o ajudará a se tornar mais confiante e aumentará o seu desejo de melhorar.
Michelly
Gassmann - Escritora,
engenheira e consultora. Gestora de equipes, projetos, organização e
planejamento. Orientadora educacional do método Kumon. MBA em Gestão
estratégica e econômica de projetos pela FGV. Graduada em Engenharia elétrica
com foco em telecomunicações pela FEI. Autora do livro A sétima
ordem, publicado pela Literare Books International.
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