Professores enfrentam
muitos desafios diariamente e isso é de conhecimento de todos. Qualquer pessoa
pode relacionar muitos deles em questão de segundos. Para exercer essa
profissão há que se ter não apenas muito conhecimento e preparação, mas também
coragem e criatividade. No entanto, fazer a mágica de ensinar o que não se sabe
é quase impossível para qualquer um, inclusive os docentes. De acordo com novos
estudos do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, divulgado no final
do mês passado, preparar adequadamente os professores, em especial áreas
críticas com falta de professores, como faz a ONG Educando (cujo foco está na
formação de docentes de escolas públicas em métodos práticos nas disciplinas de
matemática, física, química e biologia), passa a ser uma necessidade primordial
e de extrema urgência.
A razão é simples.
Segundo a pesquisa, 33,5% dos educadores brasileiros dos ensinos acima
mencionados não tinham, até o final de 2018, formação adequada para lecionar na
área de atuação escolhida. Ao todo, 37,8% dos professores dos anos finais do
ensino fundamental (entre o 6º e o 9º ano) e 29,2% dos docentes do ensino
médio.
Os percentuais mostram
profissionais sem qualquer licenciatura ou complementação pedagógica nas
disciplinas pela qual eram responsáveis (os cinco primeiros anos do ensino
fundamental não entraram na pesquisa em razão da nomenclatura diferenciada das
matérias, que não são divididas como nos anos sequenciais).
O Anuário é elaborado
com dados do Censo, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
Contínua – ambos realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) – e outras pesquisas do nicho e publicado em parceria entre o
movimento Todos pela Educação e a editora Moderna.
Não à toa a Unesco, braço
de educação e cultura da ONU (Organização das Nações Unidas), mostra o Brasil
em 88º lugar – entre 127 países – no desempenho da educação, segundo o
documento The Education for All (EFA) / Global Monitoring Report (GMR). No país
da evasão escolar (o mais recente Censo Escolar elaborado pelo Inep – Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – aponta para mais
de dois milhões de crianças e adolescentes fora das salas de aula), o “efeito
dominó” do declínio da educação brasileira parte da falta de investimentos em
infraestrutura, merenda e materiais. Mas continua em curso com falhas
clamorosas no que tange aos professores: falta de incrementos salariais, planos
de carreira e, como já citado, formação adequada.
Sobre salários e planos
de carreira, o Anuário mostra que, em 2018, docentes da educação básica tinham
rendimentos 30% menores em relação ao salário médio dos profissionais de curso
superior. Ao comparar apenas com profissionais das áreas de exatas ou saúde,
queda de 50%.
Sobre a formação,
vislumbramos saídas? Além do árduo trabalho de instituições independentes do
terceiro setor (como a ONG Educando), cujo intuito é auxiliar ao máximo em
certas lacunas abertas na educação brasileira, a garantia da formação docente
na educação básica é uma das 20 metas previstas pelo PNE (Plano Nacional da
Educação), em vigência desde junho de 2014. O texto, dentre outros pontos,
assegura a professores da educação básica formação, de nível superior, na
específica área de atuação. E a base nacional docente foi além: apresentou ao
MEC (Ministério da Educação), em dezembro do ano passado, proposta de uma
avaliação anual para habilitação de educadores.
Falta-nos, apenas,
portanto, direcionamento correto das políticas de investimentos na educação
básica e, ainda, fazer uma “mágica” – em uso convergente da mesma verba – para
transformar documentos oficiais das instâncias governamentais em objetos
animados, que funcionem na prática. Em união, como um comboio, auxiliando
professores, alunos e a educação em geral a caminhar para frente com segurança
e assertividade.
Capacitar e valorizar
professores ao fornecê-los suportes pedagógico, psicológico e planos de
carreira justos é garantir um futuro com mais educação e estimulo ao constante
aprendizado.
Marcos Paim
- professor e diretor do programa STEM Brasil da ONG Educando.
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