Médicos reforçam
importância de ambientes bem ventilados e alternativas mais seguras para proteger a
saúde respiratória infantil nos meses frios
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
(SPRS) alerta pais e responsáveis sobre os riscos associados à exposição de
crianças à fumaça proveniente de lareiras, fogões a lenha e aquecedores de
combustão durante os meses de inverno, especialmente entre junho e setembro. A
prática, comum em diversas regiões do estado para aquecimento doméstico, pode
agravar quadros respiratórios e comprometer o desenvolvimento pulmonar,
sobretudo em bebês e crianças pequenas.
“Ambientes com queima de lenha geram partículas ultrafinas
(como o material particulado PM2.5) que atingem os alvéolos pulmonares e, em
crianças, esse impacto é ainda mais grave, pois o sistema respiratório está em
formação e elas respiram mais vezes por minuto que os adultos”, explica o
pediatra e pneumologista Dr. Sérgio Amantéa, associado à SPRS.
Estudos científicos apontam que a exposição
frequente à fumaça de lareiras e aquecedores a lenha pode causar sérios
impactos na saúde respiratória de bebês e crianças pequenas. Entre os problemas
mais comuns estão o aumento de chiado no peito (sibilância), bronquiolite e
infecções respiratórias repetidas. Crianças que já têm doenças como asma podem
ter crises mais intensas e frequentes. Mesmo aquelas sem diagnóstico prévio
podem apresentar redução da capacidade pulmonar ao longo do tempo. Além disso,
há evidências de que a exposição contínua a esses poluentes aumenta o risco de
desenvolver asma na fase escolar. Um dos principais vilões é o material
particulado fino (chamado PM2.5), presente na fumaça e capaz de atingir as
áreas mais profundas dos pulmões e até a corrente sanguínea — em níveis acima
do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o médico, a
melhor conduta é evitar totalmente o contato.
“Não existe tempo de exposição seguro quando se
trata de bebês. Mesmo uma permanência curta no ambiente com lareira ativa pode
ter efeitos adversos”, reforça Dr. Amantéa.
Tire suas dúvidas - Ações
práticas para redução da exposição infantil à fumaça de lenha
Pais e responsáveis podem adotar medidas efetivas,
como:
• Evitar o uso de lareiras em ambientes onde há crianças, especialmente bebês e lactentes.
• Ventilação cruzada adequada, ainda que limitada em eficácia diante da proximidade com a fonte emissora.
• Isolamento do ambiente com lareira (por exemplo, manter a criança em outro cômodo com porta fechada e uso de purificadores de ar com filtro HEPA). Medida de custo elevado e difícil de ser implantada.
• Substituição por alternativas menos poluentes, como lareiras elétricas ou aquecedores a óleo.
• Instalação de detectores de monóxido de carbono e medidores de qualidade do ar doméstico, especialmente em lares com crianças asmáticas. Iniciativas impraticáveis num cenário de vida real.
Tempo de exposição aceitável?
A literatura não define um tempo seguro de permanência para crianças em
ambientes com lareira a lenha ativa. Isso ocorre porque mesmo exposições curtas
(menos de 1 hora) podem gerar impactos, especialmente em crianças com vias
aéreas pequenas, alta frequência respiratória e imaturidade imunológica. Assim,
a recomendação é evitar completamente a presença da criança no mesmo ambiente
durante a queima.
Faixa etária mais vulnerável:
bebês <12 meses estão em maior risco?
Sim. Os bebês menores de 12 meses são
particularmente vulneráveis:
• Sistema respiratório imaturo, com menor capacidade de depuração mucociliar, isto é, na prática os mecanismos de limpeza da via aérea ficam prejudicados.
• Maior frequência respiratória → maior volume de poluentes inalados por kg de peso corporal. A medida que a criança respira mais rápido, incorpora uma quantidade maior de poluentes.
• Suscetibilidade aumentada a efeitos inflamatórios pulmonares e infecciosos, que trazem maiores repercussões clínicas numa via aérea anatomicamente menor.
• Evidências mostram associação entre exposição precoce a PM e o
desenvolvimento de sintomas respiratórios persistentes e doenças crônicas.
Portanto, lactentes, sobretudo os prematuros ou com
história de doença respiratória, não devem ser expostos à fumaça de lenha.
Lareira elétrica resolve o
problema? Há risco por queima de oxigênio ou calor?
A lareira elétrica elimina completamente o risco de
exposição à fumaça e material particulado, sendo, portanto, uma alternativa
segura em termos de poluição do ar.
Contudo:
• Não há combustão nem liberação de CO ou partículas ultrafinas, o que elimina os principais riscos associados à queima de biomassa.
• Não existem evidências claras de que a lareira elétrica consuma oxigênio ou venha a causar impacto adverso significativo, exceto em caso de superaquecimento localizado (pouco provável em modelos certificados).
• É importante manter a ventilação do ambiente e evitar contato direto com a
superfície quente (prevenção de queimaduras acidentais).

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