São consumidores como a diarista
Maria José (foto), que abrem mão das marcas famosas em busca dos melhores
preços. Redes que operam nesse modelo falam em crescimento de 20% nas vendas
desde março
IMAGEM: Rebeca Ribeiro/DC
A inflação elevada,
especialmente no grupo Alimentos, fez o brasileiro mudar sua rotina de compra.
Para não estourar o orçamento, o consumidor troca marcas líderes por outras com
preços menores, corta o consumo de produtos supérfluos e visita mais os atacarejos.
Outra tendência que parece se consolidar é o aumento na frequência aos chamados
‘vencidinhos’, estabelecimentos que vendem produtos próximos do vencimento e,
por isso, com preços mais baixos.
O supermercado Ki Gostoso, no
bairro de Presidente Altino, em Osasco, que opera nesse modelo, reportou
ao Diário do Comércio um aumento de 20% nas vendas desde
março. Igor Lemos, supervisor do mercado, diz que produtos com validade próxima
de expirar têm descontos que chegam a 70%. Pão de forma, frios, requeijão e
laticínios em geral são os itens mais procurados.
Em visita ao Ki Gostoso em
meados de junho, a reportagem encontrou, por exemplo, embalagem de bisnaguinha
da marca Visconti por R$ 4,99, pão integral Bauducco por R$ 4,99 e bolinho Ana
Maria 70g por R$ 2,99.
Como comparação, em um mercado
tradicional na região do Jardim Ângela, na zona Sul da capital paulista, os
mesmos itens tinham os seguintes preços: bisnaguinha Visconti: R$ 7,99; pão
integral Bauducco: R$ 11,49; e bolinho Ana Maria: R$ 3,49.
Ou seja, a compra no
‘vencidinho’ resultaria em economia de R$ 10. Esses estabelecimentos conseguem
preços atrativos porque levam ao extremo o modelo de gestão de estoque
conhecido como FIFO (First In, First Out – ou primeiro a entrar, primeiro a
sair), no qual produtos próximos da validade vão para as prateleiras antes
daqueles que estão longe do vencimento.
Essa é uma prática comum nos
supermercados, mas os ‘vencidinhos’ trabalham
os preços de forma mais dinâmica, baixando os valores dos itens com mais
frequência, à medida que o fim da validade vai se aproximando. Também vendem
produtos descontinuados pela indústria.
É o preço
que manda
Dayana Primarano, dona da rede
de mercados Vanessa, de Pirituba, zona Norte da cidade de São Paulo, reforça
que a tabela de preços muda de acordo com a proximidade do vencimento dos
produtos, não com a demanda por eles. “Se não há venda, o prejuízo é por conta
do empreendedor, que realiza o descarte”, diz a empresária, que há 20 anos
trabalha com produtos FIFO.
Segundo ela, o consumidor dos
‘vencidinhos’ compra por impulso. Não tem lista de compra ou necessidade por
algo específico, ele leva o que está em promoção. “Os consumidores compram em
pequenas quantidades e voltam com frequência às lojas, o que mantém uma alta
rotatividade de produtos dentro dos estabelecimentos”, afirma.
É exatamente essa a rotina da
diarista Maria José (que aparece na foto que abre esta matéria), que disse à
reportagem que está sempre indo aos ‘vencidinhos’ em busca de promoções, e
costuma voltar com margarina e bolacha na sacola.
No Instagram do mercado
Vanessa, entre as promoções de meados de junho havia queijo minas Itambé por R$
9,95, pacote com três Activias de 450g por R$ 5,50 e iogurte Vigor de 510g por
R$ 3,50.
Sem apego
às marcas
Além da alta dos preços dos
alimentos, Leandro Rosadas, especialista em gestão e execução no varejo
alimentar, explica que os consumidores buscam cada vez mais os 'vencidinhos’
porque estão mais racionais, deixando de lado o apego às marcas e mais
propensos a comparar preços, dando preferência a produtos mais acessíveis. “O
público desses mercados é bastante diverso, mas os consumidores das classes C e
D, que precisam fazer o dinheiro render, se destacam por conta dos descontos,
assim como os consumidores mais racionais”, diz.
Rosadas alerta, porém, que
esses mercados dependem muito da demanda da indústria e dos atacarejos para manterem
suas promoções. “Quando esses canais possuem vendas pujantes, mais produtos são
produzidos e distribuídos aos ‘vencidinhos’. Mas quando as vendas estão mais
escassas, este tipo de mercado acaba encontrando dificuldade em encontrar
produtos, não conseguindo se manter no mercado.”
Os ‘vencidinhos’ ganharam força
no Brasil mais recentemente por causa da inflação, mas não são um fenômeno
unicamente brasileiro. Segundo Rosadas, em países como França, Japão e Estados
Unidos eles são comuns e recebem até mesmo apoio institucional. O especialista
cita redes como a francesa Nous Anti-Gaspi, que se especializou em vender
produtos com validade curta. Já nos Estados Unidos, aplicativos conectam
supermercados a consumidores interessados por esses produtos, algo também usado no Brasil.
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/para-driblar-inflacao-de-alimentos-brasileiros-recorrem-aos-vencidinhos
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