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Os pesquisadores aplicaram a nova metodologia em Mato Grosso usando dados da safra estratégica de 2016/2017 (imagem: Michel Eustáquio Dantas Chaves) |
Técnica desenvolvida na Unesp
de Tupã foi testada em Mato Grosso e delimitou com maior precisão áreas de
vegetação natural e de produção agrícola, por tipo de cultura; resultados
indicaram 95% de acerto no mapeamento
Pesquisadores da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), em Tupã, desenvolveram e testaram uma nova
metodologia de inteligência geoespacial que pode contribuir de forma mais
rápida e precisa com projetos de gestão do uso da terra e de planejamento
territorial. Com a ferramenta, foi possível delimitar com precisão áreas de
floresta amazônica, vegetação de Cerrado, pastagens e culturas agrícolas em
sistema de cultivo duplo, algo que pode fornecer subsídios para políticas
públicas voltadas à produção agrícola e conservação ambiental.
Combinando arquitetura de cubos
de dados (prontos para análise), disseminada no país por meio do projeto Brazil
Data Cube, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e a abordagem Geobia (sigla em
inglês para Geographic Object-Based Image Analysis), os cientistas
conseguiram identificar a vegetação e as práticas de cultivo duplo – soja e
milho, por exemplo – ao longo de uma safra no Estado de Mato Grosso. Foram
usadas séries temporais de imagens de satélite do sensor Modis (Moderate
Resolution Imaging Spectroradiometer), da Nasa, a agência espacial
norte-americana.
Os resultados indicaram que a
combinação proposta, aliada a algoritmos de aprendizado de máquinas
(inteligência artificial), alcançou 95% de acerto no mapeamento.
A Geobia é uma técnica que
permite o processamento de imagens de satélite a partir de segmentações que
agrupam pixels semelhantes em geo-objetos e estuda suas características, como
forma e textura, além da reflectância. Isso permite, em muitos casos, uma
interpretação mais próxima da realidade. Os cubos de dados, por sua vez,
armazenam informações em dimensões – tempo e localização –, facilitando a
agregação e visualização de informações referentes a determinado local em um
período específico, como áreas de cultivo em um ano-safra.
Atualmente, os mapeamentos
utilizam análises de imagens por pixel isoladamente, o que acaba gerando
problemas de bordas, com indefinição em algumas áreas. “Os trabalhos
científicos têm colocado a confusão espectral em zonas de borda entre usos da
terra distintos como um ponto a ser melhorado. Assim, resolvemos segmentar as
imagens e avaliar o objeto geográfico como unidade mínima de análise, e não o
pixel. É como se a imagem fosse quebrada e classificada de acordo com cada
peça. Com isso, foi possível reduzir erros recorrentes de borda e identificar
os alvos de forma aderente, mesmo usando resolução espacial moderada”, diz
à Agência FAPESP o professor da Faculdade de Ciências e
Engenharia da Unesp Michel Eustáquio Dantas Chaves,
autor correspondente do artigo.
Chaves vem usando a arquitetura
de cubos de dados há alguns anos para desenvolver ferramentas que contribuem em
análises com enfoque no avanço da fronteira agrícola, especialmente no Cerrado
(leia mais em: agencia.fapesp.br/50142).
Segundo o professor, a
metodologia pode ser replicada para avaliar imagens oriundas de outros
satélites de observação da Terra, como Landsat e Sentinel, que fornecem dados
para estudos científicos, mapeamento e monitoramento. Imagens de ambos estão
sendo trabalhadas agora pela equipe coordenada pelo professor.
O artigo descrevendo a
metodologia foi publicado na
edição especial Research Progress and Challenges of Agricultural
Information Technology, da revista científica AgriEngineering.
O estudo teve apoio da FAPESP por meio de três projetos (21/07382-2, 23/09903-5 e 24/08083-7).
Aplicação
na prática
O Mato Grosso lidera a produção
nacional de grãos, com 31,4% do total do país, seguido do Paraná (12,8%) e Rio
Grande do Sul (11,8%). A estimativa é que o Estado atinja 97,3 milhões de
toneladas na safra 2024/2025 – um aumento de 4,4% em relação à anterior,
segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Praticamente metade
dessa produção (46,1 milhões de toneladas) deve ser de soja.
Além disso, o Mato Grosso é um
dos Estados com maior biodiversidade – abriga parte de três dos seis biomas
brasileiros. Cerca de 53% de seu território está na Amazônia, 40% no Cerrado e
7% no Pantanal.
Devido a essa heterogeneidade
dos usos do solo e tipos de vegetação em seu território, os pesquisadores
aplicaram a nova metodologia em Mato Grosso usando dados da safra estratégica
de 2016/2017, na qual o Brasil produziu 115 milhões de toneladas de soja, sendo
30,7 milhões de toneladas no Estado. As classificações de uso do solo foram
associadas às terras agrícolas (pousio-algodão, soja-algodão, soja-milho,
soja-pousio, soja-milheto e soja-girassol), além de culturas de cana-de-açúcar,
áreas urbanas e corpos d’água.
Os resultados indicaram
precisão geral de 95%, mostrando o potencial da abordagem para fornecer
mapeamentos que otimizam a delimitação de florestas e terras agrícolas. “Como a
abordagem consegue identificar os alvos de forma aderente, a metodologia pode
ser aplicada em estimativa de área ainda dentro de uma mesmo safra, favorecendo
estimativas de produtividade; em ações de planejamento territorial e tudo o que
trate do uso e da cobertura da terra para tomada de decisão”, detalha Chaves
sobre a aplicação da ferramenta.
O professor explica que a
metodologia também permite analisar perturbações em florestas e outros tipos de
vegetação natural. “É mais rápido identificar se há desmatamento do que
degradação. Esse método permitiu detectar essas variações de forma mais rápida.”
No artigo, os cientistas fazem
uma homenagem à professora Ieda Del’Arco Sanches,
pesquisadora de sensoriamento remoto no Inpe, que faleceu em janeiro. “Esse artigo
é uma forma de agradecê-la pelos ensinamentos e seguir seu legado. Ieda sempre
trabalhou para avaliar a superfície terrestre com precisão e tratar os dados de
forma ética e responsável, mostrando como eles podem contribuir para a
construção de políticas públicas", completa Chaves.
O artigo Mixing Data
Cube Architecture and Geo-Object-Oriented Time Series Segmentation for Mapping
Heterogeneous Landscapes pode ser lido em: www.mdpi.com/2624-7402/7/1/19.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/nova-metodologia-de-inteligencia-geoespacial-torna-mais-precisa-e-rapida-a-gestao-do-uso-da-terra/54096
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