sábado, 31 de agosto de 2024

Psicóloga comenta sobre como escolas e colegas lidam com os mais variados perfis de alunos

TEA, Síndrome de Down, superdotados, tímidos, obesos e infantilizados estão nessa lista


Segundo dados do Censo Escolar 2023 , foram matriculados 47,3 milhões de estudantes, considerando todas as etapas educacionais, distribuídos em 178,5 mil escolas. Neste mesmo cenário entra o levantamento do DataSenado, alegando que cerca de 11% dos estudantes brasileiros sofreram algum tipo de violência (bullying) na escola no último ano, o que corresponde a cerca de 6,7 milhões de estudantes.

 

Então, como lidar com essa situação? Como a escola deve agir? E os pais? As outras crianças?

 

A psicóloga Deise Moraes Saluti, que também é neuropsicopedagoga, detalha maneiras de ação em diferentes circunstâncias, principalmente quando falamos de alunos atípicos.

 

Antes de tudo, ela ressalta que todas as escolas têm o dever da inclusão. “Receber alunos atípicos, alunos com dificuldades de aprendizado, com questões de suporte, enfim, é dever da escola aceitar esses alunos, mas a pergunta que não quer calar é se a escola está preparada para receber esses alunos. Os professores possuem preparo e conhecimentos em todas as neurodiversidades em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas? A resposta é não”

 

Confira sugestões da psicóloga para cada situação:

 

TEA: as escolas de todo País ainda não estão capacitadas, muitas se titulam, mas não são capacitadas. Especificamente o Autista, nível suporte 1, é o que mais sofre, pois está no meio de uma sala com 30 ou mais aluninhos, sem evolução de aprendizado e se sentindo excluído. E mais, esses alunos de suporte 1 são quase sempre cobrados ou recebem qualquer outro diagnósticos para maquiar suas dificuldades.

 

Por não saber cuidar desse aluno, a escola aciona todos os tipos de profissionais para tentar acompanhar essa criança, e esse processo é geralmente complicado e demorado, ou seja, a criança já perdeu metade do ano letivo e quase todo conteúdo, se vê obrigado a empurrar as matérias, pulando conteúdos, e dificultando ainda mais seu aprendizado, consequentemente, os amigos o rejeitam, pois não possuem preparo vindo do colégio nem dos pais para respeitar as limitações dos amiguinhos.

 

Esses alunos com T.E.A acabam permanecendo isolados e de uma forma ou outra aprovados. E esse movimento é só a ponta do iceberg que irá arrebentar lá na frente, na fase adulta e dentro das relações.

 

Síndrome de Down: um aluno com Síndrome de Down é da mesma forma que o do TEA, se inclui em neuro atípico e de inclusão. Essa condição genética também limita o desenvolvimento de interação com outros amiguinhos, que por não saberem sobre a síndrome ou não possuírem empatia, acabam rejeitando esses alunos especiais. Muitos professores conseguem interagir com a sala sem prejudicar o aprendizado especial do aluno com Síndrome de Down, mas manter a atenção e concentração de todos esses alunos e manter a qualidade de aprendizado é bem difícil.

 

Por isso, é necessário uma grande rede de apoio psicopedagógica para expandir o campo de aprendizado aos alunos especiais enquanto acompanham o desenrolar normal da matéria. É muito importante a participação dos pais, para que as crianças neuro atípicas se sintam mais seguras e confiantes em suas lições.

 

Superdotados: um aluno superdotado e que possui uma interação com todos os alunos também sofre discriminação por seu comportamento. Seus trabalhos são melhores, suas provas e notas são as melhores, veja só, nós estamos fazendo o caminho inverso, onde o destaque não consegue se destacar na sua maioria mediana. Por isso, um aluno com maior capacidade de aprendizado também precisa de uma rede de apoio ou ele acaba tendo que frear seus conhecimentos, limitar suas atividades, pois não haverá professor disponível para acompanhá-lo.

 

Ele vai ser obrigado a aguardar pelo momento que toda sala puder acompanhar. Isso é uma limitação encontrada na maioria das escolas públicas ou privadas. Se uma criança for exigente, ela vai precisar aguardar, se uma criança se atrasar no conteúdo, ela vai perder. Parece que a conta nunca fecha. É preciso aprimorar os conhecimentos de professores e coordenadores para que se sintam mais capacitados a receber esses alunos.

 

Tímidos: para um aluno tímido, que possui dificuldade de interação, de relacionamentos com outros alunos, é também muito difícil quando não há apoio do professor. Imagine o quanto essa criança sofre se for lhe perguntado algo, ou como ela deve se sentir ansiosa por medo de ser chamada na frente da sala, ou lhe for feita qualquer pergunta onde ela sabe que os amiguinhos vão rir dela. Os professores não têm tempo suficiente de realizar tarefas individuais com essa criança e acabam a expondo, e isso é significativamente prejudicial.

 

Sintomas físicos mais comum que destacam o emocional de uma criança extremamente tímida muitas vezes é a sudorese, tremor nas mãos e pernas, diarreia ou enurese miccional, que é a condição da criança fazer xixi na roupa por medo. Lembrando que esses sintomas podem gerar traumas muitas vezes irreversíveis para essa criança. E gera, automaticamente, um desconforto, precisando até mudar a escola para não sofrer com os gatilhos emocionais.

 

Infantis: um aluno infantilizado será sempre alvo para outros alunos hiperativos. Crianças que em seus ambientes são ridicularizadas ou humilhadas, com certeza repetem esse comportamento com outras crianças na escola, ou com os amigos, pois precisam descarregar a dor em uma outra criança.

 

É o efeito dominó: se em casa sou amado, eu ofereço amor, se em casa sou humilhado, ofereço rancor.

 

Obesos: uma criança com questões de obesidade ou fora do padrão de outras crianças da sua mesma idade sofre preconceito até mesmo na própria casa, vindo dos próprios pais. Exemplos são frases preconceituosas que os pais falam, como “Para de comer senão você vai explodir”, “Você parece o porquinho do vizinho”, “Tá parecendo a Peppa Pig”, “Rolha de poço do papai”, “fofinho” e outros.

 

A percentagem dessa criança crescer com traumas de infância e sofrer bullying no colégio é enorme. Seus medos e ansiedades serão transformados em fome, essa fome misturada com ansiedade ou depressão toma outras proporções e, claro que no ambiente escolar e ou em qualquer outro ambiente, essa criança irá se sentir desconfortável. Isso irá gerar gatilhos para que ela, ao invés de controlar a fome, aumente-a ainda mais. O famoso efeito cascata. De pequeno sofre e arrasta o sofrimento para todo lugar que estiver.

 

Hoje, no Brasil, 9,4% de meninas possuem obesidade e 12,4% dos meninos são considerados obesos. No ambiente escolar eu costumo dizer que esse efeito cascata começa de casa. Pais obesos, sedentários, geram filhos obesos e sedentários. As palavras são maravilhosas, mas o exemplo arrasta multidões. E é isso que acontece. Claro que essa criança vai se alimentar mal, dormir mal, comer mal, sem exercícios e sem atividade física, o ambiente escolar é o primeiro lugar com maior frequência de sofrimento psíquico.

 

Ressalto que seja necessário atendimento especializado com psicóloga comportamental, rede de apoio com os pais, nutricionista e outros profissionais. Importante entender que para mudar essa criança é imprescindível mudar a mentalidade dos pais também. Reorganizar alimentação, regular o sono, praticar exercícios físicos, tudo isso faz parte do processo de cura dessa criança.

 

Racismo: uma criança que sofre racismo não só pratica outros tipos de preconceitos, como possui uma autoestima muito baixa. Ela se questiona o tempo todo sobre sua aparência e sobre suas capacidades. Hoje, os colégios possuem mais cuidados com as questões de racismo e preconceitos, mas o grande detalhe é que isso deveria acontecer em casa. Essa conscientização deveria vir como um ensinamento dos pais, questões de caráter e personalidade.

 

Alguém que pratica o preconceito é alguém que sofreu preconceito também. Essa visão ainda muito percebida, está inserida no nosso País. O preconceito nas escolas atinge um percentual de mais de 80% entre jovens e adolescentes. Essa luta ainda deve durar. O ser humano ainda precisa evoluir muito para aprender a respeitar o outro na sua totalidade.

 

Para saber mais, acesse @dmspsicologia.


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