Cada vez mais comum, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não tem cara, nem cura. A condição neurológica afeta milhões de pessoas ao redor do globo, 1 a cada 36 crianças para ser mais exata, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O aumento no número de casos não é moda nem invenção moderna, está ligado a maior divulgação sobre o transtorno e diferenças recentes nos diagnósticos. E se eu te disser que o maior problema que temos hoje não reside na prevalência do TEA, e sim, nas barreiras colocadas pela sociedade? Veja, além do autista precisar lidar com os próprios desafios, sofre com olhares capacitistas da sociedade. Um preconceito que limita a forma como vemos e o que achamos que essas pessoas são capazes. Embora compartilhem traços em comum, cada sujeito é único, tanto em suas dificuldades quanto em suas qualidades. Até porque o autismo é uma neurodivergência e não uma sentença. E todos anseiam por expressar seu potencial sem limitações impostas por rótulos.
Ao passo que a compreensão sobre o autismo aumenta,
surgem ferramentas de suporte para pessoas no espectro e suas famílias. Uma
dessas ferramentas é a ABA, ou Análise do Comportamento Aplicada, que tem
ganhado destaque como a intervenção que produz mais evidências científicas de
eficácia para o autismo, segundo a Associação para a Ciência do Tratamento do
Autismo dos Estados Unidos. Essa ciência promete não ser apenas um conjunto de
teorias, mas, também, um longo caminho de mudanças na vida de pessoas autistas
e familiares. Amplamente conhecida no meio, a abordagem é uma chave-mestra, que
desbloqueia potenciais, molda destinos, desafia limites e proporciona uma vida
mais plena para quem enfrenta as barreiras impostas pela sociedade.
Uma série de pesquisas conduzidas há mais de 20
anos têm demonstrado a eficácia das intervenções baseadas em ABA para o
Transtorno do Espectro Autista. Em um dos primeiros estudos, 47% das crianças
do grupo experimental passaram de série na escola em que estudavam, assim como
apresentaram funcionamento compatível com a sua idade. Desde então, isso vem
sendo confirmado por diversas pesquisas que revelam que o sucesso está
relacionado à intensidade, fidedignidade e precocidade da intervenção.
Mas o que há de tão eficaz nessa ciência, que é
estudada desde a década 1960, e por que ela é uma das mais recomendadas tanto
por especialistas quanto pelos pais que possuem filhos com autismo? A resposta
mais sucinta está no próprio objeto de estudo da ABA: a aprendizagem de
comportamentos socialmente relevantes. Ao direcionar pesquisas científicas para
melhorar situações reais, essa abordagem fortalece comportamentos voltados para
inclusão social e autonomia, enquanto reduz aqueles que impedem uma vida mais
plena. Para isso, o analista do comportamento avalia as dificuldades e as
potencialidades de cada indivíduo e constrói um plano terapêutico único, a fim
de desenvolver repertórios que aumentem a qualidade de vida da pessoa autista e
sua família. É como uma formação para a vida, em que cada desafio é uma oportunidade
de crescimento.
Muitas vezes, desenvolver habilidades, para um
autista, é como decifrar um enigma. Desde tarefas aparentemente simples, como
escovar os dentes, até atividades mais complexas, como cozinhar, podem
representar desafios significativos. Nesses casos, um analista do comportamento
pode avaliar as habilidades prévias, como segurar uma escova de dentes ou
identificar ingredientes na cozinha para uma refeição e, de degrau em degrau,
construir repertórios robustos. A partir disso, vai auxiliar os aprendizes a se
conectarem com o mundo ao seu redor, descobrindo sua própria voz e identidade.
É uma jornada na qual cada pequeno avanço é uma vitória a ser celebrada.
A análise do comportamento aplicada não é um
milagre. Com muitos estudos e resultados registrados ao redor do mundo, é mais
que certo tratar dela como uma ciência sólida, baseada em evidências e que pode
ser dedicada a guiar indivíduos com autismo. Para tanto, precisa de robustez e
de integridade em relação ao que é produzido pela ciência. Nesse ponto, é
importante buscar por profissionais qualificados e passar longe de charlatões.
Diante de tantas fake news, muito cuidado. Não demora
tempo para que aventureiros digam que redescobriram a América e falsos
especialistas prometam a cura do autismo para famílias fragilizadas. Por isso,
é preciso fugir de promessas vazias e poucos resultados. Buscar um
acompanhamento seguro que realmente faça a diferença na vida da pessoa com o
Transtorno do Espectro Autista. Desde bebês que começam a desbravar o mundo até
adultos que querem entrar no mercado de trabalho, todos têm sua própria jornada
e é essencial respeitá-la.
Estamos diante de vidas reais, de sonhos que
anseiam por serem realizados e da busca incessante por um futuro mais
inclusivo. Nesse ponto, o analista do comportamento pode ser o braço direito.
Um profissional qualificado que combina expertise teórica, bagagem de
experiência prática e um genuíno compromisso com o bem-estar dos pacientes.
Tudo isso aliado a um cuidado guiado pela ciência e aliado à empatia para
compreender as complexidades do comportamento humano.
Então surge a questão que muitos se perguntam: é
possível mudar a rota de desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida e
inclusão de pessoas com TEA? Sim. No entanto, cada indivíduo é único e responde
de maneira diferente às intervenções. Mas quando se estende a mão para caminhar
junto e se desenvolve intervenções personalizadas, os resultados são certeiros.
Compreender a singularidade de cada pessoa leva tempo e requer um olhar rebuscado
sobre os progressos. Afinal, o autismo não é um quebra-cabeça a ser montado e,
sim, um ser humano a ser compreendido, auxiliado e empoderado para alcançar
seus máximos potenciais. E só quem olha através dos olhos desse outro vai
descobrir um novo mundo de possibilidades e crescimento que transcende qualquer
barreira.
A jornada ainda é longa e a vida em sociedade é o maior desafio. O momento pede para que façamos nossa parte vestindo a camisa pela conscientização do Transtorno do Espectro Autista. Precisamos acolher as diferenças e acreditar que com elas virão novas formas de pensar e novas condições de ser. O mundo é formado por pessoas diversas. Eu faço parte delas, você também.
Natalie Brito Araripe - diretora da Luna ABA, psicóloga,
analista do comportamento certificada internacionalmente e trabalha há mais de
10 anos com ABA aplicada ao autismo.
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