Antes e depois - Lucas Carvalho Divulgação |
Uma pesquisa recente da startup britânica MANUAL revela que a calvície é uma preocupação crescente entre os homens brasileiros. Dos mais de meio milhão que buscaram ajuda, 90% não seguiram tratamento contínuo nos últimos 12 meses. Em resposta a essa demanda, Lucas Preto, afroempreendedor e dreadmaker, desenvolveu os "Baldlocs", uma técnica artesanal de aplicação de dreads em pessoas calvas. Após uma bem-sucedida jornada por quatro estados em 2023, a barbearia de Santa Cruz, da Zona Oeste do Rio, agora se prepara para uma nova temporada da Africarioca na Estrada, que vai percorrer oito estados e o Distrito Federal.
A iniciativa chega a partir do segundo semestre em Minas Gerais,
São Paulo, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,
Espírito Santo e no Distrito Federal. A expectativa é atender mais de 70 pessoas
e formar 6 profissionais entre agosto e novembro. Somente em 2023, os Baldlocs
renderam cerca de R$ 475 mil à Africarioca. Desse valor,
cerca de R$ 100 mil vieram da tour pelos estados, que gerou ainda um
aumento de 10% no faturamento dos salões parceiros.
A técnica dos Baldlocs é uma inovação autoral na estética capilar, desenvolvida exclusivamente por Lucas Preto. O dreadmaker está envolvido em todas as etapas, desde a produção da base até a aplicação nos clientes, utilizando a needle technique (técnica de agulha). Diferentemente de outros métodos, não são utilizadas substâncias prejudiciais ao couro cabeludo, como a cola, o que pode até estimular o crescimento do cabelo em áreas propensas à calvície. Para adotar os Baldlocs, é necessário que a pessoa não seja completamente careca e que tenha no mínimo 4 centímetros de comprimento de cabelo.
— Os Baldlocs representam mais do que apenas uma técnica de estética capilar, são uma forma de empoderamento e autoaceitação. Meu objetivo é oferecer uma solução que não apenas promova a confiança, mas também cultive o amor próprio em cada indivíduo que confia em mim para essa transformação — conta Lucas Preto, CEO e dreadmaker da Africarioca Conceito.
Além disso, a técnica não se limita a pessoas com cabelos crespos
ou cacheados, podendo ser aplicada também em cabelos lisos, desde que os fios
tenham pelo menos 7 centímetros para garantir uma fixação duradoura.
Autoestima e empoderamento
A Africarioca na Estrada não oferece apenas serviços com cunho comercial, mas também se empenha em reafirmar identidades e promover a autoestima da comunidade negra em cada parada da turnê. Com uma abordagem única, Lucas Preto conduz todo o processo de transformação de forma envolvente, mantendo o suspense até o momento final, quando os participantes têm a oportunidade de se olhar no espelho e se reconhecerem.
O paulistano Lucas Carvalho, de 30 anos, é um dos impactados pelos Baldlocs. Ele, que usava dreads feitos com o próprio cabelo desde os 17 anos, se viu calvo ao entrar na fase adulta devido a problemas de saúde. Para tentar elevar a autoestima, ele chegou a fazer implante capilar, mas não obteve o resultado desejado. Sua história mudou no ano passado, quando colocou os Baldlocs e pôde, enfim, se reconectar às suas origens.
— Eu deixava meu cabelo crescer desde os 13 anos para fazer dreads até começar a ficar calvo. Os implantes, além de muitos caros, não me satisfaziam. Quando a Africarioca veio para São Paulo eu realizei um sonho. Olhar no espelho e me ver de dreads é indescritível. Eu relembro minhas origens, meu estilo, todo mundo acha lindo — relata o paulistano.
William Vieira, de 39 anos, também teve a autoestima renovada após
os Baldlocs. Segundo ele, a técnica o transformou de fora para dentro, fazendo
até com que ele tivesse um melhor desempenho no trabalho e fosse promovido de
cargo.
Antes e depois - William Vieira Divulgação |
— Eu tinha perdido totalmente a minha autoestima. Olhava no
espelho e não gostava de mim. Agora me ver e gostar de mim me faz querer buscar
coisas novas para minha vida. Meu chefe notou essa diferença em mim. Baldlocs não
são apenas sobre cabelo — afirma.
Afroempreendedorismo de impacto
Além de impactar os clientes, a Africarioca na Estrada tem um compromisso de promover a capacitação profissional nas comunidades que visita em cada estado. Um estudo conduzido pelo Sebrae, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do terceiro trimestre de 2023, revelou que 52% dos proprietários de negócios no Brasil são negros. No entanto, esse grupo enfrenta desafios significativos: a maioria dos donos de micro e pequenas empresas negras têm baixos níveis de faturamento (77,6% recebem até dois salários-mínimos por mês) e têm baixa escolaridade (45,1% possuem apenas o ensino fundamental).
Diante dessa realidade, o afroempreendedor Lucas Preto optou por uma abordagem diferente: em vez de alugar espaços comerciais temporários, ele se conecta com dreadmakers locais em cada estado visitado, criando parcerias para capacitação e impulsionando a economia local. Essas colaborações garantem que os salões parceiros possam oferecer manutenção aos clientes atendidos durante a turnê, proporcionando uma fonte de renda estável para esses estabelecimentos.
— Para mim, vai além de simplesmente fornecer um serviço. Trata-se de criar oportunidades reais de crescimento para a comunidade negra. Ao estabelecer parcerias com dreadmakers locais, não apenas capacitamos profissionais, mas também fortalecemos a economia local. É uma maneira de retribuir e investir no desenvolvimento sustentável das comunidades que visitamos — comenta Lucas Preto.
Realizada entre agosto e setembro de 2023, somente a turnê Africarioca na Estrada, que realizou aplicações de Baldlocs e cursos sobre a técnica em São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre, rendeu à barbearia quase R$ 100 mil. O movimento de se conectar a dreadmakers locais também favoreceu a ampliação da receita em cada um dos salões parceiros, que tiveram um crescimento de mais de 10% de seus faturamentos graças à adição dos Baldlocs no rol de serviços prestados.
O Studio Dreads SP, salão local comandado por Débora Cristina, é um dos negócios impactados pela parceria com a Africarioca. Segundo a afroempreendedora paulista, a conexão entre os salões expandiu não apenas o conhecimento sobre os Baldlocs, como também a troca de ideias sobre marketing e posicionamento de mercado.
— A possibilidade de estarmos unidos e podermos contribuir um com
o outro, compartilhar conhecimento é o que mais agrega, para além de dinheiro,
porque é algo que tem muito valor, e não só o valor monetário — afirma Débora.
Agenda
A nova temporada do projeto dará início em Belo Horizonte (MG), com a equipe presente no Estúdio Dreadskill de 22 a 24 de agosto. Em seguida, seguirá para São Paulo (SP), onde estará no Studio Dreads SP de 26 a 31 de agosto. A jornada continuará em Fortaleza (CE) nos dias 17 e 18 de setembro, e em Recife (PE) nos dias 20 e 21 do mesmo mês.
Posteriormente, nos dias 23 e 24 de setembro, a equipe estará em Brasília (DF). A turnê seguirá para o sul, com paradas em Porto Alegre (RS), no Anittas's Dreads, nos dias 15 e 16 de outubro, e em Florianópolis (SC) nos dias 18 e 19 de outubro. Em seguida, estará em Curitiba (PR) nos dias 21 e 22 de outubro, e finaliza a jornada em Vitória (ES) nos dias 2 e 3 de novembro. Para estarem aptos à aplicação, os interessados de cada estado devem deixar que seus cabelos cresçam até atingir pelo menos 4 centímetros de comprimento.
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