Policiais penais
vão ao STF para derrubar norma que dificulta porte de arma; em 15 meses, cinco
policiais foram executados quando se dirigiam a unidades prisionais
A antiga briga dos servidores do sistema
penitenciário pelo porte de armas ganhou um novo capítulo. O Sindicato dos
Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP) ingressou com
reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender uma norma da
Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) que dificulta o acesso dos
policiais penais a armas de fogo. “Nossa função policial nos deixa muito vulneráveis
à violência. Apesar disso o Estado ainda não fornece armas acauteladas aos
policiais penais. Diante do perigo, muitos optam por comprar as próprias armas
e portá-las, conforme estabelece a legislação federal, que é soberana, mas a
norma da Secretaria de Administração Penitenciária extrapola o papel do Estado
e cria dificuldades e custos a mais para esses policiais",
relata Fábio Jabá, presidente do SIFUSPESP.
Pela legislação em vigor, todos os policiais podem
comprar armas com autorização da Polícia Federal e Certificado de Registro de
Arma de Fogo. A própria função policial já autoriza o porte, mas a Resolução
27, de 2019 da SAP, cria uma norma adicional, que tenta se sobrepor à lei
federal e ameaça servidores de punição. Pela norma, além dos requisitos
federais, policiais penais também são obrigado a solicitar autorização da SAP
para o porte da arma. “Isso gera uma situação complicada: o policial
penal tem uma arma legalizada, atende aos requisitos da legislação para
portá-la, mas uma norma funcional o obriga a deixá-la em casa. Enquanto isso
perdemos cinco colegas nos últimos 15 meses, atacados e mortos enquanto se
deslocavam de casa para as unidades prisionais. Não foram vítimas de assaltos
que saíram do controle e sim assassinados por vingança, exclusivamente por
serem policiais penais. Somos policiais 24 horas por dia e não só quando
estamos no local de trabalho, por isso que não podemos prescindir do porte de
armas”, ressalta Jabá.
Na mira do crime, policiais penais têm acesso dificultado ao porte de armas Divulgação |
Um desses policiais penais é o Heleno*
(nome fictício), que aguarda a renovação da autorização de
porte da SAP há 1 ano e meio. “Não é um novo processo, é uma renovação e estou
esperando há 1 ano e meio. Atuo na profissão mais perigosa da segurança
pública, lido com o risco diariamente e não posso portar a arma sob o risco de
responder criminalmente por porte ilegal. É uma situação desesperadora, porque
me sinto desprotegido e desamparado”, comenta.
O departamento jurídico do sindicato alega que a
resolução estadual é uma usurpação de uma competência exclusivamente federal
para estabelecer normas para o porte de armas no país. Há relatos de policiais
penais enfrentando procedimentos disciplinares por portar armas legalizadas,
mas que ainda não teriam sido autorizadas pela SAP.
O acautelamento de armas pelo Estado está previsto
na regulamentação da Polícia Penal, processo que está atrasado desde 2019,
quando a Constituição Federal incluiu a instituição entre as forças de
segurança pública do país, além de determinar que os estados fizessem a
regulamentação. São Paulo, dono da maior população carcerária do país, com
quase 200 mil detentos, só se movimentou depois de determinação do STF e ainda
é um dos mais atrasados do país. “A regulamentação da Polícia Penal estabelece o
acautelamento de armas, coletes balísticos e algemas, mas essa demora tem
custado vidas. Pela Constituição Federal nós já somos policiais. Para o crime,
também. Essa norma irregular da SAP trouxe mais dificuldades para quem já está
prejudicado com o atraso da regulamentação”, completa Jabá.
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