terça-feira, 22 de agosto de 2023

A polícia desarmada de São Paulo

Policiais penais vão ao STF para derrubar norma que dificulta porte de arma; em 15 meses, cinco policiais foram executados quando se dirigiam a unidades prisionais


A antiga briga dos servidores do sistema penitenciário pelo porte de armas ganhou um novo capítulo. O Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP) ingressou com reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender uma norma da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) que dificulta o acesso dos policiais penais a armas de fogo. “Nossa função policial nos deixa muito vulneráveis à violência. Apesar disso o Estado ainda não fornece armas acauteladas aos policiais penais. Diante do perigo, muitos optam por comprar as próprias armas e portá-las, conforme estabelece a legislação federal, que é soberana, mas a norma da Secretaria de Administração Penitenciária extrapola o papel do Estado e cria dificuldades e custos a mais para esses policiais", relata Fábio Jabá, presidente do SIFUSPESP.

Pela legislação em vigor, todos os policiais podem comprar armas com autorização da Polícia Federal e Certificado de Registro de Arma de Fogo. A própria função policial já autoriza o porte, mas a Resolução 27, de 2019 da SAP, cria uma norma adicional, que tenta se sobrepor à lei federal e ameaça servidores de punição. Pela norma, além dos requisitos federais, policiais penais também são obrigado a solicitar autorização da SAP para o porte da arma. “Isso gera uma situação complicada: o policial penal tem uma arma legalizada, atende aos requisitos da legislação para portá-la, mas uma norma funcional o obriga a deixá-la em casa. Enquanto isso perdemos cinco colegas nos últimos 15 meses, atacados e mortos enquanto se deslocavam de casa para as unidades prisionais. Não foram vítimas de assaltos que saíram do controle e sim assassinados por vingança, exclusivamente por serem policiais penais. Somos policiais 24 horas por dia e não só quando estamos no local de trabalho, por isso que não podemos prescindir do porte de armas”, ressalta Jabá.


Na mira do crime, policiais penais têm acesso dificultado ao porte de armas
Divulgação


Um desses policiais penais é o Heleno* (nome fictício), que aguarda a renovação da autorização de porte da SAP há 1 ano e meio. “Não é um novo processo, é uma renovação e estou esperando há 1 ano e meio. Atuo na profissão mais perigosa da segurança pública, lido com o risco diariamente e não posso portar a arma sob o risco de responder criminalmente por porte ilegal. É uma situação desesperadora, porque me sinto desprotegido e desamparado”, comenta.

O departamento jurídico do sindicato alega que a resolução estadual é uma usurpação de uma competência exclusivamente federal para estabelecer normas para o porte de armas no país. Há relatos de policiais penais enfrentando procedimentos disciplinares por portar armas legalizadas, mas que ainda não teriam sido autorizadas pela SAP.

O acautelamento de armas pelo Estado está previsto na regulamentação da Polícia Penal, processo que está atrasado desde 2019, quando a Constituição Federal incluiu a instituição entre as forças de segurança pública do país, além de determinar que os estados fizessem a regulamentação. São Paulo, dono da maior população carcerária do país, com quase 200 mil detentos, só se movimentou depois de determinação do STF e ainda é um dos mais atrasados do país. “A regulamentação da Polícia Penal estabelece o acautelamento de armas, coletes balísticos e algemas, mas essa demora tem custado vidas. Pela Constituição Federal nós já somos policiais. Para o crime, também. Essa norma irregular da SAP trouxe mais dificuldades para quem já está prejudicado com o atraso da regulamentação”, completa Jabá.


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