Medidas para o bem-estar psicológico e qualidade de vida de mulheres devem fazer parte do combate à doença
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença
crônica que exige cuidados contínuos e prolongados, mas ainda é pouco discutida
na sociedade. Como os sinais e sintomas (manchas e feridas na pele) estão
relacionados à aparência, o Lúpus, que afeta principalmente mulheres, tem
reflexo direto nos aspectos emocionais e nas relações sociais. A dificuldade em
lidar com as mudanças no corpo e os efeitos colaterais dos medicamentos podem
levar a isolamento e depressão – alerta pesquisa de estudantes de Medicina do Centro
Universitário de Brasília (CEUB).
Para entender o cenário do LES, os pesquisadores
João Victor Machado e Marina Fiúza analisaram 31 artigos publicados em
periódicos nacionais e internacionais no período 2015 a 2022 que utilizassem a
temática da autoimagem e da autoestima às pessoas com lúpus. "Em muitos
artigos, pacientes relataram sentir-se envergonhados, ansiosos e com baixa
autoestima devido às lesões na pele e mucosas, aumento de peso e queda de
cabelo, associados aos distúrbios da imagem corporal”, apontam os
pesquisadores.
O estudo também revelou que as pacientes sentem
dificuldade em aceitar as mudanças em sua aparência, o que pode levar a
sentimentos de isolamento e depressão. O tratamento, por sua vez, pode afetar
ainda mais a autoestima das pacientes, devido aos efeitos colaterais dos
medicamentos, como ganho de peso e queda de cabelo. Outros fatores apontados
são os que pioram a qualidade de vida de quem convive com a enfermidade: idade
avançada, pobreza, menor nível educacional, questões comportamentais,
manifestações clínicas e comorbidades.
“Com esse estudo, contribuímos para uma compreensão
mais ampla e profunda sobre o impacto do LES na vida das mulheres afetadas pela
doença”, destaca o estudante João Victor Machado. Segundo Marina Fiúza, também
autora do estudo, apesar de o Lúpus ser mais comum do que se imagina, pouco se
sabe sobre a doença no Brasil. "Tendo em vista uma melhor qualidade de
vida dessas pessoas, é de extrema necessidade agir para minimizar os malefícios
da doença e o desconhecimento da população em geral", frisa.
Dentre as estratégias de enfrentamento aos impactos
causados na autoimagem das pacientes, a bibliografia propôs uma série de
cuidados multidisciplinares que incluem recomendações de uso do protetor solar,
preferência para gravidez nos períodos de remissão da doença, contraindicação
de álcool e drogas, prática de atividade física regular - sempre respeitando o
período de crise. Alternativas também foram citadas, como o uso de maquiagem
especial para as pacientes e grupos de apoio para promover a autoestima das
atendidas.
A orientadora da pesquisa, Dra. Phaedra Castro, professora de Medicina do CEUB, destaca que, mais do que o acompanhamento de parâmetros clínicos e laboratoriais, o cuidado de condições crônicas deve considerar as diferentes perspectivas da vida do sujeito. "Dessa forma, a individualização das orientações por meio do desenvolvimento de planos terapêuticos específicos para cada pessoa se mostra mais efetiva, promovendo tanto resolutividade como qualidade de vida", completa a docente.
Sobre o Lúpus
De origem autoimune, o Lúpus age no sistema imunológico e começa a atacar
tecidos saudáveis em vez de combater infecções e doenças. De acordo com
relatório divulgado pelo Ministério da Saúde, o LES é uma doença rara e sua
incidência no Brasil é de aproximadamente 3,4 casos para cada 100.000
habitantes. A doença é mais comum em mulheres do que em homens, com uma
proporção de cerca de 9:1. A doença geralmente afeta jovens adultos, com a
maioria dos casos diagnosticados entre 15 e 45 anos de idade.
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