O plano recém-descoberto para sequestrar o senador Sergio Moro, sua esposa, a deputada Rosângela Moro, e seus filhos, trouxe luz a várias realidades, mas poucas delas foram exploradas pelas acaloradas discussões políticas nas mídias sociais e na imprensa: existem vidas mais valiosas do que outras?
A pergunta é necessária ao perceber a pouca ou
nenhuma repercussão sobre as ameaças a pelo menos nove servidores da segurança
pública listados entre os alvos da facção criminosa. Estamos falando de
policiais civis, militares e penais, paulistas e federais, que estão na linha
de frente do combate ao crime organizado. Eles também foram jurados de morte,
mas pouco ou nada se falou deles e das providências que o Estado brasileiro
adotou para proteger suas vidas.
São servidores que reviram esgotos e latrinas de
celas, onde frequentemente encontram anotações com planos de fuga e cartas com
ordens de assassinatos e sequestros de autoridades. Sem este trabalho, muitas
intenções de vingança já teriam ido a cabo. E é justamente por serem a própria
face do Estado diante do crime que esses servidores e suas famílias são
constantemente ameaçados.
Por mais difícil que seja a natureza diária do trabalho,
os policiais são vocacionados e amam o que fazem. No caso da Polícia Penal de
São Paulo, a maior do país, a precariedade da estrutura é a maior carência da
profissão, porque dela decorrem todos os demais problemas que afligem a nossa
categoria.
As unidades superlotadas diante de um efetivo
insuficiente tornam o ambiente prisional um inferno para todos os envolvidos:
policiais, servidores, detentos e visitantes. Sobram motivos para explicar
porque a expectativa de vida de um policial penal é de 45 anos, enquanto a dos
demais brasileiros é de 76 anos.
Nesse ambiente insalubre, sob ameaças constantes, a
saúde física e mental se deteriora. Os baixos salários conferem uma pressão
extra que desestimula a permanência na profissão.
Saímos de casa todos os dias com a morte à
espreita, apenas porque cumprimos o nosso dever. Muitos colegas servidores
morrem pela violência ou pelas doenças causadas pelo estresse do ambiente de
trabalho, considerado o segundo mais perigoso do mundo e o primeiro na área de
segurança pública.
Ficamos felizes em ver a pronta ação da Polícia
Federal, que em 45 dias investigou e prendeu os envolvidos. Também alegra ver
como a PM do Paraná e a Polícia Legislativa foram prestativas e eficientes na
proteção da família Moro. Isso é a prova de que o Estado funciona, mas assim
deve ser para todos os brasileiros, não apenas para alguns.
Também é confortante saber que essas autoridades
dispõem de carros blindados e segurança armada fornecidas pelo Estado
brasileiro, mas devo alertar que nem todos são tratados da mesma forma.
É relevante lembrar, mais uma vez, que são
policiais dando proteção ao senador, ao custo potencial de suas próprias vidas.
Os protagonistas do escândalo, quase todos políticos, estão protegidos na forma
da lei. Mas quem protege os que estão vulneráveis por enfrentar diária e
diretamente o crime organizado?
Fábio Jabá - policial penal e presidente do
Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP) e
secretário-geral da Federação Nacional dos Servidores Penitenciarios e
Policiais Penais (FENASPEN).
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