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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Manchas vermelhas na pele: o que podem ser?

 

A pele é rica em pequenos vasos sanguíneos, responsáveis por sua nutrição. Diversos fatores podem levar à dilatação desses vasos ou ao extravasamento do sangue, ocasionando surgimento de manchas vermelhas ou violáceas. Essas manchas podem ser únicas ou múltiplas, localizadas ou disseminadas, e podem assumir tamanhos e formatos variados, estando relacionadas a várias doenças. Além disso, podem ser a manifestação típica de uma determinada doença ou podem representar apenas um estágio inicial. 

As micoses superficiais são infecções causadas por fungos que podem resultar em manchas avermelhadas. A candidíase é um exemplo comum, ocasionando vermelhidão nas áreas de dobras, como axilas, região debaixo das mamas e virilhas. Para prevenção, é importante controlar a umidade dessas áreas, secando-as bem após banhos e após prática esportiva. No tratamento, são empregados medicamentos antifúngicos de uso local ou sistêmico. 

A erisipela é uma infecção por bactérias que acometem a circulação linfática das pernas, penetrando na pele através de ferimentos, rachaduras ou através de lesões fúngicas comuns entre os dedos dos pés. A perna se torna avermelhada, quente, edemaciada, dolorosa e pode haver febre, sendo necessário iniciar prontamente o tratamento com antibiótico adequado. 

Manchas esbranquiçadas ou avermelhadas que se apresentam dormentes ou insensíveis ao toque são típicas de uma doença infecciosa chamada hanseníase. Por serem lesões que não apresentam sintomas, podem passar despercebidas por muitos anos, atrasando o diagnóstico. Em casos avançados, podem surgir incapacidades físicas, em virtude do comprometimento dos nervos periféricos. A hanseníase tem tratamento gratuito e é uma doença curável. 

A rubéola e a catapora são infecções virais comuns na infância, nas quais surgem manchas vermelhas disseminadas. Na catapora ou varicela, as manchas dão lugar a pequenas lesões contendo líquido claro, denominadas vesículas, que se rompem, formando-se crostas. Essas são doenças bastante contagiosas, porém a vacinação específica tem diminuído sua ocorrência significativamente. 

Por outro lado, tem aumentado em nosso meio a frequência das arboviroses dengue, Zika e Chikungunya. São doenças virais transmitidas por mosquitos e manifestam-se como manchas vermelhas disseminadas, que podem ser muito pruriginosas, além de sintomas como febre, mal-estar, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, dentre outros. 

Também se tem observado com certa frequência o aparecimento de manchas vermelhas em pessoas com diagnóstico de COVID-19. Essas lesões podem assumir diferentes características, surgindo, em geral, associadas a quadro gripal ou a sintomas típicos da doença. O uso de máscaras, a vacinação e as medidas de distanciamento social são estratégias para sua prevenção. 

Manchas vermelhas podem ser produzidas por substâncias capazes de desencadear inflamação na pele, resultando nas dermatites de contato. Essas dermatites evoluem para lesões descamativas muito pruriginosas, denominadas eczemas. Produtos de limpeza, como sabões, detergentes e desinfetantes, são frequentes desencadeantes de dermatite de contato do “tipo irritativo”. O hábito de usar luvas e botas durante atividades de limpeza pode prevenir sua ocorrência. Já as dermatites de contato do “tipo alérgico” requerem predisposição individual, sendo desencadeadas por diversos agentes, como acessórios de metal, cosméticos, perfumes, calçados, medicamentos tópicos, dentre outros. 

Medicamentos de uso oral ou injetável também podem desencadear o surgimento de lesões avermelhadas na pele e até mesmo em mucosas, como na mucosa da cavidade oral. Esses quadros, conhecidos como farmacodermias, podem ser produzidos por diferentes tipos de medicamentos, como antibióticos, anti-inflamatórios ou anticonvulsivantes, e precisam ser rapidamente reconhecidos e tratados, para que não haja evolução para formas graves. 

Vermelhidão na pele pode estar relacionada à exposição à luz solar, como ocorre nas queimaduras solares e nos eritemas secundários à exposição solar crônica desprotegida. Além disso, a luz solar pode influenciar doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso, doença sistêmica em que surge vermelhidão na face, assumindo um aspecto conhecido como eritema em “asa de borboleta”. 

Na vermelhidão facial, deve-se considerar como diagnóstico diferencial a rosácea, doença inflamatória caracterizada por eritema, presença de vasos finos, pápulas e pústulas na face, podendo ocorrer manifestações oculares, como conjuntivite. É agravada pela exposição solar e consumo de certos alimentos, como café e chá quentes, bebidas alcoólicas e comidas apimentadas. Em alguns casos, pode ocorrer aumento do nariz, denominado rinofima. 

Doenças inflamatórias como psoríase e dermatite atópica se manifestam como lesões avermelhadas e descamativas, com predileção por certas áreas do corpo. A psoríase acomete principalmente couro cabeludo, cotovelos e joelhos, podendo ocorrer em outras regiões, inclusive unhas. Por outro lado, a dermatite atópica acomete pescoço, dobras dos braços, região atrás dos joelhos, manifestando-se de forma diferente nas crianças. São doenças crônicas que precisam de acompanhamento contínuo. 

Os fenômenos envolvidos no envelhecimento cutâneo podem levar ao surgimento de manchas violáceas, secundárias à fragilidade dos vasos. Essas manchas, denominadas de púrpura senil, são comuns em idosos, principalmente nos antebraços, não apresentam sintomas e tendem a desaparecer espontaneamente, sem necessidade de tratamento. 

O câncer de pele pode manifestar-se como lesão avermelhada translúcida, de superfície lisa e com pequenos vasos. Ademais, qualquer mancha que evolua para ferimento de difícil cicatrização deve ser cuidadosamente analisada, a fim de excluir esse diagnóstico, principalmente em idosos e em pessoas com fatores de risco, como pele e olhos claros. 

 

Joanne Ferraz - médica com residência médica em Dermatologia, mestrado e doutorado em Medicina Tropical e é associada titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia. É professora titular do curso de Medicina do Centro Universitário de João Pessoa – Unipê

  

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