- No Brasil, ingestão mínima diária de DHA, nutriente presente
em pescados e algas marinhas,
é 70% menor que o recomendado
- Novo consenso desenvolvido por médicos especialistas
determina o consumo e suplementação
necessárias de DHA, com foco na gestação, lactação e infância
Da “família” do ômega 3, o DHA (ácido docosahexaenoico) desempenha um papel fundamental para a formação neurológica e cognitiva humana, além de ter ação primordial no desenvolvimento e funcionamento da retina e do sistema nervoso central. Encontrado especialmente em peixes marinhos como arenque, atum silvestre e sardinha - o mais comum na dieta brasileira -- e presente também no óleo de krill e em microalgas, seu consumo está bem abaixo do indicado no Brasil. “Uma criança pequena, por exemplo, precisa ingerir diariamente ao menos 100 mg de DHA, já um adulto varia entre 200 e 500 mg/dia. A média no Brasil, no entanto, é de apenas 31,4 mg/dia”, destacou o Dr. Héctor Cori, diretor científico da DSM para a América Latina.
O consumo de peixes em geral também é baixo no país.
A média mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12 kg
por ano para cada habitante, mas no Brasil, o índice chega aos 9
kg/ano/habitante, 10 kg a menos que a média global. Os números acendem um
alerta de especialistas, dada a relevância do nutriente para a saúde humana.
Por isso, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), com apoio da DSM,
lançou o novo consenso de DHA durante o Congresso Brasileiro de Nutrologia, em
setembro, com direcionamentos quanto ao consumo de peixes, à ingestão do
nutriente e suplementação, especialmente durante a gestação e nos primeiros cinco
anos de vida. O documento é uma atualização do consenso de 2014, com base em
novos estudos e evidências.
O Dr. Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida, médico
pediatra e diretor da ABRAN, explicou que o DHA é o principal ácido graxo
presente na substância cinzenta do cérebro: “Ele corresponde a 15% do total de
ácidos no córtex frontal do ser humano. Estamos falando de rapidez de
informação, de raciocínio e cognição, inteligência de uma maneira geral”. Para
o Dr. Héctor Cori, essa é uma das moléculas mais importantes da nutrição
moderna. “Na gravidez, pode prevenir o risco de parto prematuro, influenciar
nas respostas imunes e na proteção alérgica e infecciosa, além de proporcionar
benefícios cognitivos e visuais até os 15 anos de idade”. Em adultos, também pode
reduzir o risco de morte coronária, eventos coronários em geral e, combinado ao
EPA (ácido eicosapentaenoico), baixar os níveis de triglicerídeos em cerca de
15%, como mostram estudos presentes no consenso.
Um levantamento que analisa a ingestão média de 76
países em desenvolvimento, coloca o Brasil como o 2º pior da América Latina,
dentre as sete nações analisadas: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana,
Paraguai e Peru. Com índice de 31,4 mg/dia, fica à frente somente do Paraguai
(24,2) e distante do líder Guiana (98,1). As possíveis razões apontadas pelo
novo consenso da ABRAN para o baixo consumo no Brasil são: preços elevados,
dificuldade de distribuição de peixe fresco na maior parte do país, preferência
por outros tipos de carne, baixa qualidade do produto em feiras e mercados
livres e o fato de o preparo ser considerado mais difícil.
“É preciso sempre estimular o consumo desse grupo de
alimentos, sobretudo os pescados marinhos, por meio de preparações culinárias,
desde a infância, para que esse hábito passe de geração em geração”, destacou a
Dra. Carolina Pimentel, nutricionista e uma das autoras do consenso, durante o
evento. No entanto, ela explica que os peixes brasileiros têm uma taxa muito
baixa de conversão em DHA, o que torna ainda mais difícil alcançar os níveis
ideais. “Paralelamente, é preciso garantir o acesso ao DHA e isso deve ser
prescrito para todos aqueles que tenham necessidades especiais como gestantes,
lactantes, crianças e outros indivíduos”.
Gestantes devem tomar suplemento,
independente da dieta
O novo consenso conclui que, devido ao baixo consumo
de peixe no Brasil, à insuficiente conversão pela dieta brasileira e à elevada
relevância do DHA para o desenvolvimento infantil, sendo este um momento
crítico para garantir o bom desenvolvimento da criança, independente da dieta,
recomenda-se que toda gestante receba 200 mg de DHA por dia.
“Essa é uma questão de saúde pública”, comentou o Dr.
Carlos. “As gestantes e lactantes brasileiras têm uma média de ingestão de DHA
estimada em 104 mg/dia, sendo que a recomendação mínima para essa população é
de aproximadamente 200 mg/dia. Ou seja, atingem praticamente metade. Essa é uma
recomendação universal e deveria ser vista assim como é o sulfato ferroso e o
ácido fólico no pré-natal, por exemplo”.
Principais recomendações do novo consenso:
- Consumo de peixe -- Ingestão de 360 g por
semana, o equivalente a 3 porções. Mas alerta: ao optar por usar peixes
marinhos como o atum, salmão e arenque, ter cautela e conhecer a origem do produto,
devido aos riscos de contaminação por metal pesado. Em caso de dúvida, é
sugerido garantir a ingestão via suplementação.
- Gestantes e lactantes -- Consumo diário de pelo menos 200 mg de DHA
ou até 1000 mg para a prevenção de parto prematuro, com recomendação de
suplementação para todas as gestantes, independente da dieta.
- Fórmulas infantis -- Devem conter DHA entre 0,2% e 0,5% das
gorduras totais ou, no mínimo, 20 mg de DHA por 100 kcal, além de ARA:DHA na
proporção 1:1. “A amamentação deve ser estimulada até os dois anos de idade,
uma vez que garantida suplementação da mãe. Crianças de 6 e 24 meses não
amamentadas devem receber DHA através de sua fonte láctea. Recomendamos que
todos os profissionais pediátricos indiquem produtos com DHA em sua composição”,
reforça Dr. Carlos.
- Crianças de 2 a 5 anos - Devem ter garantida de ingestão dietética adequada e
suficiente de lipídios ômega 3, a fim de ter produção endógena de DHA. Em caso
de deficiência alimentar comprovada, suplementação suficiente deve ser
considerada (100 a 150 mg/dia entre 2 e 4 anos e 150 a 200mg/dia entre 4 e 6
anos).
- Crianças e adolescentes -- “Atualmente, tem sido considerada a suplementação de DHA
inclusive em crianças em fase escolar e na adolescência, devido ao manejo da ação
metabólica, ao efeito no sistema nervoso central, no tratamento de algumas
doenças e na melhora cognitiva, que impacta na aprendizagem”, diz Dr. Carlos.
- Adultos - Em
adultos, o aumento do consumo de DHA pode reduzir ligeiramente o risco de morte
coronariana e eventos coronários agudos, além de reduzir os níveis de
triglicerídeos. O médico diz, ainda, que as evidências sugerem que pode atenuar
o estado pró-inflamatório associado à obesidade, além de ser capaz de controlar
alguns casos de alergia.
Fertilidade -- Deve-se
considerar o consumo adequado também no tratamento pré-concepcional, por ser
capaz de otimizar a reposição de ácidos graxos do esperma, além de mostrar um
efeito benéfico na infertilidade feminina.
DSM
ABRAN
- Associação Brasileira de Nutrologia nutrição na manutenção da saúde e
tratamento de doenças.
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