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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Setembro Amarelo: precauções e cuidados precisam ser redobrados depois de efeitos da pandemia

 Freepik
Psicólogo e psiquiatra explicam como a pandemia afetou a saúde mental das pessoas e ajudam a identificar possíveis sinais para ajudar uma pessoa com tendência suicida

 

A pandemia do novo coronavírus impactou e causou prejuízos não apenas nos sistemas de saúde e econômicos, mas, principalmente, provocou efeitos colaterais na saúde mental das pessoas. Não restam dúvidas de que o isolamento e o distanciamento social, adotados como medidas contra o vírus, foram essenciais para conter o avanço da doença em todo mundo. Contudo, eles deixaram sequelas. As pessoas perderam o contato físico umas com as outras, muitas se entregaram à solidão, com isso as taxas de ansiedade e de depressão no país aumentaram. 

E os dados não param por aí. Um estudo realizado pela Fiocruz, em 2022, destaca que na primeira onda da covid-19 os números de suicídio aumentaram em todo o país. De acordo com dados divulgados, em 2019, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano. Isso significa uma média de 38 suicídios por dia. 

No mês em que se promove a conscientização em torno do tema, o Setembro Amarelo, médicos e especialistas apontam como primordial esse olhar atento e cuidadoso para as sequelas psicológicas da pandemia do novo coronavírus.

 

Pós-pandemia 

O número de suicídios aumentou e isso é comum de acontecer em situações extremas, não só como pandemias, mas catástrofes naturais também. A decorrência do próprio isolamento social agrava muito as doenças mentais, porque as pessoas às vezes deixam de procurar os seus médicos e fazer um tratamento que vinha sendo feito ou então deprimem e não buscam tratamento. Além disso, a pandemia em si, os problemas econômicos, as mortes nas famílias, tudo isso é um caldo para os sintomas depressivos e com mais depressão, mais probabilidade de suicídio”, explica Frederico Dib, psiquiatra do Hospital São Francisco, de Brasília. 

Para Fernando Machado, psicólogo do Hospital Anchieta de Brasília, além dos efeitos colaterais da pandemia em si, um fator é determinante nesse processo: a volta à realidade da vida. “Voltar à vida real não é tão simples e nem tão fácil, exige um esforço de cada um. E como sei que estou pronto para fazer esse esforço novamente? Será que estou pronto para lidar com o mundo novamente? São perguntas como essas que fazemos nesse retorno", detalha o profissional. 

De acordo com Fernando, a resposta para elas está no equilíbrio, no respeito ao tempo e ao corpo de cada um. "Cuidar desse processo de pós-pandemia significa voltar aos poucos, voltar à rotina, respeitar a sua saúde mental, respeitar o seu tempo, respeitar o seu movimento", comenta. "É importante ter cuidado com a autocobrança e focar aos poucos no agora, sentir o presente e cuidar da qualidade de vida e da saúde mental para aos poucos ir voltando à normalidade", conclui.
 

Sinais para buscar ajuda 

Conscientizar e prevenir contra o suicídio são tarefas de todos e que não devem ficar restritas ao mês de setembro. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda. O psicólogo Fernando explica que podem existir vários sinais de que uma pessoa quer tirar a própria vida. “Não que seja uma regra absoluta, mas às vezes alguém fala que "do nada" uma pessoa cometeu um suicídio, e a gente sempre fala que não existe "do nada". Podem existir alguns pensamentos, alguns comportamentos e alguns sinais sim que a pessoa pode vir a cometer o suicídio. Assim como não é uma regra, também pode acontecer atos impulsivos. Mas existem alguns sinais, de fala e de comportamento. As pessoas às vezes se abrem para um amigo, que está tudo muito difícil, que ela se sente um fardo, um peso na vida, e às vezes passam uma autoimagem negativa, como de um perdedor, que a vida não faz sentido, que o mundo estaria melhor sem ela. Então, é prestar atenção em algumas falas e ao social que essas pessoas acabam buscando”, afirma. 

Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente. 

“É importante nesse momento pós-pandêmico, que deixa sequelas sociais e econômicas, buscar ajuda. Muitas famílias foram fraturadas ao longo desta pandemia e isso pode provocar um quadro depressivo. A primeira coisa é perceber isso e ir buscar ajuda, porque hoje os tratamentos são eficazes, tanto psicoterapêuticos quanto farmacológicos. A pessoa precisa entender também que não precisa passar por algo tão complexo e difícil sozinha, quanto antes ela buscar ajuda melhor”, finaliza o psiquiatra Frederico Dib.


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