A Astronomia vem de tempos imemoriais. O Ser Humano olhou os céus, maravilhou-se e iniciou sua jornada rumo à compreensão. Já havia um grande interesse prático no estudo dos céus. Na verdade, razões referentes à vida e à riqueza e ao desenvolvimento social.
O James Webb vai nesta direção com a mais profunda
técnica moderna. O Telescópio está observando os mais longínquos recônditos
locais do Universo, as distâncias mais longínquas, em que observamos um passado
tão remoto que as primeiras estruturas estavam se formando. Naquela época, as
primeiras luzes com formas definidas começavam a se formar.
Com isso, não apenas as imagens são novas e
interessantes, mas também permitem aquilatar a evolução do Universo, a forma de
sua expansão que na época dependia muito pouco da Energia Escura, podendo haver
uma comparação bastante importante do ponto de vista científico com as
observações do radiotelescópio brasileiro BINGO, que por outro lado se referem
a uma época em que a Energia Escura passava a ser a componente dominante do
Universo. Assim, a ciência será feita de modo efetivo e importante, com
informações de lado a lado. Poderemos incorporar as informações do James Webb
com as informações a serem obtidas no âmbito do Telescópio BINGO.
As informações sobre a formação das primeiras
estruturas, da formação de galáxias e de estruturas ainda maiores, como as que
serão importantes no caso do projeto BINGO certamente serão essenciais como
informações cruzadas. Aqui estamos mencionando as maiores estruturas do
Universo a serem observadas pelo BINGO, as chamadas Oscilações Acústicas de
Bárions, estruturas estas que se estendem por cerca de meio bilhão de anos luz
no espaço.
No caso do James Webb, serão vistos protoplanetas e
sistemas planetários, que nos enviam informações sobre a origem da vida e sobre
a possibilidade de vida fora do nosso planeta. Algumas destas questões poderão
ser tratadas na extensão do BINGO de alta resolução, projeto a ser tratado na
segunda fase do projeto BINGO.
Estas questões podem inclusive servir de pano de
fundo a desenvolvimentos mais ligados a nossos problemas, pois as técnicas
usadas serão de grande utilidade além dos próprios (e úteis) desenvolvimentos
científicos propriamente ditos. Menciono aqui, no caso da segunda fase do
BINGO, a possibilidade de se observarem objetos com muito mais precisão, e se
efetuar um escaneamento detalhado do céu mais próximo.
Hoje, a observação dos céus nos permitiram, entre
outros, e apenas para dar um exemplo, o utilíssimo GPS. A observação dos céus
são elementos essenciais do conhecimento físico, e com a melhoria das teorias
físicas, temos consequências maiúsculas no desenvolvimento humano, dos pontos
de vista científico, tecnológico e social. Temos como exemplo de cada um, o
conhecimento do Setor Escuro do Universo (95% do Cosmos), a invenção da
internet, os sistemas de vigilância e sensoriamento remotos, tão importantes na
preservação de florestas e reservas naturais.
No futuro, além de uma compreensão sofisticada do
Universo, teremos eventualmente fontes mais complexas de energia limpa, viagens
para fora da Terra, hoje já realidade, prevenção de quedas de asteroides,
também hoje quase uma realidade (lembremo-nos que os asteróides caídos na Terra
foram responsáveis por grandes extinções), eventual busca de vida fora do
planeta Terra.
Estas são algumas das razões pelas quais o estudo da Astronomia e da Cosmologia não é apenas um diletantismo, mas algo útil e economicamente viável, nem um instrumento de um sincretismo falso, como astrologia, mas serve até mesmo para que se coloque um limite na obscuridade e se coloque a Ciência em um patamar merecido dentro da cultura e do conhecimento humanos.
Elcio Abdalla - físico teórico brasileiro com
reconhecimento internacional e importante liderança na pesquisa de física
teórica no Brasil. Com doutorado e pós-doutorado pela Universidade de São
Paulo, é atualmente professor titular do Instituto de Física dessa
universidade, além de coordenador do Projeto Bingo, radiotelescópio brasileiro
que está sendo construído no interior da Paraíba que fará o mapeamento na parte
escura do universo.
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