Esta realidade reflete a falta de consciência ambiental das pessoas que adquirirem ilegalmente aves silvestres como animais de estimação.
Os
periquitos, calopsitas e agapornis estão cada vez mais presentes nos lares
brasileiros. As pessoas que desejam ter a companhia de uma ave pet legalizada
necessitam desenvolver um ambiente adequado e seguro para criar esse tipo de
animal.
Antes
de levar o animal para o lar é preciso ter condições financeiras para investir
em gaiola, comedouro, bebedouro, ração e outros objetos para que a ave tenha
uma vida saudável. Ao adquirir uma gaiola ou viveiro deve-se observar a
qualidade do material, a facilidade de limpeza e o tamanho. "Os melhores
modelos são os que apresentam uma grade e gaveta removível no fundo da gaiola,
para permitir uma limpeza eficiente", salienta Vininha F. Carvalho,
editora da Revista Ecotour News & Negócios (www.revistaecotour.news).
É
fundamental escolher comedouros e bebedouros com tamanho indicado para a
espécie escolhida, para que a ave tenha uma postura adequada ao se alimentar e
evitar que ela defeque sobre esses objetos, contaminando alimentos e água. Em
relação ao material, a opção mais recomendada são as vasilhas de porcelana.
A
dieta da ave deve ter como base a ração extrusada indicada para a sua espécie.
Somente eventualmente pode ser oferecido petisco, o mix de sementes, já que as
sementes são ricas em gordura e não devem ser consumidas diariamente.
As
aves são extremamente inteligentes, e por isto demandam contato com as pessoas,
muita interação e brincadeiras. "Não tem problema a pessoa ter aves de
espécies diferentes, mas com certeza não é recomendado deixá-las na mesma gaiola",
afirma a médica veterinária Dra. Bruna Barbosa, que é uma das responsáveis pela
área de internação da Safari, uma empresa de São Paulo que presta serviços
veterinários para hospitais e zoológicos.
De
acordo com a médica veterinária Dra. Marta Brito Guimarães, que é doutora em
Ciências e professora no Ambulatório de Aves da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, as rações extrusadas para
aves pet já são fabricadas especialmente com a quantidade ideal de vitaminas e
sais minerais para nutrir esses animais. Além disso, é indicado complementar a
alimentação das aves com legumes, verduras e frutas. A dieta adequada supre a
necessidade nutricional das aves e a rotina do pet não requer nenhum uso de
produtos vitamínicos.
Ao
adquirir uma ave é importante levar o animal para check-up com um médico
veterinário. A ave pode ser portadora de um patógeno e demorar para manifestar
uma doença, então o acompanhamento médico é imprescindível nesse momento. A
quarentena é ainda mais importante se a pessoa já tiver outras aves em casa,
para evitar que a introdução de uma nova ave no ambiente contamine as demais.
"Na rotina veterinária, infelizmente atendemos muitas aves que acabam
vindo ao óbito porque o tutor não tomou esse cuidado com a questão
sanitária", alerta Dra. Bruna Barbosa.
O
ambiente das aves não pode ser abafado, mas também não pode permitir a passagem
de correntes de ar. "O sistema respiratório das aves é muito sensível
então excesso de vento com certeza faz mal para as aves", diz a médica
veterinária Dra. Bruna Barbosa.
"A
temperatura ideal para a ave varia conforme a espécie, mas, em geral, as aves
demandam temperatura superior a 28 graus. O frio pode matar a ave, por isso, em
muitos casos pode ser recomendado utilizar lâmpadas de aquecimento ou
aquecedores, mas com o cuidado de manter a umidade do ar em níveis desejados
para evitar que a ave adoeça", relata Vininha F. Carvalho.
O
fornecimento de vitaminas para as aves sem recomendação veterinária gera muitos
problemas porque provoca a hipervitaminose, que é o excesso de vitaminas. Os
perigos estão relacionados com o excesso das chamadas vitaminas lipossolúveis,
ou seja, vitaminas solúveis em lipídios.
Enquanto,
para a medicina humana, a comercialização de antibióticos é restrita e as
farmácias só liberam a venda do produto mediante apresentação de receita
médica, o mesmo não acontece na área de saúde animal. A venda indiscriminada
principalmente de antibióticos por meio da indicação de balconistas de pet
shops e sem prescrição é preocupante. "No campo veterinário, ainda há uma
luta para que não possam comprar diretamente no balcão. A indústria veterinária
está levando isso em consideração para que não haja resistência ao uso de
antibióticos", disse a Dra. Marta Brito Guimarães.
O
Brasil ocupa um lugar de destaque em relação ao tráfico de animais silvestres,
responsável por 15% dessa prática, segundo a Renctas. São cerca de 38 milhões
de animais silvestres retirados da natureza todos os anos. E, segundo dados do
Ibama, 82% dos animais traficados são aves. Dentre as ordens de aves, as mais
traficadas são os passeriformes (canários, cardeais, curiós, azulões, bicudos)
seguidos pelos psitacídeos (araras, papagaios e periquitos).
"O
tráfico de aves silvestres ameaça a sobrevivência dos ecossistemas, pois cada
espécie tem uma função específica na natureza e, quando retiradas de seu
ambiente natural, provavelmente nenhuma outra é capaz de desempenhar aquele
papel. O comércio ilegal ocasiona um desequilíbrio ecológico, além do sofrimento
aos animais", conclui Vininha F. Carvalho.
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