"Burnout"
é uma expressão inglesa empregada quando se refere a algo que deixou de
funcionar por extremo cansaço, total desgaste. A síndrome atinge, de modo
crescente, profissionais de distintas áreas, em especial no setor de serviços,
no qual as mudanças emocionais são mais frequentes. Na pandemia, por exemplo,
tem acontecido com os profissionais da saúde e os entregadores de aplicativos.
A Síndrome de
Burnout tem presença de múltiplas faces, e se caracteriza pelo esgotamento
emocional, queda na realização de tarefas e despertencimento do trabalhador.
Esse problema de saúde, embora ainda não reconhecido como tal, também se
apresenta ao final das carreiras. Qual a hora certa de parar?
Temos vários exemplos.
Pelé, o rei do futebol, anunciou que se aposentaria várias vezes antes de parar
de verdade. O político Jânio Quadros, em atitude metafórica anunciando o fim da
sua trajetória, pendurou um par de chuteiras na porta do seu gabinete quando
prefeito de São Paulo. Emerson Fittipaldi depois de campeão da Fórmula 1, o
auge na carreira de um piloto, foi atuar (e vencendo) na Fórmula Indy e nas 500
milhas de Indianapolis.
Executivos e
empresários sabem a melhor hora para não trabalhar mais? Amancio Ortega Gaona,
empreendedor espanhol, presidente e fundador da Inditex, grupo de empresas
proprietária de marcas como Zara, Massimo Dutti, Oysho etc., acaba de anunciar
sua aposentadoria. Há 10 anos a Revista Forbes já classificava Ortega como a
terceira pessoa mais rica do mundo, então com 46,6 bilhões de dólares.
Trabalhou duro até os 85 anos, poderia ter parado muito antes.
Quando a ginasta
norte-americana Simone Biles, com apenas 24 anos desistiu de concorrer nas
finais da Olimpíada de Tóquio 2020, em um primeiro momento causou comoção em
seu país e no resto do mundo. Na sequência, gerou reflexão. Biles desembarcou
no Japão como a grande expectativa de medalhas de ouro, o que ela já havia
ganho por quatro vezes em edições anteriores do evento. O que isso significa?
Carregar nas costas o peso do Mundo - ela mesma respondeu.
Depois de um ano e
meio de confinamento, home office, distância social impostos pela pandemia da
Covid-19, a Síndrome de Burnout é uma realidade em todo o Planeta. Está
causando conflitos, nas empresas e além delas. Porque foi uma chance - fora da
"normalidade" de antes - das pessoas olharem para dentro delas
mesmas, repensarem suas vidas, criarem novos entendimentos e perspectivas. Quem
move o Mundo somos nós, e ao mesmo tempo somos movidos por ele.
Paulo Leminski,
escritor, poeta, crítico literário e tradutor foi alguém que, com estilo único,
fez poesia marcante sob influência do haikai japonês. Leminski sabia brincar
com as palavras recriando outras, sempre de modo instigante, provocador como
deve ser a escrita. É dele o poema "O barro", composto há décadas,
que define o momento de desassossego que estamos experimentando: "o barro
/ toma a forma / que você quiser / você nem sabe / estar fazendo apenas / o que
o barro quer".
As redes sociais e
os reality shows propagam o quanto a vida pode ser artificial, vazia,
simplória. Não há nessas referências conexão com a realidade. O dia a dia
mesclou o pessoal e o profissional e, por isso, tem confundido muita gente no
home office. Trabalhar muito, não significa trabalhar certo. Quantidade não
implica em produtividade. Por fim, até a ideologia política se tornou mais uma
estressante competição entre as pessoas - na família, vizinhança, faculdade,
trabalho, clube e por aí vão os ambientes de conflito entre os radicais contra
ou a favor.
O Mundo mergulhou em
uma equivocada cultura do excesso. É hora de rever o passado e repensar o
presente para desenhar o futuro sem pressões, com respeito a si e ao próximo.
Respeito para com a tal de felicidade, que não pode ser ignorada porque é o
maior objetivo de um vencedor - a mais cobiçada medalha de ouro na olimpíada da
vida.
Ricardo Viveiros - jornalista, escritor e professor. Doutor em Educação, Arte
e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de
vários livros, entre os quais: "Justiça Seja Feita", "A Vila que
Descobriu o Brasil" e "Pelos Caminhos da Educação".
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