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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Consumo de cigarro no Brasil aumenta 34% na pandemia, segundo Fiocruz

Para oncologista, além das doenças associadas ao tabaco, vício ainda aumenta em 45% chances de quadros graves de Covid-19

 

Apesar de o número de fumantes no Brasil ter caído nos últimos anos, [segundo o IBGE, em 2019, cerca de 12,6% da população com 18 anos ou mais, era usuária de produtos derivados de tabaco, enquanto em 2013 esse percentual era de 14,7%.], um dado alarmante escancara outro problema: entre os que continuam fumando, 34% declararam a um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocuz) terem aumentado o consumo durante a pandemia. Ainda de acordo com o estudo, este crescimento está associado à deterioração da saúde mental dos tabagistas, com piora de quadros de depressão, ansiedade e insônia.

Segundo a oncologista clínica Daiana Ferraz, que faz parte do corpo clínico da Cetus Oncologia [clínica especializada em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo Horizonte e Contagem] esse é um cenário muito preocupante, já que a nicotina é altamente viciante. “Ao ser absorvida, ela [a nicotina] atinge o cérebro entre 7 e 19 segundos, liberando substâncias químicas para a corrente sanguínea que levam a uma sensação de prazer e bem-estar. Essa sensação faz com que os fumantes usem o cigarro várias vezes ao dia. Nesses momentos de turbulência e incertezas que estamos vivendo, ele [o cigarro] acaba se tornando uma válvula de escape, infelizmente perigosa, cujos danos são silenciosos e podem prejudicar o organismo durante anos sem que o usuário perceba. Sendo assim, evitar o tabagismo ou suspendê-lo o mais precocemente possível favorece diretamente a prevenção e os riscos relacionados”, enfatiza.

Os riscos do cigarro, conforme aponta a médica, são muitos. O tabaco, em suas diferentes formas, [cigarro, charuto, cachimbo, narguilé, cigarro de palha, dispositivos eletrônicos para fumar, etc] contém mais de 4,5 mil substâncias tóxicas. Destas, 90 são comprovadamente cancerígenas. “Além de estar associado ao câncer de pulmão, ele pode aumentar as chances de o fumante desenvolver ainda câncer de bexiga, esôfago e tumores de cabeça/pescoço, que envolvem laringe, orofaringe e cavidade oral. Isso sem falar de Acidente Vascular Cerebral, diabetes, hipertensão, impotência sexual e doenças respiratórias como bronquite, asma e pneumonia”, completa.

Ainda segundo Ferraz, neste momento de pandemia, a associação cigarro X coronavírus é extremamente perigosa. Para comprovar, ela cita um estudo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia que, segundo o qual, fumantes têm 45% mais chances de desenvolver quadros graves Covid-19, caso sejam contaminadas pelo vírus respiratório. “Isso acontece porque os fumantes apresentam aumento expressivo da ECA2, enzima bastante presente nos pulmões, que permite ao coronavírus se conectar para infectar as células”, explica Daiana.

 

Tratamento do tabagismo 

         Em Belo Horizonte, o Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde está presente nos 152 Centros de Saúde da cidade. O tratamento começa com palestra sobre o programa, e segue com avaliação clínica, sessões de terapia individuais ou em grupo e oferta de medicamentos, caso seja necessário.

Para garantir assistência ao usuário, neste momento de pandemia, o tratamento tem ocorrido de maneira individual e com encontros de aconselhamento online. Os interessados devem procurar o centro de saúde próximo à residência para mais informações. “Parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida, mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro. Segundo estudos do Instituto Nacional do Câncer (INCA), após 20 minutos sem uma tragada, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal. Depois de duas horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Passadas oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza e no prazo de 12 horas a um dia, os pulmões já funcionam melhor. Já após três semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora”, enumera a oncologista da Cetus.

Daiana ainda acrescenta que após um ano livre do vício, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade e depois de uma década sem fumar, a chance de a pessoa sofrer infarto será igual ao daquelas que nunca fumaram.


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