A Constituição Federal brasileira trata a vida como o bem maior
dos direitos fundamentais, destacando a saúde com um direito de todos cidadãos
e um dever do Estado. Mais de 30 anos após ser aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte e promulgada, inúmeros e
recorrentes problemas na saúde pública tornam o direito constitucional à saúde
cada vez mais difícil. Você já deve ter escutado muitas histórias negativas
envolvendo a saúde pública brasileira. Não é mesmo?
É inegável que ao longo dos
anos foram criados inúmeros programas governamentais que tiveram por objetivo
viabilizar um atendimento com excelência, mas a longo prazo não surtiram efeito
e hoje vemos um sistema decadente e sucateado. Analisando
o cenário que se repete há mais de três décadas, podemos ligar os problemas da
saúde nacional, principalmente, a falta de uma gestão eficiente, profissional e
otimizada.
A utilização dos recursos é equivocada,
dificultando um melhor atendimento à população. As
tabelas de pagamento para procedimentos médicos, realização de exames e
internamentos hospitalares são obsoletas. Isso acaba diminuindo drasticamente a
rede de unidades de saúde credenciadas ao Sistema Único de Saúde (SUS),
trazendo problemas visíveis ao atendimento quantitativo e qualitativo.
O péssimo uso dos recursos
tornam as condições estruturais das Unidades Básicas de Saúde e dos hospitais
cada vez mais deploráveis. Frequentemente, encontramos unidades em manutenção,
funcionando muitas vezes em prédios improvisados, com instalações precárias,
dificultando ainda mais a vida da população. Nas unidades de pronto
atendimento, responsáveis pelo atendimento secundário da população, é muito
comum depararmos com a falta de equipamentos médicos, mobílias e, até mesmo, de
medicamentos básicos, e isso contribui para a superlotação dos hospitais
públicos, onde os brasileiros enfrentam horas e horas de filas implorando por
consultas, exames de diagnóstico ou cirurgias eletivas.
Pensando na parte prática, a
falta de um trabalho organizado e efetivo na área da medicina preventiva também
contribui diretamente para o quadro negativo. Caso fosse realizada
corretamente, a prática diminuiria consideravelmente os atendimentos no setor
de Urgência e Emergência da rede (Unidades de Pronto Atendimento e Hospitais).
Para completar, um problema
recorrente e que persiste sem solução. O sistema de saúde pública sente a
falta, em quantidade e qualidade, de profissionais para o atendimento básico e
especializado à população de cidades do interior do Brasil. Se nos grandes
centros urbanos o problema é evidente, nas cidades menores ele se torna ainda
mais alarmante. Uma solução para esse problema seria a adoção de um programa
atraente de plano de carreira que incentivaria os profissionais a atuar em
zonas periféricas e depois, com modelos de promoção, sendo realocados em
grandes cidades.
Um estudo realizado no Brasil
pelo CFM e CREMESP, entre os anos de 1970 e 2011, demonstrou que o número de
médicos no Brasil passou de 58.994 para 371.778. Hoje, esse número já superou a
casa dos 400 mil profissionais, representando um aumento de aproximadamente
530%, enquanto a população no mesmo período aumentou 104,8%. Atualmente, o
Brasil é o quinto país do mundo com o maior número de médicos. Ou seja, com uma
gestão profissional e atrativa, os resultados tentem a melhorar
consideravelmente.
Mas é lógico que não podemos
deixar de valorizar os médicos que, mesmo com todas limitações, trabalham
expondo sua integridade física, moral e ética em uma verdadeira cruzada pela
saúde. Os governantes deveriam se espelhar nesses profissionais que entendem o
direito da população à saúde para promover mudanças significativas no sistema
público, que clama urgentemente por uma gestão profissional e sustentável.
Roberto Floriani Carvalho - médico formado pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR) e especialista em saúde pública.
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