Trânsito carregado não é um
problema apenas das capitais e grandes cidades, mas uma questão que merece ser
repensada em muitas localidades que sofrem com o tráfego excessivo de
caminhões, ônibus e automóveis. A exposição prolongada à poluição do ar tem
sido associada a um risco aumentado de várias condições, incluindo doenças
respiratórias e cardiovasculares. Mas pouco se sabe sobre seus efeitos
potenciais na saúde ocular.
Pesquisadores de Taiwan
publicaram recentemente um estudo no Journal of Investigative Medicine
(Jornal de Medicina Investigativa) sugerindo que a exposição aos níveis
mais altos desses gases poluentes resulta num risco duas vezes maior de se
desenvolver DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade), atingindo
principalmente quem passou dos 50 anos.
Foram analisados dados
cruzados entre o seguro de saúde e a qualidade do ar de 1998 a 2010, a fim de
encontrar alguma ligação entre a exposição a longo prazo a poluentes como
dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono e a incidência de DMRI. Os
pesquisadores se concentraram em 39.819 habitantes de áreas urbanizadas com 50
anos ou mais, calculando uma exposição média anual. Durante esse período, 1.442
pessoas desenvolveram DMRI – demonstrando que indivíduos expostos a um nível
mais alto de poluentes emitidos pelos escapamentos tinham quase o dobro (91%)
de chances de apresentar degeneração macular.
De acordo com o
oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital
de Olhos, a DMRI causa a perda da visão central, impossibilitando o
indivíduo de ler, escrever, assistir televisão ou até mesmo de realizar
trabalhos manuais. “A mácula é a região central da retina, onde são definidas
as formas, cores, rostos e também a leitura. E toda a retina tem origem no
tecido nervoso, sendo que suas células não se regeneram nem se multiplicam. Ou
seja, qualquer alteração que afete essas células pode significar perda de
visão”, diz o médico.
Segundo o especialista, o
processo de envelhecimento, ao lado de fatores de risco como hereditariedade,
fumo, doenças cardiovasculares e exposição excessiva ao sol, faz com que as
células da mácula se tornem menos eficientes. “Além do check-up anual da visão,
adotar hábitos saudáveis pode ser fator-chave na prevenção da DMRI. Seguir uma
dieta balanceada, rica em peixes, vegetais e frutas, controlar a pressão
sanguínea e parar de fumar são verdadeiras ações de combate à doença. Caso
esses estudos se confirmem, habitar áreas verdes e abolir ou reduzir o uso do
carro também será uma medida importante para preservar a saúde ocular”.
À exceção da catarata, como
a perda de visão não é reversível, é importante investir em prevenção e nos
tratamentos disponíveis para frear a progressão da doença. “As injeções
intravítreas de antiangiogênicos são até agora o tratamento com melhores
resultados. O principal papel dos antiangiogênicos é a interrupção da perda de
visão. Embora nem todo paciente possa recuperar a visão perdida, as injeções intravítreas
impedem a progressão da doença, evitando que a pessoa acabe ficando cega. Com
anestesia local e pupilas dilatadas, a injeção é aplicada diretamente no
vítreo, camada gelatinosa localizada entre a retina e o cristalino”, explica o
médico.
Neves ressalta que, para
alcançar resultados duradouros, é fundamental que o procedimento seja repetido
em intervalos regulares e que o paciente use colírios antibióticos durante o
tempo prescrito pelo oftalmologista – em média, trinta dias. Ensaios clínicos demonstram
que a aplicação de antiangiogênicos melhora em até 34% a visão central e
estabiliza a visão em 90% dos casos. Por isso é considerado um método altamente
eficaz.
Fontes: Dr. Renato Neves - médico oftalmologista,
diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo – www.eyecare.com.br
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