A
partir desta quarta-feira, a Santa Casa de Misericórdia, parceira do instituto,
começa os testes clínicos com 1,2 mil voluntários; o estudo também está em
desenvolvimento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, na
capital paulista, e em outros 12 centros pelo Brasil
O Estado de São Paulo inicia nesta
quarta-feira, 17 de agosto, os testes em humanos na Santa Casa de Misericórdia
de São Paulo da primeira vacina brasileira para a dengue, desenvolvida pelo
Instituto Butantan, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e um
dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo.
Cerca de 1,2 mil pessoas de 18 a 59 anos
devem participar do estudo no centro, que integra a terceira e última etapa de
testes antes de a vacina ser submetida à aprovação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), para que possa ser produzida em larga escala
pelo Butantan e disponibilizada para campanhas de imunização em massa na rede
pública de saúde em todo o Brasil.
Na Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, os ensaios clínicos serão conduzidos pelo professor José Cassio de
Moraes. Os voluntários serão selecionados por meio do programa Estratégia de
Saúde da Família, desenvolvido pelo Centro de Saúde Escola da Santa Casa de
Misericórdia, um dos primeiros do país, criado em 1967.
Os testes já estão em andamento em Manaus
(AM), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO) na região Norte, em mais dois centros
no Estado de São Paulo (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), em um centro de pesquisas de
Fortaleza (CE) e em Porto Alegre (RS). Ao todo serão 14 centros de pesquisa
credenciados pelo Butantan para a realização dos estudos (confira relação
completa abaixo).
Os testes envolverão 17 mil voluntários em
13 cidades nas cinco regiões do Brasil. São convidadas a participar do estudo
pessoas saudáveis, que já tiveram ou não dengue em algum momento da vida e que
se enquadrem em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59
anos. Os participantes do estudo são acompanhados pela equipe médica por
um período de cinco anos para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina.
A vacina do Butantan, desenvolvida em
parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla
em inglês), é produzida com vírus vivos, mas geneticamente atenuados, isto é,
enfraquecidos.
“Com os vírus vivos, a resposta
imunológica tende a ser mais forte, mas, como estão enfraquecidos, eles não têm
potencial para provocar a doença. A vacina deve proteger contra os quatro
sorotipos da dengue com uma única dose”, explica o diretor do Instituto
Butantan, Jorge Kalil.
Nesta última etapa da pesquisa, os estudos
visam comprovar a eficácia da vacina. Do total de voluntários, 2/3 receberão a
vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com as mesmas características da
vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Nem a equipe médica nem o
participante saberão quais voluntários receberam a vacina e quais receberam o
placebo. O objetivo é descobrir, mais à frente, a partir de exames coletados
dos voluntários, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem tomou o placebo
contraiu a doença.
Os dados disponíveis até agora das duas
primeiras fases indicam que a vacina é segura, que induz o organismo a produzir
anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro vírus da dengue e que é
potencialmente eficaz.
“A dengue é uma doença endêmica no Brasil
e em mais de 100 países. A vacina brasileira produzida pelo Butantan, um centro
estadual de excelência reconhecido internacionalmente, será certamente uma
importante arma de prevenção, protegendo nossa população contra a doença e suas
complicações”, afirma o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, David Uip.
Histórico
Em 2008, o Instituto Butantan firmou
parceria de colaboração com o NIH, passando a desenvolver, no Brasil, uma
vacina similar a uma das estudadas pelo instituto americano, composta pelos
quatro tipos de vírus da dengue.
Um dos grandes avanços do Butantan no
desenvolvimento da vacina foi a formulação liofilizada (em pó), que garante a
estabilidade necessária para manter os vírus vivos em temperaturas não tão
frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de refrigeração comum, como
geladeiras, além de aumentar o período de validade da vacina (um ano).
Nas etapas anteriores, a vacina foi
testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos
Estados Unidos pelo NIH, e 300 na segunda etapa, realizada na cidade de São
Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina da USP (através do Hospital das
Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
Ter a vacina desenvolvida e produzida por
um produtor público nacional é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois
garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva,
além de garantir preços mais acessíveis.
Confira abaixo as
cidades contempladas pelo estudo e os centros de pesquisa que convidarão e
acompanharão os voluntários da vacina da dengue do Butantan:
REGIÃO NORTE
|
|
CIDADE
|
CENTRO DE PESQUISA
|
Manaus (AM)
|
Fundação de Medicina
Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado
|
Porto Velho (RO)
|
Centro de Pesquisas em
Medicina Tropical de Rondônia
|
Boa Vista (RR)
|
Universidade Federal
de Roraima
|
|
|
REGIÃO NORDESTE
|
|
CIDADE
|
CENTRO DE PESQUISA
|
Aracaju (SE)
|
Universidade Federal
de Sergipe
|
Recife (PE)
|
Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães – Fiocruz Pernambuco
|
Fortaleza (CE)
|
Universidade Federal
do Ceará
|
|
|
REGIÃO CENTRO-OESTE
|
|
CIDADE
|
CENTRO DE PESQUISA
|
Brasília (DF)
|
Universidade de
Brasília
|
Cuiabá (MT)
|
Universidade Federal
do Mato Grosso
|
Campo Grande (MS)
|
Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul
|
|
|
REGIÃO SUDESTE
|
|
CIDADE
|
CENTRO DE PESQUISA
|
São Paulo (SP)
|
Faculdade de Medicina
da USP
|
Santa Casa de
Misericórdia
|
|
São José do Rio
Preto (SP)
|
Faculdade de Medicina
de São José do Rio Preto
|
Belo Horizonte (MG)
|
Universidade Federal
de Minas Gerais
|
|
|
REGIÃO SUL
|
|
CIDADE
|
CENTRO DE PESQUISA
|
Porto Alegre (RS)
|
Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário