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sábado, 27 de agosto de 2016

Doze razões para apreender a meditar com mindfulness



Se a felicidade depende do equilíbrio entre quem somos e quem queremos ser, então a meditação mindfulness pode ser o agente transformador. Abaixo vão as 12 razões para fazer com que esta forma especial e simples de meditação faça parte dos hábitos da sua vida.

1. Felicidade
Alguém poderia imaginar que o ato de estar focado no presente tenha algo a ver com a felicidade (a promessa de um estado futuro)?  De fato, a prática do foco no momento presente permite desenvolver uma qualidade chamada de equanimidade (constância, igualdade de temperamento em qualquer circunstância). Ao longo do tempo, a atitude de equanimidade que surge em situações potencialmente estressantes ou difíceis conduz à percepção de felicidade. Muitas pessoas que se tornam mindful referem melhora global do humor, redução do estresse e elevação da qualidade de vida. Como a psicóloga e PhD em Neurociências Sarah Roberts exemplifica, “é sublime poder sentir a água correr pelas costas durante o banho da manhã; é gratificante poder ouvir o filho descrever o seu dia sem ficar olhando para ele e pensando na lista de coisas a fazer. O exercício do foco no momento presente nos protege de passar o tempo todo no passado, ruminado sobre o futuro, inventando situações hipotéticas provocadoras de ansiedade.”

E como exatamente a meditação mindfulness conduz à felicidade? Uma teoria moderna que explica essa ligação vem da discrepância do self, a diferença ou a distância entre o nosso eu real e nossa imagem ideal do eu. Esse modelo sugere que todos nós estamos motivados a reduzir a diferença entre o que somos e o que desejamos ser, aliviando o desconforto psicológico provocado quando essa diferença é muito grande. A atenção plena da meditação mindfulness promove essa redução; e, em seu rastro, nos faz ficar felizes. 

2. Sem estresse
A intervenção mindfulness efetivamente promove uma redução do stress negativo; faz com que a pessoa se avalie melhor e corrija o seu ímpeto emocional. A estrutura responsável pelas reações emocionais de stress é denominada de amígdala cerebral; um estudo publicado por autores da Universidade de Massachusetts em 2010 demonstra que a meditação mindfulness reduz a hiper-reatividade da amígdala cerebral em indivíduos estressados. A prática do mindfulness faz com que as reações de estresse sejam substituídas pela equanimidade.

3. Envelhecendo melhor
A meditação mindfulness parece exercer ação direta sobre os telômeros. Essas estruturas formam uma espécie de capa na extremidade dos cromossomos e o seu desgaste acelera o processo de envelhecimento. Estudo realizado pela equipe da Universidade da Califórnia em São Francisco em 2015 mostrou que a meditação mindfulness reduz o estresse negativo, aumenta a capacidade dos telômeros e ameniza o envelhecimento.

4. Relações sociais
De acordo com Daniel Siegel, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles, quando podemos estabelecer uma distinção entre a reação emocional imediata e a interpretação desses estados emocionais e corporais – a equanimidade –, podemos quebrar os ciclos de reatividade automática e estabelecer relacionamentos sociais mais produtivos. Um estudo publicado no Journal of Marital and Family Therapy em 2007 mostrou que a meditação mindfulness é capaz de estabelecer relacionamentos românticos de mais qualidade justamente por reduzir as reações negativas e facilitar o entendimento do ponto de vista do outro.

5. Consciência ecológica
Robert Shawn disse que “a grande ameaça ao planeta é achar que alguém que não seja você vai salvá-lo”. Carley Hauck, escrevendo no site mindful.org, salienta que  quando trazemos a atenção ao momento presente e ver as coisas como elas realmente são, conseguimos enxergar mais claramente os desdobramentos de longo prazo e o impacto sobre o estado ecológico do nosso planeta. Ser mindful é ser consciente do que está à nossa volta.

6. Memória eficaz
De modo geral, quem está bem, em plena posse de suas funções cognitivas e emocionais, lembra melhor. A atitude mindfulness age em benefício da memória. Também é preciso relembrar que o estresse e as reações intempestivas elevam a taxa sanguínea de cortisol, um hormônio produzido pela glândula adrenal a serviço do medo, da raiva e do estresse. Estudo publicado em 2013 examinou os níveis de cortisol em 30 estudantes de medicina antes e depois de um treinamento de quatro dias em meditação mindfulness; a taxa de cortisol sofreu redução imediata. Sabe-se que os elevados índices de cortisol fazem mal à parte do cérebro chamada de hipocampo, onde são guardados os extensos arquivos de toda nossa memória. Com esse dano, passamos a esquecer nomes, datas e objetos que deveriam ficar armazenados. A meditação mindfulness é considerada uma blindagem à memória.

7. Sono reparador
Há uma relação direta entre meditação e sono, na medida em que em ambas as situações há uma redução do ritmo cerebral alfa/beta para um ritmo delta, mais lento.  Quem apreende a ser mindful, automaticamente desenvolve melhor capacidade para adormecer. Não se trata somente do sono reparador da noite; um breve período de sono durante o dia, igualmente reparador, faz com que a pessoa recupere sua energia. Essa forma de meditação também ajuda a recuperar a capacidade de adormecer em pessoas que sofrem de insônia. Em um estudo publicado no conceituado semanário JAMA, os pesquisadores examinaram 49 adultos de meia-idade com problemas para dormir. Metade deles completou um programa de meditação mindfulness; a outra metade completou uma aula sobre maneiras de melhorar seus hábitos de sono. Ambos os grupos se reuniram se seis vezes, uma vez por semana, durante duas horas. Em comparação com as pessoas do grupo educacional sobre o sono, as pessoas do grupo mindfulness corrigiram rapidamente seu problema de insônia, relatando menos fadiga e melhores escores de depressão no final dos seis sessões.

8. Melhor imunidade contra doenças
Hoje em dia há centenas de estudos que comprovam a conexão entre mindfulness e o sistema imune. Anteriormente já se sabia que pessoas com elevados níveis de estresse e de cortisol circulantes apresentavam linhas reduzidas de defesa imunológica. A meditação mindfulness é uma maneira efetiva, rápida e com grande custo-benefício para corrigir isso. Um estudo publicado na Psychosomatic Medicine há alguns anos comparou um grupo de meditadores com outro de não-meditadores. Ambos receberam uma vacina contra a gripe; mais tarde, quando os anticorpos foram mensurados, verificou-se que o grupo de meditadores estava muito mais protegido contra a gripe do que os não-meditadores. A mesma regra vale para pessoas adoecidas. Um estudo de pesquisadores da Universidade de Chicago concentrou-se em mulheres acometidas de câncer de mama. Parte delas matriculou-se em um curso em meditação mindfulness e outra parte seguiu com o tratamento convencional. Todas as mulheres apresentaram, no início, baixo índice de células imunológicas do tipo NKCA e IFN-gama;  aquelas que que se aprofundaram na meditação mindfulness apresentaram retorno dessas células imunológicas aos níveis normais. A conclusão dos estudos modernos – em confirmação a o que os sábios antigos do mundo oriental já preconizavam – é que a atenção voltada ao presente de forma desprovida de julgamento é forte aliada para manter ou reequilibrar o organismo para defender-se de micro-organismos ou de doenças.

9. Mais atenção e concentração
O desenvolvimento da atenção e da concentração são ferramentas poderosas da meditação mindfulness. Quem diz ser fácil ficar no presente durante 2 minutos nunca de fato experimentou meditar. A atenção da mente no batimento do coração, umas das pérolas do mindfulness, requer o engajamento alguns milhões de neurônios do cérebro para estabelecer um campo em torno do tempo presente em modo real. A técnica de mindfulness é capaz de tornar a passagem do tempo mais real. Pesquisadores da Universidade de Kent comprovaram este aspecto, mostrando que a percepção do tempo através do mindfulness faz com quem a meditação da atenção plena possa ser usada para o tratamento de manifestações psicológicas associadas a distorções do tempo, como os distúrbios de memória, das emoções e a dependência de drogas.

10. Melhor controle do peso
A digestão envolve uma complexa série de sinais hormonais entre o intestino e o sistema nervoso, com uma demora de cerca de 20 minutos para que o cérebro registre a saciedade. De acordo com a Harvard Medical Publications, quando comemos de forma muito rápida, a saciedade ocorre após a ingestão excessiva de alimento. Da mesma forma, quando comemos estando distraídos podemos paralisar a digestão. E se não estamos digerindo bem, podemos estar perdendo o valor nutritivo do alimento consumido. A forma de se alimentar adequadamente é prestando atenção no organismo – nos sinais verdadeiros de apetite e não pela tentação de comer através de ciladas visuais. A modificação alcançada pela meditação mindfulness – a equanimidade – permite esse reequilíbrio. A pessoa mindful respeita seus limites, melhora sua digestão e reequilibra seu peso.

11. A vida pela vida
A melhora dos sintomas de depressão e ansiedade foi um dos grandes ganhos da meditação mindfulness. Quando Jon Kabat-Zinn iniciou seu programa de Redução do Estresse Baseada em Mindfulness, seu principal objetivo era a redução da dor em pacientes com certos tipos de reumatismo. Hoje, já há estudos que comparam a terapia baseada em mindfulness com a terapia cognitivo-comportamental e até mesmo o tratamento com medicações para o tratamento da depressão e da ansiedade. Os resultados são semelhantes. E há uma vantagem – a recuperação da depressão via mindfulness deixa um legado, um reequilíbrio, na forma de outra forma de viver, uma vida baseada no aqui e agora, sem ruminações do passado nem previsões irrealistas do futuro que não vão se concretizar. É a vida pela vida.

12. Sacadas criativas
No indivíduo dotado de equanimidade, as horas do dia cursam sem pensamentos negativos; como resultado, ele se sente dotado de mais energia. Além disso, a baixa produção de cortisol impede a fadiga, a redução da memória e a fragilização do sistema imune de defesa interna. A meditação mindfulness é acompanhada de maior disponibilidade da energia e age como uma barreira contra a fadiga. E um de seus grandes efeitos é o surgimento de "Ahás!" criativos. Um estudo publicado na Public Library of Science (PLoS One) conclui que pessoas habituadas à meditação mindfulness libertam-se do engessamento cognitivo, se tornam emocionalmente mais leves e mais criativas. 

A meditação mindfulness, por breve que seja, cerca de 10 minutos – nos mais afortunados duas vezes por dia, o que ocupa menos de 2% das horas do dia – trará de volta o controle dos pensamentos e, no caminho dela, o mapa da felicidade.




Martin Portner - Neurologista, Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness. www.martinportner.com.br



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