sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

CÂNCER X FERTILIDADE





1-     Explique a relação do câncer com a fertilidade.
Dr. Ellias (Oncomed BH): O tratamento pode implicar em danos nos órgãos reprodutores, masculinos e femininos, e assim causar infertilidade. Isso pode acontecer devido à necessidade de retirar cirurgicamente ovários e testículos, bem como por efeitos tóxicos da rádio e quimioterapia. A radioterapia destrói as células-tronco que originam os gametas masculinos e femininos. Quimioterapia em altas doses também pode produzir efeito parecido, comprometendo a fertilidade do paciente. No caso específico das mulheres, quanto mais próximo do período da menopausa maiores são as chances do tratamento resultar em esterilidade.

2-     Pesquisas revelam que nem todos os tratamentos oncológicos afetam a fertilidade do paciente. Essa informação procede?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. A chance de infertilidade secundária à quimioterapia varia com o tipo de medicação utilizada, dose e frequência administrada. Em relação à radioterapia, o comprometimento da fertilidade ocorre apenas quando a região pélvica do paciente, onde estão localizadas as gônadas (ovários e testículos), entra no campo de tratamento. Paralelamente, o tratamento cirúrgico só leva a esterilidade quando envolve abordagem/resecção dos ovários ou testículos. A idade também tem impacto na probabilidade de desenvolver infertilidade. Os indivíduos mais jovens tem mais chances de recuperar a fertilidade após o tratamento oncológico.

3-     É verdade que deve ser levado em consideração o tipo de câncer a ser tratado, o tratamento a ser realizado, a idade e o sexo dos pacientes?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. Ao tratar indivíduos jovens com a prole ainda não estabelecida é importante, caso seja possível, priorizar tratamentos que preservam a fertilidade. Caso não seja possível garantir a preservação da fertilidade é fundamental discutir com o paciente a possibilidade de congelamento de semên ou embriões. Por exemplo, mulheres com estágios iniciais de tumores de colo uterino que ainda desejam ter filhos usualmente são tratadas com um procedimento chamado traquelectomia, que consiste na retirada cirúrgica do colo do útero, preservando a fertilidade em alguns casos. Por outro lado, mulheres que têm a prole estabelecida normalmente são submetidas à histerectomia, ou seja, a retirada completa do útero, o que leva inevitavelmente à perda da fertilidade.
Há mais de cem diferentes tipos de câncer, cada um com sua particularidade no tratamento, estando uns mais propensos a causar infertilidade e outros sem qualquer efeito neste sentido.

4-     É verdade que a decisão sobre a preservação da fertilidade deve ser tomada antes do início do tratamento contra o câncer, para não inviabilizar o procedimento?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim. Em casos de tratamento com chance significativa de comprometer a fertilidade, o paciente deve procurar um médico especialista em reprodução humana antes do início do tratamento para congelar embriões (no caso das mulheres) ou esperma (no caso dos homens). Uma vez iniciado o tratamento quimioterápico ou radioterápico torna-se mais difícil coletar gametas viáveis do paciente, o que pode comprometer as chances de sucesso fertilização artificial do embrião.

5-     Todo paciente diagnosticado com câncer pode preservar sua fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Sim, mas nem sempre é preciso. Nem todos os tratamentos contra o câncer levam à infertilidade. Idealmente o oncologista deve expor ao paciente que deseja ter filhos quais são suas chances de se tornar infértil, para que ele então possa decidir sobre a realização ou não de procedimentos de preservação da fertilidade.

6-     Com quem discutir a possibilidade de recorrer a técnicas de preservação da fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): A utilização de técnicas de preservação da fertilidade deve ser discutida com o médico responsável pelo tratamento, seja ele oncologista, radioterapeuta ou cirurgião.

7-     E quando o tratamento oncológico não pode esperar, quais as opções para o paciente?
 Dr. Ellias (Oncomed BH): Usualmente, 2 a 3 semanas é tempo suficiente para se coletar gametas viáveis do paciente. Na maioria das vezes, esse tempo de espera não compromete os resultados do tratamento oncológico. Entretanto, em alguns casos específicos, como nas leucemias, duas semanas pode ser tempo demais e nestas circunstâncias deve-se priorizar a saúde e o bem-estar do paciente, em detrimento de seu desejo de ter filhos.

8-     Depois do tratamento oncológico, quanto tempo esperar para engravidar?
Dr. Ellias (Oncomed BH): No caso das mulheres, o retorno dos ciclos menstruais regulares quase sempre traduz em retorno da fertilidade. A partir desse momento, que usualmente demanda 3 a 6 meses, a mulher pode engravidar.

9-     E a gravidez é normal como a de qualquer outra mulher que não tenha passado por tratamento oncológico?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Normalmente sim, salvo aqueles casos de mulheres submetidas à radioterapia da região pélvica. Elas devem se submeter à avaliação ginecológica antes de engravidar, uma vez que a radioterapia pode comprometer a expansibilidade uterina e gerar complicações evitáveis na gestação

10- O que todo paciente com câncer deve saber sobre a sua fertilidade?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Deve saber se o tratamento pode ou não resultar em infertilidade e, caso a resposta seja sim, deve ser orientado dos recursos disponíveis para preservação da capacidade de gerar filhos.

11- Desde o mês de abril de 2013, pacientes com diagnóstico de câncer das redes pública e particular de saúde tem a oportunidade de resguardar, gratuitamente, a sua capacidade reprodutiva, ao mesmo tempo em que poderão contribuir com pesquisas para o desenvolvimento de novas técnicas na preservação da fertilidade. Qual sua opinião sobre o assunto?
Dr. Ellias (Oncomed BH): Trata-se de avanço que impacta de forma importante no bem-estar dos pacientes que se curam do câncer. A infertilidade é motivo comum de problemas psicológicos desses pacientes e o acesso a serviços de reprodução humana pode preservar o sonho desses pacientes de constituírem suas famílias. Entretanto, o que se vê hoje é uma realidade diferente. Existem poucos serviços de reprodução humana, principalmente pelo sistema único de saúde (SUS), o que significa que a maioria dos pacientes tratados não têm ainda acesso a este tipo de tratamento. Com relação às pesquisas na área de reprodução humana, penso que o paciente deve ser bem esclarecido a respeito do assunto e assinar um termo de responsabilidade, pois trata-se de área muito polêmica da pesquisa clínica.

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